Após 14 anos, Faith No More volta ao Rio e ressuscita anos 90

Foto: Adriana Vieira / Portal Rock Press
Por Bruno Eduardo

Muitos esperaram mais de uma década e meia por essa oportunidade. Outros nunca tiveram nem chance. O fato é, que à frente de um público mesclado entre trintões e uma garotada esperta, o Faith No More desfilou um resumo de quase 30 anos de carreira, com fôlego juvenil e talento reciclado.

Ironicamente, foi nesta casa que o Faith No More fez o seu último show em terras brasileiras antes da separação oficial. Há 14 anos, o grupo se apresentou ao lado de Ozzy Osbourne e Paradise Lost, em um evento batizado de “Monstros do Rock”. Em situação oposta a de hoje, o público metaleiro, não engoliu (e nem entendeu) a maçaroca sonora que se tornara o som da banda – que na época tinha lançado o esquizofrênico King For A Day... Fool For A Lifetime. Depois disso o fenemê lançou mais um disco – Album of the Year (1997) – e chegou ao fim no ano seguinte. 

Curiosamente, esses 11 anos de hiato fizeram crescer um inesperado respeito pelo grupo no mundo inteiro. A banda tornou-se objeto de culto para os fãs mais jovens, que mal chegaram a assisti-los ao vivo. Certamente a onda das bandas nu-metal e a entrada feroz da internet no mainstream, contribuíram para esse ascendente interesse. 

Eram exatamente 21:30 - horário marcado para início do evento - e se via um público bem pequeno, dando a falsa impressão que a bilheteria seria um tremendo fracasso. Nesse meio tempo a banda carioca Moptop, fazia um aquecimento no som e passava quase que despercebida pelo público. Mesmo assim, a galera não vaiou os caras.

Para a surpresa de muitos, tanto imprensa quanto a própria produção, a procura de ingressos na bilheteria aumentou de forma violenta em apenas uma hora antes do Faith No More abandonar o camarim.
Uma grande cortina vermelha no fundo, já dava o tema da festa. Vestidos com um misto de gala e breguice costumeira, o grupo inicia o "culto" com tema instrumental "Midnight Cowboy", seguida do rockão clássico "From Out Of Nowhere". Nesse momento, já se notava um enorme clima de nostalgia no local.
Com um set baseado principalmente nos discos King For a Day... Fool For a Lifetime e Angel Dust, o grupo soube dosar e usar os hits de forma calculada. Com amplo domínio da língua portuguesa, Mike Patton comandou um mar de cabeças entre palavrões e juras de amor. E antes mesmo da metade do show, "Epic" foi lançada, mostrando que a banda tinha o público nas mãos. O Faith No More sempre foi uma banda que não teve rédeas. Sempre fizeram o que estavam a fim, tanto nas composições, quanto nas entrevistas e escolhas de repertório. Isso, lógico, torceu o bico de muita gente na década passada, mas hoje, tudo é engolido de forma prazerosa. O maior exemplo foram os 10 minutos de uma maçaroca experimental no fim da música "King For A Day", onde muitos pensaram ser alguma nova versão do Fantômas. E esse prazer chegou ao fim com Mike Patton fazendo o segurança de "cavalinho" no fim de "Just A Man". O primeiro bis, veia na clássica "We Care A Lot", que, aliás, foi a única música do antigo vocalista Chuck Mosely, tocada no set. Mas a maior surpresa da noite estava guardada para a volta do segundo bis. Aos gritos de "Falling To Pieces", Mike Patton mandou em bom português: "Só porque estamos no Rio, ok?" Em uma versão meio "jam sessions", com Mike Bordin assumindo o vocal após Patton esquecer a letra, a casa veio abaixo. Resumindo: o Show do Faith No More ressuscitou em uma hora e meia, quase que o espírito juvenil de uns cinco mil presentes. Afinal, o que seria os anos 90 sem esses caras?

Texto originalmente publicado no Portal Rock Press em 06/11/2009

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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