Em 1992, o Rage Against The Machine ateou fogo no rock e na bandeira americana

Foto: Rage Against The Machine / RATM
O lendário disco de estreia do Rage Against The Machine
Por Bruno Eduardo

Amotinador.  Em uma época que o rock fervilhava em Seattle, o quarteto liderado por Zack De La Rocha e Tom Morello decidiu atear fogo na bandeira americana - literalmente. O Rage Against The Machine foi uma das primeiras bandas não-punk a encarnar de forma honesta, o contexto de protesto contra um mastodôntico imperialismo que assolava a América. Esse roteiro esquerdista, que embora pareça datado nos dias de hoje, foi pontual em um taciturno período cultural-emergente. Depois do ataque punk rock, houve um momento de silêncio - que culminou no crescimento passivo de um mainstream modelado por empresários e grandes agências. Talvez por isso, a importância dos anos noventa para o rock não se resume à arte em si, lógico que não - a década de setenta já tinha feito essa parte. Foi muito mais uma questão juvenil, de auto-afirmação, de atitude mesmo.   

Diferentemente da maioria das bandas que explodiram no início dos anos noventa, o RATM não batia cabeça há tanto tempo. O grupo foi formado exatamente no ano, considerado por muitos, como o mais significativo da década: o ano de 1991 - recheado de discos impactantes, e transbordado por uma transpiração roqueira que voltava a se instalar no país. A fitinha demo desse álbum que completa duas décadas, vendeu cinco mil cópias, e reza a lenda que o dinheiro arrecadado foi doado para o fã-clube da banda. A Epic (gravadora) não pestanejou e assinou logo com os caras, que temerosos por censura, só fizeram uma exigência: liberdade. "Dissemos a eles que não seríamos um problema, desde que tivéssemos liberdade para criar." -  afirmou o guitarrista Tom Morello.

Menos de uma década depois, a importância de Rage Against The Machine (o disco) foi constatada na cartilha pesada de bandas como o System Of A Down. Poucos discos na história do rock mundial, conseguem retratar de forma tão efetiva - e corajosa - o direito de opinião. O discurso claro e veemente funciona como uma devastadora e eficaz repressão ao governo. E o pior de tudo - ou melhor: ele convence!  Lógico, nada disso seria de fácil aceitação, e/ou não tomaria proporções tão significativas, se o som não andasse em sintonia equivalente. Mas é um disco é pulsante!  

Evidente que o discurso adotado pela banda em Rage Against The Machine não foi muito bem visto pelo governo americano. Zack De La Rocha fazia de seus shows um verdadeiro palanque, e de forma quase que messiânica, liderava uma molecada sedenta por mudança. Ele não era um cantor (assim como Chris Cornell, por exemplo), mas era um intérprete colossal – um dos maiores intérpretes da história do rock, diga-se de passagem. Conservadores afirmavam que o disco incentivava a violência, o que fez a banda ser proibida de se apresentar em vários estados do país, e como dizem por aí que tudo proibido é mais gostoso, tal opressão só fez crescer a popularidade do grupo. 

“Ao invés de ficar obsoleto, eu esquento minhas mãos nas chamas da bandeira. Queime, queime, sim, vá e comece a incendiar”.  Esse é um trecho da faixa de abertura, “Bombtrack”, seguida do hino da banda “Killing In The Name”, que possui um riff para procissões à guerra. 

Além do som, o Rage Against the Machine sempre utilizou muito bem a imagem. A capa do disco traz uma foto vencedora do prêmio Pulitzer de 1963, onde um monge ateia fogo no próprio corpo em forma de protesto a um movimento anti-budista, ocorrido no sul do Vietnã. Além disso, os vídeos da banda eram recheados de mensagens protestantes, com frases em legenda, quase(?) subliminares, e agitação “on stage”.  

O disco Rage Against The Machine vendeu cerca de 4 milhões de cópias e rendeu cinco hits essenciais para o rock: "Killing In The Name", "Know Your Enemy", "Freedom", "Bombtrack" e "Bullet in The Head". O efeito de seu primeiro trabalho foi tão impetuoso, que somente quatro anos depois, o Rage Against The Machine voltou a gravar um novo álbum, partindo para um período de maiores experimentações no também excelente, Evil Empire de 1996 - com mais destaque para os efeitos guitarrísticos de Tom Morello. Porém, a ferida causada pela banda em 1992, é a que mantém cicatriz intacta nos dias de hoje.

RAGE AGAINST THE MACHINE, BOX SET 20TH ANNIVERSARY:

Para comemorar o aniversário de vinte anos desse disco, foi lançado nas lojas um BOX com  LP, CD's, DVD's, e novos encartes escritos por Chuck D, do Public Enemy.

CD 1 - Inclui o álbum original, remasterizado, com três faixas bônus de b-sides da época.

CD 2 - Fita demo original do álbum. Gravado em 1991, a k-7 era vendida por 5 dólares nos shows da banda.

DVD 1 - Show histórico da banda no Finsbury Park, em junho de 2010. Também estão incluídos alguns vídeos da banda raros.

DVD 2 - Mantém foco nas performances da época (1991-1994), como também imagens do primeiro show da banda.

Rage Against the Machine box 20th traz também um LP de vinil, um pôster frente e verso e um livreto de 40 páginas.


Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

1 Comentários

  1. Excelente matéria amigo! Eu tenho os três álbuns de estúdio e escuto até hoje! A primeira vez que ouvi essa banda eu pirei.

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