DISCOS: SLEATER-KINNEY (NO CITIES TO LOVE)

SLEATER-KINNEY

No Cities To Love

Sub Pop; 2015

Por Luciano Cirne

Curto e grosso: 2015 está só começando, mas desde já, temos um seríssimo candidato a melhor CD do ano. Certamente uma das bandas mais injustiçadas e subestimadas de todos os tempos, o Sleater-Kinney paralisou suas atividades em 2006, um ano após o maravilhoso álbum The Woods - o primeiro lançado pela Sub Pop. Desde então, uma das vocalistas (e também guitarristas - a banda é notória pela ausência do baixo), a bela ruiva Corin Tucker gravou interessantes discos solo com uma pegada mais voltada para o folk mas que, por azar ou ignorância, também passaram em brancas nuvens; enquanto a outra vocalista e guitarrista Carrie Brownstein, a princípio tentou seguir em frente com a baterista Janet Weiss (sem dúvida a melhor baterista do sexo feminino na música atual) montando a banda Wild Flag que lançou um belo disco em 2011 mas que (advinhem só?) foi solenemente ignorado, levando-a a arriscar-se na televisão como atriz e roteirista, onde conseguiu resultados muito superiores (sua série humorística "Portlandia", inédita no Brasil, está atualmente na quarta temporada nos EUA, onde é sucesso de público e crítica). 

Contudo, mesmo com tantos percalços e com tantas bolas na trave, o prazer de tocar juntas acabou falando mais alto, o que fez elas finalmente resolverem se reunir para recomeçar de onde pararam (elas nunca terminaram oficialmente o conjunto; desde o primeiro instante deixaram claro que estavam apenas "dando um tempo") e agora, finalmente, um novo CD vê a luz do dia.

Que impressionante é No Cities To Love! Muito mais enérgico (com exceção da última faixa "Fade", todas as demais músicas são rápidas e nervosas), urgente (nenhuma canção chega a ter 4 minutos de duração e o disco em si mal chega a casa dos 30 minutos) e alto astral que o bonito mas melancólico trabalho anterior The Woods, o que sai das caixas de som é típico Sleater-Kinney: As melodias sincopadas, a sonoridade característica mesclando surf music, punk rock e new wave com letras engajadas e os arranjos onde as duas guitarras se contrapõem para preencher o vácuo deixado pela ausência do baixo (acreditem, mal dá para sentir a falta do mesmo de tão bem boladas que as linhas de guitarra são), que sempre foram marca registrada delas ainda estão lá, firmes e fortes em músicas maravilhosas como "Hey Darling", "Price Tag", "A New Wave" e a faixa título. 

Em um tempo onde atitude, autenticidade e criatividade parecem cada vez mais artigos escassos, a volta de uma banda como o Sleater-Kinney é uma alegria inenarrável. Se você nunca ouviu, "No Cities to Love" é um excelente cartão de visitas, e se você já conhece, não tem o que temer. Sejam bem-vindas de volta, meninas, o rock agradece! Ah, e melhor sorte de agora em diante, vocês merecem!

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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