DISCOS ODIADOS QUE AMAMOS: METALLICA (ST. ANGER)

Foto: Metallica / St. Anger

Por Ricardo CachorrãoFlávio


AME-O OU DEIXE-O

O que será que acontece com St. Anger, o álbum que se ama odiar de um dos pilares do thrash metal?

Acredito que precisamos voltar no tempo, e, daí, começar a entender a situação! Aqueles quatro moleques que assombraram o mundo a partir de 1981, com riffs cortantes, viscerais, vocais rasgados e velocidade acima da média, cresceram, amadureceram, ficaram multimilionários e se tornaram, de fato, a maior banda de rock do mundo por um determinado tempo! Nem Rolling Stones, nem U2, nem ninguém mais garantia tanta vendagem de discos e shows na áurea fase do ‘Black Album’, como o Metallica. Estamos falando de 1991.

Com esse primeiro dado, podemos dividir o Metallica (e seu público, principalmente) em “Antes de Black Album” e “Depois de Black Album”.

Os fãs originais, os que acompanhavam James, Lars, Kirk e Cliff Burton (depois Jason Newsted) desde os bons tempos de “Seek & Destroy”, “No Remorse” e “Metal Militia”, já haviam começado a torcer o nariz com “... and Justice For All”, e suas faixas gigantes, contando, ainda, com a semi-baladaOne” (não que isso fosse novidade, já em Ride the Ligtning, tínhamos a até hoje ovacionada, e bela, “Fade to Black”. Mas fã adora reclamar e se achar ‘dono’ da porra toda). E com “Black Album” a coisa ficou mais séria! Se tínhamos uma porrada do quilate de “Sad But True”, no mesmo disco era possível encontrar “The Unforgiven” e “Nothing Else Matters”!!!! E isso era inadmissível pro cabeludo rebeldinho que acompanhava a banda desde os primórdios! Tocar em rádio, MTV, virar arroz de festa, é crime inafiançável e imperdoável! Pronto, o Metallica era a banda traidora que se deve odiar acima de todas as outras coisas!

Nada disso pareceu ter abalado os caras, que ficaram ainda mais ricos, mais loucos e com muito mais fãs, diferentes dos sujinhos antigos, é verdade, esses mais cheirosos e bem nascidos! E a banda parece ter gostado de ficar em evidência, grava dois discos ao mesmo tempo e os lança um seguidinho do outro: Load e Reload. Se existia alguma esperança dos antigos de ter a velha banda de volta, morreu de vez! E os novos fãs, aumentaram ainda mais! Discos que nem são ruins, tem muito barulho (bem tocado) nas faixas obscuras, mas o que fica mesmo na história são os quilos de hits radiofônicos.

Tudo parecendo ir de vento e popa, dinheiro entrando pra todo lado, a loucura aumentando e a merda começando a feder: James se afunda na bebida, Jason se cansa de ser o empregadinho mal tratado e puxa o carro e Lars vai mexer em vespeiro, arruma briga com o Napster! Banda em crise geral, com muitos apostando no fim! Tudo isso pode ser visto em detalhes no documentário “Some Kind of Monster”, que eu recomendo!

No meio do furacão, com James numa clínica de reabilitação, testes para novo baixista, e processo correndo solto com referência ao compartilhamento de arquivos na internet, a banda decide começar trabalhar num novo álbum, com o produtor Bob Rock cuidando do baixo enquanto não encontram alguém.

O fato agora é, enquanto banda de rock, já alcançaram tudo o que podiam! Chegaram ao topo, discos de ouro, de platina, de diamante, turnês gigantescas, estrutura monstruosa e milhões e mais milhões de dólares nas contas de cada um, que tal agora fazer o que gostam? E aí chega o que muitos chamam de “volta às raízes”! É onde entra meu objeto de estudo, “St. Anger”, o álbum que se ama odiar!

Opa, mas, peraí! Se os fãs antigos viraram a cara por causa do som mais ‘soft’, e o público novo (e muito maior), existe justamente por causa disso, como explicar essa mudança? Mas, chegamos num ponto em que, quem disse que o Metallica precisa explicar alguma coisa?

Indo ao que interessa, James volta recuperado, e mais raivoso que nunca! “St. Anger” é isso mesmo, raiva, em estado bruto! Juntando-se a Lars, Kirk e Bob Rock, despejaram um punhado de canções cheias de rancor e com violência que não era sentida no som da banda há tempos!

(O baixista Robert Trujillo acabou contratado após a gravação do álbum, e chegou a participar de todo o DVD Bônus encartado no CD, com a banda numa garagem tocando todo o novo álbum, sacada genial).

A dita ‘volta às raízes’ mencionada por muitos, na verdade, foi bem mais que isso, existiu um olho da banda, e do produtor, no futuro, o som não é aquele thrash das antigas, as guitarras são mais sujas, tem forte pegada hardcore, influência assumida da banda desde os primórdios, mas também mostrando um “que” de nu-metal, em evidência na época, talvez visando a molecada mais nova, afinal, renovar e ampliar o público sempre é bom, e faz bem pros bolsos.

A porradaria tem início com a visceral “Frantic” e o que vem a seguir pode desagradar a maioria, mas é um disco que me faz a cabeça, sem frescuras, curto e grosso, porrada do início ao fim. Sim, concordo com quem diz que a bateria de Lars parece um conjunto de panelas sendo socadas e poderia ter um som melhor, mas, no geral, a crueza desse álbum é algo que deixou o tiozinho aqui de boca aberta. Valeu esperar seis anos após “Reload”, e mais ainda imaginar que “St. Anger” foi um excelente ensaio do que viria a ser “Death Magnetic”, o álbum posterior.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

5 Comentários

  1. Parabéns cara, bela análise! Sou um dos que apreciam o St. Anger, não é nem de perto meu disco favorito do Metallica (Master Of Puppets para mim é tudo), mas acredito que realmente representa muito o que a banda passava naquele momento, para ter uma ideia, como você mesmo apontou, só assistindo o Some Kind of Monster a pessoa terá uma leve noção do clima que pairava onde eles estavam...

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  2. Puta que pariu!!! Eu quero morar nesse post, você é foda demais cara, é exatamente o que eu tento dizer pra tudo que é zé bosta que sai falando merda querendo entender de música por aí. Vou compartilhar com todo mundo isso aqui. Parabéns mesmo, de verdade, mandou muito!!

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    1. Apesar do exagero quanto à minha pessoa... rs

      Valeu pela leitura e comentário, bro!

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  3. análise foda! ST. Anger será melhor CD que comprei, pra mim não existe AB e DB, qualquer disco sempre será Metallica e pronto.

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