DISCOS: IRON MAIDEN (THE BOOK OF SOULS)

Iron Maiden

The Book Of Souls
⭐⭐ 5/5
Por  Bruno Eduardo 

 
The Book Of Souls não está relegado apenas ao título de "disco mais longo da história do Iron Maiden". O álbum pode ser visto de duas formas distintas, porém, ambas desaguam na mais pura e límpida fonte do que de melhor existe dentro do heavy metal. Para os fãs antigos, ele aparece como um resgate saudosista - nada que a banda não tenha feito um dia, é verdade, mas que remete a muitos flashes dentro de sua longa discografia. Já para os fãs mais jovens, The Book Of Souls é ainda mais importante. Ele pode ser considerado uma inserção histórica para a nova geração. Parece um exagero, mas não é. 

Pegando apenas o rock como referência, podemos afirmar que o Iron Maiden é a banda veterana em atividade que possui o público com a menor média de idade dos novos tempos. E se você acha que isso serve apenas como uma simples estatística, está enganado. Eles sabem trabalhar isso como poucos. Tanto que o súbito interesse do grupo pelos games não foi à toa. De acordo com Dickinson, eles procuram entender o mercado em que estão inseridos, e tentam sempre se antecipar aos fatos. "Os garotos de hoje em dia passam noites inteiras jogando videogame, e não podem perder uma hora ouvindo um bom disco?", questiona o vocalista. O fato é que nada disso faria tanto sentido se sonoramente as coisas não funcionassem. Mas quando você ouve "Speed Of Light", que é sem sombra de dúvidas, o melhor single lançado pela Donzela desde "The Wicker Man", você tem a certeza que esta é realmente aquela banda que você aprendeu a amar - ou respeitar - nos idos dos anos oitenta.  

Isso fica provado logo no início do disco com "If Eternity Should Fail", que reúne em 'apenas' oito minutos todos os ingredientes que fizeram o Iron Maiden se tornar um dos mais importantes grupos da história. Está tudo lá: as dobradas de guitarras, o baixo cavalgado de Harris, os interlúdios bem tramados entre um solo e outro, e uma narração sinistra no final. O fato de ter várias canções longas já daria ao álbum um tom épico, mas TBOS vai além. A epopeia divina que leva o nome de "The Red And The Black", por exemplo, é daquelas canções credenciadas a se tornar um clássico. Além de possuir a levada característica do grupo, a música ganha um upgrade magistral de seis minutos ininterruptos de viagem instrumental - com direito a várias mudanças de andamento, teclados preeminentes e um coro vocal para estádios (ôo-ôo).
 
 
Agora, como falar de Book Of Souls sem ressaltar a desenvoltura de Bruce Dickinson? Ainda mais sabendo de tudo o que o cara passou nessa fase recuperação do câncer. A atuação dele em faixas como "The Great Unknown" e "When The River Runs Deep", comprova que a voz continua afiada - e que segue voando alto em notas de raro alcance. Mesmo que o disco tenha sido gravado antes dele apresentar problemas de saúde, é sempre bom lembrar que o mesmo bate na porta dos sessenta anos de idade. Mas isso parece não fazer diferença quando ouvimos a sublime cantoria de "The Man Of Sorrows" - que é guiada também por um solo de guitarra estupendo e cheio de reverb.

Por se tratar de um álbum duplo - o primeiro da carreira -, a primeira parte chega ao fim na faixa-título (que pode ser considerada uma das melhores). Já o segundo CD abre com a empolgante "Death Or Glory", que tem pinta de segundo single do disco - curta e com refrão fortíssimo, ela ganha forma na bateria de Nicko McBrain. Outra que também não se alonga muito é a aberta - em acordes e melodia - "Tears Of A Clown". Há ainda um autoplágio em "Shadows Of the Valley", com introdução chupada do hit "Wasted Years" (do álbum Somewhere In Time, lançado em 1986). Mas o melhor de The Book Of Souls fica mesmo para a enorme "Empire Of The Clouds". A abertura é orquestral - com direito a piano de calda e teclados em som de violino. Nessa música, o baixo de Harris, famoso pelo som galopante, canta em notas suaves. A faixa cresce de forma gradativa até se tornar um prog dos bons, que evolui de forma robusta e chega ao ápice nos cinco minutos finais - com direito a inserção de teclados orientais e pianos à la ELP.

Evidente que The Book Of Souls nunca vai fazer parte do prisma consagrado que estão inclusos discos como The Number Of The Beast, Piece Of Mind e Powerslave. Talvez esteja abaixo até da fase secundária do grupo, que brilhou no magnífico Seventh Son Of A Seventh Son. Mas desde que essa formação atual se consolidou em 2000, quando lançou o excelente Brave New World, esse é certamente o trabalho que mais tem a dizer aos novos e velhos fãs da donzela, e por isso mesmo, se faz tão fundamental nos dias de hoje. Up The Irons!

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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