SWU 2011: Faith No More faz o melhor show do festival

Mike Patton liderou o Faith No More no melhor show do SWU

Por Bruno Eduardo


Vinte anos. Há exatos vinte anos, o Faith No More assombrou o Rock in Rio 2 em um show improvável. Na época, eles eram pouco conhecidos. Com o menor cachê do festival, o FNM desbancou o grande nome do evento, que tocou na mesma noite (Guns N'Roses). De lá para cá, muita coisa mudou. A banda virou moda no Brasil, e saiu de moda na mesma velocidade. Tudo isso porque eles gostavam de percorrer caminhos improváveis, que beiravam o duvidoso, e, que culminou em trabalhos completamente esquizofrênicos para época - hoje, tudo isso soa fácil. Mesmo assim, o grupo foi mantendo um público fidelíssimo, mas não segurou a onda de seus integrantes ao anunciar o fim em 1998. Curiosamente, nesses dez anos de hiato, o respeito pelo grupo multiplicou. E lógico, a volta seria inevitável. 


Com o retorno oficializado em 2009, o Faith No More embarcou numa turnê de constatação. Constatou principalmente, que a maré contra a qual eles remavam (na época) era o caminho certo. Não fosse assim, a banda não seria headliner nos maiores festivais do mundo, incluindo o Download Festival e o Reading Festival. A turnê rodou o mundo inteiro, inclusive o Oriente Médio. No Brasil, o Faith No More nunca tinha sido figura principal nos grandes eventos na década de 90, mas chega esse ano pela segunda vez ao posto de banda principal em São Paulo - em 2009, eles fecharam o Maquinária

Não citei o Rock in Rio 2 (no início do texto) por acaso. Acho realmente que a apresentação da banda no SWU tem algo a ver com o show que transformou o FNM em "gente". O ponto principal é que o show do SWU foi surpreendente. Lógico, ele não tem o mesmo impacto da épica performance do quinteto (que ainda contava com Jim Martin) em 1991, e muito menos, a banda se encontra em uma fase tão vigorosa e sedenta. Hoje eles buscam um revival, tentando colher frutos não colhidos em uma época passada. É fato afirmar também, que artisticamente, a presença deles na praça é apenas para satisfazer fãs saudosistas. 

Já nos anos 90, não era exagero definir um show do Faith No More como uma atração improvável. Nunca se sabia o que eles tocariam, e nunca se sabia como estaria o espírito do grupo, que andava brigando. A banda não costumava manter os sucessos em seus set lists, e Patton costumava subir no palco em alguns shows com a intenção de cagar a porra toda, literalmente - Patton chegou a tomar banho de mijo na Espanha, em 1992. Mas ele também era fator principal para as mais clássicas performances do FNM em sua história.

O SWU começou dessa forma. Cacau Gomes, um educador pernambucano, aparece no palco interpretando algo que muitos não entendem. Um misto de poesia dadaísta com ironia politizada. O Faith No More, anunciado pelo próprio Cacau, abre o show com a instrumental clássica "Woodpecker From Mars", que seria um início perfeito se o teclado já não demonstrasse falhas técnicas. Só que aí surge "o cara". Patton entra em cena com um figurino de Zé Pilintra - roupa branca, chapéu, guias no pescoço e bengala. E dispara a sua voz, numa versão brega, mas muito habilidosa de Tom Jones. Diferente da última passagem do grupo pelo país - Second Coming Tour 2009 -, Patton parecia estar mais disposto. A voz, que sempre foi excepcional, voltou a se encaixar melhor na maioria das músicas, principalmente nas mais antigas - como “From Out Of Nowhere” e “ Midlife Crisis". Outro ponto a destacar, foi a evolução de Mike Bordin. O baterista que andava meio "fora-de-ritmo" em 2009, já arriscava jogadas interessantes, como em "Surprise You're Dead" e "Cuckoo For Caca". Mas a noite do SWU era do vocalista. 

Mike Patton, completamente insano, deu uma de camera-man em "The Gentle Art Of Making Enemies"; levou um tombo; desceu na galera; tomou banho de cerveja; dividiu microfone com o povo do gargarejo; e voltou ao palco para liderar um coro uníssono de "Porra, Caralho". Tudo isso em apenas seis minutos. O vocalista, que parecia possuído, ainda leu versos de um texto escrito por Cacau Gomes (de novo!?), que voltava ao palco antes da execução de "Epic". Patton ainda regeu um coral de meninas em "Just A Man", que como já é de costume, finalizou a primeira parte do show. 

No bis, uma música inédita, que parece algo meio que tirado da época de Angel Dust (1992) - embora alguns fãs digam que é um lado B de King For A Day (1995). "Digging The Grave" que não estava no set programado, e "This Guys in Love With You", finaliza o show - trazendo na memória de novo, o Rock in Rio, onde o Faith No More executou uma outra cover, também baladeira, na época "Easy", para a despedida.

Mesmo que os pedidos de "Falling To Pieces" tenham sido ignorados pela banda, o público saiu extasiado, e o Faith No More - se não fez um show tão significativo em termos musicais, como foi em 1991 - encarnou o próprio espírito. O SWU teve a honra de apresentar um sopro do que foi o banda nos anos áureos, que nada tem a ver com apresentações virtuosas ou repleta de transversões musicais. O Faith No More sempre foi uma ode à improbabilidade. Os melhores momentos do grupo foram saindo do convencional e talvez tenha sido por isso que "Easy" tenha sido a coisa mais estranha deste show.



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[Matéria publicada originalmente por Bruno Eduardo no Portal Rock Press]

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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