SHOWS: BLACK SABBATH (Apoteose, RJ)

Foto: Bruno Eduardo
O melhor show da vida de 40 mil pessoas no Rio


Por Bruno Eduardo

O melhor show da vida de aproximadamente 40 mil pessoas! Não poderia ser diferente, afinal, estavam ali, juntos pela primeira vez, a linha de frente original de uma das mais importantes bandas de todos os tempos: o Black Sabbath. Geezer Butler, Tony Iommi e Ozzy Osbourne precisaram de apenas duas horas para enfim, pagar uma dívida de quatro décadas junto ao público carioca. Só o fato de vê-los lado a lado, executando todas aquelas canções emblemáticas já seria suficiente para compensar o esforço dos fãs - que enfrentaram uma fila gigantesca na entrada da Apoteose. Mesmo com a ausência de Bill Ward, o que se veria ali, em cima do palco, seria digno de uma moldura histórica; algo que representa várias gerações - de fãs e não fãs.

Para quem possa não saber, no início da carreira, coube a Ozzy o papel de mistificar a imagem do grupo. No entanto, sonoramente, o Sabbath sempre foi estimulado pela guitarra de Iommi - considerado o principal arquiteto do heavy metal. E foi ele - junto com o excepcional Tomy Clufetos - o grande destaque da noite. Simplificando a química, o guitarrista difundiu quase todos os tipos de riffs e afinações, que acabaram mais tarde, sendo influência para todo um gênero. Iommi, que também quase foi o responsável pelo cancelamento da turnê - tudo por conta de uma luta contra o câncer – hoje, distribui sorrisos, e uma pegada dos velhos tempos. 

Como já esperado, não houve qualquer alteração no setlist, e a ordem das músicas foi a mesma do show anterior - em São Paulo. Ao som de sirenes, o Sabbath começou a disputada apresentação com "War Pigs", seguida de "Into The Void", e duas do excepcional Vol.4 (lançado em 1972) - "Under The Sun", e uma lenta e arrastada versão de "Snowblind". A execução da simbólica "Black Sabbath" - com direito à trovoadas, sino batendo, e uma entrada meio fora de tempo de Iommi - marcou o primeiro ponto alto da histórica noite. Em velocidade superior à versão original, "Behind the Wall Of Sleep" exigiu habilidade de Iommi para manter o ritmo, e uma afinação bem abaixo. 

O grupo praticamente ignorou o álbum "Sabbath Bloody Sabbath", já o disco de estreia foi um dos mais lembrados. A versão de "N.I.B.", contou com o solo consagrado (com direito à efeito de wah-wah) de Geezer Buttler, e marcou um dos momentos mais divertidos do show: Ozzy apareceu com um morcego de borracha na boca - mostrando que a idade não tirou o bom humor do vocalista. Correndo de um lado para o outro, como já é característico de suas performances, "Tio Ozzy" mantém uma inabalável sinergia com os fãs. Pede mãos levantadas, palmas, e puxa coro. Em certo momento, parece um show solo do cantor - que já esteve no Brasil inúmeras vezes.

Ao todo, foram oito discos com formação clássica do grupo, na primeira fase. Mas o Black Sabbath não é só passado! A banda tocou três faixas do seu novo disco, 13 - que alcançou o primeiro lugar em 51 países -, com destaque para a excelente viagem de 8 minutos em "End Of The Beginning".

Canções como "Fairies Wear Boots" eram consideradas pérolas básicas da discografia Sabbathica. O mesmo não se pode dizer de "Dirty Women" - tirada da fase menos inspirada do quarteto. O fato, é que haviam outras músicas dessa mesma época, mais óbvias - principalmente do disco "Never Say Die" (como a faixa-título ou a ótima "Hard Road"). Mesmo assim, a canção foi capaz de empolgar algumas meninas, que entraram no ritmo, e ficaram apenas de sutiã.

Para muitos, o grande destaque do show foi assistir Tomy Clufetos na instrumental "Ratt Salad" (do disco Paranoid), com um sensacional solo de bateria - que culminou no riff magistral de "Iron Man".

Fechando a primeira parte da apresentação, "Children Of The Grave" fez a arquibancada balançar, no pula-pula orquestrado por Ozzy. Na volta, a mesma pegadinha de São Paulo - com a puxada de "Sabbath Bloody Sabbath" -, e o golpe final com o maior hit do grupo, "Paranoid" - encerrando aquele, que, para muitos, foi mais do que um show de rock. 

Na verdade, o que ocorreu na Praça da Apoteose foi um "batismo". Dali, saíram 40 mil roqueiros com a certeza e a paz, de terem finalmente conseguido a benção. E a última frase de Ozzy - repetida diversas vezes durante o show - caiu como água benta em suas almas: "Deus abençoe vocês!"

Os Deuses do rock já o fizeram. Exatamente na noite de 13 de outubro. 

Foto: Bruno Eduardo
 Foto: Bruno Eduardo

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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