Discos: New Model Army (Winter)

Foto: Divulgação
NMA comprova mesma força criativa que o consagrou nos anos oitenta 
NEW MODEL ARMY
Winter
Attack Attack; 2016
Por Ricardo Cachorrão Flávio

Após dois anos de lançamento do bom “Between Wine and Blood”, eis que os rapazes de Bradford, Inglaterra, mostram que os 36 anos de banda não os deixaram acomodados, e chega ao mercado “Winter”, o 16º álbum de estúdio do New Model Army. Sem apelar para o jogo fácil da mesmice, sem tornar-se um cover de si próprio, como é muito comum em bandas longevas, usando, é óbvio, várias referências e influências adquiridas em toda sua existência, mas, somando a isso uma visão de futuro, é isso o que se ouve ao longo das 13 faixas de Winter.

O álbum abre com a bela “Beginning”, cuja abertura com uma guitarra suja e lenta, chega a lembrar de coisas de Neil Young. Já Justin Sullivan, 60 anos completados em abril desse ano, mantém a mesma voz grave e inconfundível, marca registrada da banda, e sua maneira de cantar remete a um mantra, que costuma hipnotizar a “the family” (os devotos fãs que acompanham fervorosamente a banda em todo o mundo, inclusive no Brasil). A longa faixa ainda encontra espaço para um bonito trabalho de piano de Dean White, e vai crescendo, com um primoroso trabalho de guitarra com viés psicodélico de Marshall Gill.

Burn the Castle” é a sequência e remete a trabalhos anteriores, lembra a época do álbum Impurity (1990), tem peso e empolga. O disco continua com a faixa título, primeira a ser divulgada com single e clipe. “Winter” tem o início clássico que todo fã de New Model Army ama, com trabalho feito com aquele velho violão e a marcação bem feita com o baixo matador do jovem Ceri Monger - que entrou na banda pouco antes de lançarem “Between Dog and Wolf”, de 2013.

Em “Part of Waters”, novamente a mescla de violão e vocal rasgado com guitarra viajando por trás, introduzindo uma batida marcial, bem conhecida do público da banda. “Eyes Get Used to the Darkness” vem na sequência e acelera a brincadeira, guitarras bem presentes e a cozinha clássica do New Model Army funcionando muito bem. Drifts” tem um início que também lembra a fase Impurity, mas o andamento da música vai se alternando e mostrando a nova banda, que mantém a sempre boa pegada de baixo e bateria, mas com destacado trabalho de teclados e guitarra.

Born Feral” é coisa séria... que canção linda! Um apanhado geral do que foi e é o New Model Army, da letra declamada às mudanças de clima, passando do acústico ao peso e retornando ao acústico, marcação monstruosa de baixo e bateria, entremeados por guitarras cortantes e climas viajantes de teclado. Sullivan e seus asseclas não brincam em serviço.

Depois da viajeira, chegamos em “Die Trying”, momento acústico clássico do New Model Army, para quem conhece bem a carreira da banda, lembra “Higher Wall”. Bela balada, com letra introspectiva de Justin Sullivan. A sequência vem com “Devil”, faixa lançada no primeiro single, junto com a faixa título, e é o que mais de diferente aparece no álbum, backing vocals não usuais para a banda, riffs diferentes do que estamos acostumados, esse é o New Model Army que não para no lugar.

Strogoula” começa viajando, até a rápida entrada da voz de Sullivan, acompanhada da marcação cerrada da bateria, num estilo um tanto tribal, que começou a se tornar normal no New Model Army a partir de quando Michael Dean assumiu as baquetas. Interessante lembrar que Dean era técnico de bateria da banda e se tornou membro por indicação de Rob Heaton, o excelente baterista anterior que estava de saída e, infelizmente, veio a falecer.

O disco se aproxima do fim, e não perde o pique, o começo de “Echo November”, lembra a pegada de “No Rest”, assim como a sequência, que vem com “Weak and Strong”. O trabalho de baixo e bateria nessas músicas é excepcional e, mesmo com Ceri Monger e Michael Dean no lugar de Stuart Morrow e Rob Heaton, tem o DNA do NMA.

Para encerrar, um hino... “After Something” é aquela canção para a “the family” cantar com isqueiros acesos em todos os shows - pois esse povo é tradicionalista, tem celular, mas assim fica mais bonito!

No geral, Justin Sullivan, Dean White, Michael Dean, Ceri Monger e Marshall Gill mostraram que o New Model Army continua em grande forma, 36 anos após seu início, e que os fãs ainda podem esperar muita água sair dessa fonte.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

5 Comentários

  1. Interessante que tenha se referido ao Impurity logo nas preliminares e que, quando descreve a "Die Trying" remeta ao Higher Wall (não exatamente de Impurity mas "tirada" das sessões de gravação desse) e, enfim, foi a primeira impressão que tive e não havia lido tal comentário qdo da divulgação da "nova faixa" nos shows já ao final do ano passado. Valeu, parabéns pelas linhas e depois tento preparar algo sobre o lançamento tbém.

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    1. Obrigado!

      E realmente senti essas referências citadas. Em geral, neste disco, vi mistura de fases, de Impurity, de Higher Wall, até mesmo de No Rest, mas, sempre com um pé no presente e um olho no futuro.

      Abraço!

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  2. é raro ouvir nma em qualquer lugar que seja. pena que não conhecia a rádio. alguma reprise?

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