DISCOS: Anthrax (For All Kings)

Foto: Divulgação
ANTHRAX
For All Kings
Megaforce Records; 2016
Por Lucas Scaliza


O veredito sobre For All Kings, o novo disco do Anthrax, pode ser explicado não apenas pela música que ele apresenta, mas também pela conjuntura temporal que se abateu sobre todas as bandas nascidas no underground norte-americano dos anos 80 e que precisaram, em sua maioria, mudar para continuarem existindo. O Anthrax é uma das bandas que fazem parte do Big Four e que ao lado de Metallica, Megadeth e Slayer mostraram ao mundo o que era o thrash metal. Dessas, apenas o Slayer continua comprometido com a raiz do estilo. As outras três passaram pelos anos 90 acrescentando sonoridades mais variadas aos seus discos, o que contribuiu para que aumentassem seus públicos.

Assim, considerando esse fator da passagem do tempo que trouxe novas influências para as bandas de thrash, podemos resumir o veredito dizendo que For All Kings é para o Anthrax o que Repentless (2015) é para o Slayer: um ótimo álbum para a banda, com boas ideias e um atestado de como 30 anos de atividade ainda não exauriram o poder de fogo do grupo, mas não será o melhor trabalho do grupo e nem resgata o passado de álbuns clássicos como Among The Living (1987). Aliás, voltar àquela sonoridade não está nos planos da banda – como já deixava bem claro o antecessor Worship Music (2011) – e este novo trabalho não deve ser julgado sob esta ótica. A “nova” sonoridade do Anthrax veio para ficar e é trabalhando com ela que exercem o thrash metal que marcou o nome do quinteto.

Mas se você é fã do Anthrax ou de música pesada, já sabe disso e talvez não vá ouvir as 15 faixas da versão deluxe do álbum esperando ingenuamente aquele Anthrax acelerado e cru de 30 anos atrás. O grande barato de ouvir um disco desses – assim como qualquer outro – é reparar em quais novidades eles trazem ao som que já sabemos que são capazes de fazer tão bem. Nesse departamento, não faltam motivos para você ouvir e gostar do trabalho.

You Gotta Believe” tem introdução climática, é bem pesada (guitarras em staccato e bumbo duplo) e divertidíssima. Cabe até uma excelente parte em que os guitarristas Scott Ian e Jonathan Donais (do Shadows Fall) dividem ótimos solos enquanto o baixo de Frank Bello toma a dianteira da mixagem. Em seguida, o Anthrax mostra sua força de novo: show de bumbos duplos da parte de Charlie Benante, fritação intercalada com bends agressivos de Donais e o ritmo staccato de Ian.

As faixas “For All Kings”, “Suzerain” e “Evil Twin” (esta sobre o massacre na revista francesa Charlie Hebdo cometido pelo Estado Islâmico) farão os antigos fãs suspirarem, já que são dessas composições que a banda ainda faz para dizer que o thrash ainda vive e vai muito bem (mesmo que misturado a outras influências). A força de “All of Them Thieves” também é impressionante, principalmente quando separamos o trabalho de Ian na pesada guitarra base e a bateria de Benante. E para aqueles que tem saudade dos anos 80 há “This Battle Choose Us”, combinando riffs musculosos com ritmo divertido, e a aceleradíssima “Zero Tolerance”. A ao vivo “Fight ‘em Till You Can’t” (do álbum de 2011) é um dos quatro bônus e uma das pauladas mais dignas de Among The Living que o Anthrax já fez, tal é a intensidade da faixa.

Monster At The End” é mais heavy metal e tem um refrão bem acessível que permite a Joey Belladonna exercer seu vocal alto e seu estilo Ronnie James Dio de cantar, um estilo que, aliás, vai ser exercitado quase que durante todo o disco. “Breathing Lightning” tem uma introdução bastante bonita, em que o grupo demonstra um poder harmônico muito bom. E a faixa realmente alterna entre a beleza harmônica e os riffs metaleiros mais comuns e divertidos que podemos encontrar. Belladonna realmente está muito confortável trazendo toneladas de melodias para o Anthrax.

O quinteto começou a compor material novo em 2012 e só entrou em estúdio com o produtor Jay Ruston em dezembro de 2014. Como Scott Ian observou, a banda sabia o que tinha que fazer e tinha que saber quando era hora de parar. Todo o tempo gasto juntando as ideias, dando forma às composições, gravando tudo e lidando com mudanças na formação (como a entrada de Donais no lugar de Robb Caggiano) funcionou. For All Kings é diversificado, soa poderoso e bem planejado. Uma mostra muito fortuita disso é a faixa “Blood Eagles Wings”, cuja primeira parte é lenta e arrastada, possui um refrão no estilo Alice In Chains e ainda comporta uma seção mais acelerada com um solo de guitarra tipicamente thrash. Um trabalho de desenvolvimento inspirado para ninguém colocar defeito. O riffs e o baixo de Frank ao longo dos cinco minutos de “Defend Avenge” fazem qualquer fã do Anthrax salivar pelos shows, já que é uma das músicas com maior potencial para bater cabeça.

O grande mérito de For All Kings é conseguir unir o thrash ao heavy metal moderno com grandiosos refrãos e não soar forçado em nenhum deles. A banda já teve diversos vocalistas e se Joey Belladonna não é o seu favorito é bem possível que isso estrague um pouco de sua experiência com o álbum. Se você não tem problemas com o vocalista, então 2016 está começando pesado, denso, divertido e com um ótimo exemplo de metal que vale a pena ser ouvido.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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