DISCOS: SLAYER (REPENTLESS)

SLAYER

Repentless

Nuclear Blast; 2015

Por Lucas Scaliza


Qual é o disco do Slayer que vem a sua mente quando a banda é citada? Reign of Blood, com certeza. O álbum é um top of mind do thrash metal mundial, e nada mudará isso. Mas aqueles dias de 1986, em que o álbum foi lançado e parecia violento, pesado e inovador já é história. 

Já fazem seis anos desde que o Slayer mostrou o seu último - e bom - disco, World Painted Blood, e a expectativa por um novo trabalho de inéditas era grande. Ainda mais porque Repentless marca a discografia da banda por ser o primeiro registro sem o guitarrista Jeff Hanneman, falecido em 2013. Ele foi substituído por Gary Holt, do Exodus. Já o monstro das baquetas, Dave Lombardo, deu lugar a Paul Bostaph - um velho conhecido da banda.

Pelo que se mostra neste novo trabalho, a banda de Tom Araya e Kerry King ainda tem muita coisa para apresentar e não dão indícios de que este será um disco de encerramento - como a banda chegou a dizer em 2008. Mesmo assim, é sempre bom constar que estamos presenciando a primeira geração do thrash chegar a uma idade considerável, e o caso de Lemmy Kilmister liga um sinal de alerta para a turma veterana que roda o mundo destilando peso. Seja como for, Repentless precisa ter um sucessor. Ele é forte, pesadão e tem uma capa profana que de forma alguma anuncia o final de um grupo que criou um estilo de metal junto do Metallica, do Anthrax e do Megadeth.

Repentless” é a faixa previsível e acelerada de sempre, com uma boa parte melódica. O nível extremo de palhetada dá as caras em “Take Control”, com o característico zumbido belzebuíno dos pedais de distorção. “Vices”, cuja mixagem está bem seca, demonstra o poderio de Bostaph para arranjar. “Cast The First Stone” é o Slayer criando uma atmosfera 'metaleira' das boas antes de despejar riffs e porradas nervosas feito um boxeador. “When The Stillness Comes” é a faixa lenta do álbum que muitos fãs gostam de criticar, mas é preciso ver além do óbvio: ela permite arranjos mais sombrios e o andamento lento soa ameaçador e sorrateiro, permitindo que a faixa seja menos linear que as demais do álbum. Além disso, é Kerry King tocando as partes mais melódicas e trabalhadas, uma função que anteriormente foi feita por Hanneman, deixando só o peso para King. “Chasing Death” pode ser até uma das mais lineares aqui, mas ficou boa. “You Against You” é a faixa com as loucuras de que King gosta, com uma guitarra cheia de desvios e de efeitos de expressão que distorcem ainda mais as notas.

Diferente do Lamb of God - que tem um approach mais moderno do metal -, o Slayer sempre optou por se manter bastante ligado às raízes do estilo, e Araya, apesar da raiva e da performance toda ao vivo, sabe cantar rasgado e de forma bem crua, mas sem precisar distorcer a voz ou usar vocais guturais. Sua voz continua clara como sempre foi para todas as letras violentas que canta, o que significa que ouvimos perfeitamente e sem sombra de dúvida os palavrões, críticas e blasfêmias que fazem parte das composições da banda.

Piano Wire” e “Atrocity Vendor” colocam uma secura quase punk no metal do Slayer, faixas perfeitas para uma execução ao vivo direta e cheia de energia. E antes que os riffs supergraves de “Pride In Prejudice” dominem a faixa, é Bostaph quem brilha mais uma vez. A forma como a bateria improvisa fraseados neste e em outras faixas constitui vários dos melhores momentos do álbum.

Se com Hanneman a gente já esperava um típico Slayer em ação, sem ele ficou improvável que a banda traria alguma diferença estilística mais marcante. O trabalho poderia ser melhorado em vários aspectos, sobretudo na produção, que parece um pouco crua demais, como se a mixagem final tivesse sido apressada e um pouco descuidada. Com tudo, o efeito final é mais cru, e ressalta o peso e o jeitão old school da banda.

Uma das melhores coisas de Repentless é sua capa: no primeiro plano, o rosto de um Jesus Cristo derretendo em lava e enxofre. A seu lado, um demônio caçando outro demônio. Atrás dele, notamos um pentagrama invertido. Um homem crucificado à esquerda, uma cruz invertida à direita. O criador dessa capa é o brasileiro Marcelo Vasco, fã do Slayer. Ele é experimentado nas artes metaleiras e já fez capas para discos do Dimmu Borgir, Obituary, Cavalera Conspiracy, Dark Funeral, Soulfly, Machine Head, entre outras.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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