Yield foi a última visita do Pearl Jam ao topo das paradas


Por Bruno Eduardo

Em seus três primeiros álbuns, o Pearl Jam passava a imagem de uma banda que parecia ter algo a provar ao mundo. Mais do que isso, eles pareciam querer conquistar o planeta com uma ideologia repleta de tirania e romantismo. Ten e Vs. eram discos com sentimento de urgência. Só que essa obstinação emergencial - quase heróica - durou pouco mais de cinco anos. Em 1996, eles já eram considerados uma mega banda e mantinham uma liderança positiva sobre seu público. Baseados em uma cartilha rock com inspiração punk mainstream, o grupo começou a se afastar de quaisquer obrigações, e, chegaram ao consenso que não deviam nada a ninguém. No momento em que entraram no estúdio para gravar seu quinto álbum, Yield, eles já não estavam mais fazendo discos para os seus fãs - eles estavam fazendo discos para si próprios.

Em uma posição completamente reversa ao público, o grupo conseguiu tornar-se democrático na hora das composições, e substituiu a raiva pela total introspecção. Eddie Vedder não era mais um jovem em busca de respostas, e sim, um senhor procurando entender as questões globais. Em 1998, Vedder começava a ocupar o posto de ídolo cult, assim como Michael Stipe (R.E.M.) e Neil Young, por exemplo . 

Yield não têm um conjunto de canções instantâneas, como podemos encontrar facilmente em Ten, Vs. e Vitalogy. Mas traz um punhado de influências, esculpidas principalmente nos anos setenta. Para tornar isso ainda mais claro, basta ouvir a melodia emprestada de "Going To California" do Led Zeppelin, no primeiro single do álbum "Given to Fly". O rock moderno também ganha espaço em "Wishlist"; e o 'noventismo' abre o disco - na ótima "Brain Of J". Yield marca também o retorno do grupo à MTV. O clipe de "Do the Evolution" - que traz uma visão pessimista ao futuro da humanidade - é a volta em grande estilo do Pearl Jam à emissora. Com rabiscos geniais de Todd McFarlane, "Do the Evolution" é considerado um marco na era dos vídeo clipes.

Embora não tenha chegado ao primeiro lugar nas paradas na primeira semana, como todos os seus antecessores, esse foi o último trabalho da banda a ultrapassar a marca de um milhão de cópias vendidas - ele vendeu quase dois milhões ao todo. Yield estreou em segundo lugar, mas não chegou perto dos já citados Ten, Vs e Vitalogy - todos multiplatinados. Mesmo com o afastamento dos fãs casuais, Yield foi o último álbum do Pearl Jam de caráter comercial - embora isso tenha mudado um pouco com Lightning Bolt (lançado em 2013). 

Para muitos fãs, Yield é um disco pontual na história da banda. Todos concordam que houve uma divisão de períodos após esse trabalho, ainda mais pegando como referência os quatro sucessores. Após este disco, o Pearl Jam foi efetivo na nova proposta de não querer ser mais uma fábrica de sucessos radiofônicos. Yield também é considerado um dos discos mais queridos do grupo pelos fãs de carteirinha. Afinal, só sobraram estes mesmos.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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