Ratos de Porão + Dead Fish + Test [Circo Voador]

Fotos: Bruno Eduardo

Por Bruno Eduardo


A festinha particular de cinco anos da A Grande Roubadas Produções trouxe a dupla Ratos de Porão e Dead Fish ao Circo Voador neste sábado. 


Antes porém, o duo de grindcore paulistano, Test, atraiu a atenção do público com uma destacada apresentação. Formado por João Kombi e Thiago Barata, o Test reproduz o mesmo modelo de palco que consagrou o The White Stripes - um baterista e um vocalista/guitarrista. A semelhança porém, termina por aí. O som dos caras é datado em riffs de death metal tradicional com ritmos sincopados - o que faz lembrar um pouco o Fantômas - projeto de Mike Patton com Dave Lombardo. Apresentando músicas dos elogiados "Carne Humana" (2011) e Árabe Macabre, eles entorpeceram os ouvidos dos presentes com altos decibéis. Para quem possa não saber, o Test ficou conhecido por tocar na porta de grandes shows e viver por aí com os equipamentos dentro de uma Kombi - fazendo pit stops barulhentos. Enquanto a Kombi não estaciona na esquina da sua rua, fique atento ao split Otomanos. O disco é um lançamento conjunto do Test com o D.E.R. - a outra banda do excelente baterista Thiago Barata.




Impossível ver o Dead Fish no palco do Circo Voador sem vir a tona lembranças do show que deu origem ao DVD de 20 anos do grupo. Com um repertório na unha, o grupo - mais uma vez - incendiou a lona do Circo Voador. 




Iniciando com duas músicas do emblemático Zero e Um ("Siga" e "Sonhos Colonizados"), o Dead Fish meteu o pé na porta e mostrou que ainda é uma das bandas mais legais para se ver ao vivo. Com recorde de saltos na noite, o carismático Rodrigo Lima era o maior exemplo da sintonia entre público-banda. "Vamos lançar o nosso disco em breve. Primeiro temos que resolver uns problemas financeiros", disse - fazendo referência ao recorde de arrecadação no crowdfunding do novo álbum. Deste, eles anunciaram "Hit Veraneio" - hardcore típico, ao estilo do grupo - e contaram ainda com a presença de Reynaldo Cruz, do Plastic Fire, na música "Tão Iguais" [foto ao lado]. Porém, os grandes momentos da noite ficaram por conta da cantoria uníssona de "Mulheres Negras" e no míssel sonoro - com a maior roda punk da noite - "Molotov".




Foi com "Conflito Violento" - do ótimo Século Sinistro - que o Ratos de Porão iniciou uma de suas melhores apresentações no Circo Voador. Tudo bem, o show de hoje não é tão simbólico quanto aquele de 2012 - onde a banda comemorou 30 anos de carreira - e muito menos fatídico como o de 1996. Mesmo assim, não deixa de ser emblemático.

"Não vamos encher o saco de vocês com músicas novas" - afirmou João Gordo logo após a terceira música. O grupo tocaria quatro, ao todo. Levando em consideração que este seria o show de lançamento do novo disco, a escolha em não tocar músicas novas contrariou alguns fãs. Mas era dia de festa! E era um show em homenagem ao humorista Fausto Fanti - falecido esta semana. "Essa música vai homenagem ao amigo que se foi. Um cara muito legal. O show é para ele!", disse Gordo, antes do grupo tocar "Morrer".  Já "Grande Bosta" foi dedicada aos que choraram com a derrota do Brasil para a Alemanha na copa do mundo 2014. O palco, que  foi invadido durante toda apresentação - fato habitual nos shows de hardcore/punk no Circo Voador - teve danças de todos os tipos, saltos ornamentais, e momento(s) único(s) de topless. 

Hinos como "Aids, Pop, Repressão", "Beber até Morrer", e a derradeira "Crise Geral", serviram apenas para evidenciar a relevância do grupo no cenário. Mesmo sendo um dos primeiros do gênero no Brasil a se aventurar no mercado estrangeiro, a importância do Ratos de Porão não é de cunho musical. Ela vai além dos acordes de Jão ou da berraria de Gordo. A obra da banda resgata uma época perdida, em que as bandas se dedicavam à conquista da liberdade de expressão - fazendo protesto honesto, audaz e inteligente. Então não é exagero afirmar que um show do grupo nos dias de hoje - em momento tão difuso entre democracia e limite de direitos - represente o lado genuíno do rock nacional. Sim, foi uma noite histórica!  Mas o que você esperava de uma festinha de aniversário da A Grande Roubada Produções?

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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