No Imperator, Kapitu e Dona Cislene evidenciam geração 'boa de palco'

Foto: Bruno Eduardo
O palco ferveu na edição de abril do Rio Novo Rock
Por Bruno Eduardo

A edição de abril do Rio Novo Rock foi um presente para quem acredita que o rock não precisa de invenções para se manter renovado e igualmente vívido em seu âmago. Para ele ser funcional em seu modelo clássico e embrionário, longe de cenografias exageradas ou inclusões sonoras modernosas, há apenas o requisito básico da banda ser boa de palco. Por sorte, isso é um dos trunfos da Kapitu, que abriu a noite no Imperator.
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Yuri Corbal da Kapitu teve seu momento 'guitar hero' no palco do Imperator
Divulgando seu último trabalho (o ótimo Vermelho), a banda não só se garantiu na qualidade individual de seus músicos, como também soube utilizar um repertório de primeira linha. Faixas vigorosas, e que ganham ainda mais força (leia-se peso) ao vivo, como "Para Nunca Te Deixar", "Se Eu Fosse Você", e principalmente, "Utopia", mostraram a brasa que é o som da Kapitu em cima de um palco. E o que falar das guitarradas assombrosas de Yuri Corbal, que distribui solos de todos os tipos e escalas - não aquele tipo virtuoso desacerbado. É solo de guitarra de verdade, que vem lá da alma. Para você ter uma ideia, é tanto feeling que o cara chega a perder a voz no início da balada (única do show) "Em Direção Ao Sol", mas logo tudo volta ao normal, com direito a mais um solo de guitarra estupendo no final da música. Mostrando a força do novo disco, a Kapitu fez o público cantar o refrão de "Mais Leve" e fez tremer as paredes da casa no conjunto de riffs "Canções Vazias", que deve sair como novo clipe do grupo, em breve. O número chegou ao fim na instigante "Não Deixe Amanhecer", do disco de estreia do quarteto, Utopia - com destaque para firmeza da dupla Rafael Marcolino (bateria) e Irlan Guimarães (baixo), que seguram a onda como poucos. Para quem ainda teima em acreditar que um bom show de rock and roll só pode ser visto em estádios e cercados de mega produção, esta apresentação de hoje acaba sendo necessária para revisão de conceitos. Porque vou te dizer, que show esse da Kapitu! Que show!
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Dona Cislene convidou Maurício Kyann da Nove Zero Nove para a festa
A Dona Cislene surge no cenário como uma representante do que muitos estão chamando de "terceira geração de Brasília". Isso ganhou mais força quando eles gravaram um video clipe com as participações de Dinho Ouro Preto e Digão, ícones dos anos oitenta e noventa (respectivamente) do rock brasiliense. Já no palco do Imperator, a banda entrou de forma meio confusa, com alguns problemas técnicos. Mas tão logo solucionados, eles botaram para quebrar em um show dinâmico e instigante. A banda apresenta uma cartilha influenciada pelo rock nacional dos anos noventa e 00', principalmente por bandas como Raimundos e O Surto. Talvez por isso, faixas como "1 em 1.000.000" e "Herói", acabam agradando de forma instantânea, pois possuem uma particularidade sonora que já se encontra fixada na pele do rock nacional. O grupo também tem poesia - "Obssessivo", por exemplo, se destaca mais pela letra. Mas uma das coisas mais legais da Dona Cislene é o jogo de vocalistas, que lembra muito o Tihuana em sua melhor fase. Isso pôde ser conferido em "Herói", onde o vocalista Bruno Alpino convidou o público a abrir uma roda. No entanto, ele foi atendido apenas na música seguinte: "A Ilha" (considerada o grande hit da banda). Valeu também assistir ao show de bateria de Paulo Sampaio, que quebrou tudo em "Continuo de Pé". Botando fogo no palco, Maurício Kyann do Nove Zero Nove, cantou "Má Influência" com o grupo, em uma performance que vai ficar marcada na história do evento. Já no fim, o rock meio surf music de "Dona Cislene", com uma referência ao grupo Charlie Brown Jr, e depois o convite do vocalista para que todos subissem no palco para terminar a festa.
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Público invade o palco do Imperator no fim do show da Dona Cislene
Após um ano e meio com 21 edições, 43 bandas, 21 DJs e um público aproximado de 10.000 pessoas, o Imperator Novo Rock se consolidou como o mais importante evento do rock independente do Rio de Janeiro. É com esse legado, que agora em 2016, o projeto se lança como Rio Novo Rock (RNR). Na nova fase, o evento expande seu conceito, que é apresentar e valorizar o trabalho autoral de novos artistas do rock, e amplia o diálogo com bandas de todo o Brasil.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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