Aléxia, que abre para o The Calling no Brasil, fala sobre persistência na cena

De Apiaí para os grandes palcos do rock nacional, Aléxia é a prova de que coragem e persistência podem transformar sonho em carreira. Em apenas quatro anos de estrada profissional, a cantora e compositora já soma mais de 400 shows, venceu concursos importantes como o Cura Fest e o Porão do Rock, e agora se prepara para abrir os shows da turnê brasileira do The Calling. Com uma sonoridade que mistura rock alternativo, pop e atitude, ela chega para mostrar que o protagonismo feminino no rock está mais vivo do que nunca. Em entrevista à Rock on Board, Aléxia fala sobre a jornada que a trouxe até aqui, os desafios de apostar no autoral e as expectativas para essa nova fase empolgante.

Eu queria começar falando um pouquinho sobre a sua carreira. Eu sei que você começou esse seu sonho musical há doze anos e se lançou profissionalmente há quatro, né? O que te deu essa coragem de finalmente dizer agora chegou esse momento?


Primeiramente, é um prazer para mim estar com você hoje. Obrigada. Então, assim, acho que a coragem veio muito por ter incentivo até dos meus pais. Na época eu fiz faculdade de medicina veterinária, né? Cheguei a trabalhar como veterinária por uns dois anos, mas quando surgiu essa oportunidade de, de fato, ingressar profissionalmente na música, que sempre foi a minha paixão, que eu nasci para fazer, eu recebi muito apoio da minha mãe e do meu pai. Então, acho que essa coragem, de fato, veio desse apoio familiar e também, lógico, das inspirações que eu sempre tive de artistas. Eu sou muito fã da Lady Gaga, por exemplo. Então, olhar para ela e sempre me imaginar naquela posição me deu mais incentivo.


Ah, que legal. O que mais você tem de inspiração, além da Lady Gaga? Quem são suas influências?


Olha, eu gosto muito de Pitty, eu gosto muito de Paramore, Evanescence, eu gosto de Cranberries. Gosto muito, muito, muito dessas artistas. Gosto de Jinjer, gosto de várias mulheres, assim, de várias vertentes do rock e do pop, e acho que todas elas me influenciam de alguma forma.



É, muito legal. Bastante eclético, né? Mas são mulheres muito poderosas.


Sim. 


E você vem de Tatuí, que é conhecida como a capital da música, onde tem o conservatório. Esse ambiente também te ajudou ou de alguma forma te desafiou nessa decisão de seguir sua carreira?


Então, na verdade, eu nasci em Apiaí, que é perto do Paraná. Morei em várias cidades e me mudei em 2021 para Tatuí, se não me engano. E aí, a gente começou a fazer a banda e os meninos são daqui de Tatuí, né? E eu acho que o ambiente aqui da cidade, de fato, é muito, muito musical. Acho que até poderia ser mais do que é, eu diria. Porque a cena do rock ainda não é muito forte aqui no interior de São Paulo. Mas eu não cheguei a fazer conservatório. O Gustavo, por exemplo, que é o guitarrista, ele fez 15 anos de conservatório, assim, muita experiência. Mas sempre foi pra mim um sonho estudar música, uma coisa que eu não fiz. Mas estar aqui em Tatuí, acompanhar o pessoal que estuda, que está ali no conservatório, que é o maior da América Latina, é muito, muito legal, muito bonito.


Quando você olha para você, adolescente, que sonhava em cantar, que sonhava com tudo isso, e essas suas inspirações, qual foi a primeira vitória que fez você sentir que “isso aqui vai virar a minha vida”?


Nossa, acho que o primeiro grande festival que eu fui convidada a tocar foi ano passado, foi em Brasília, no Capital Moto Week, e foi no palco principal. Foi a minha primeira vez num palco principal, digamos assim. E era um palco muito grande, daqueles que você imagina, assim, um Rock in Rio, né, daquele tamanho. Então, estar ali me trouxe todas as memórias da Alexia, adolescente, fazendo show na sala de casa, fingindo que estava com uma plateia. E nesse show tinha umas 70 mil pessoas, acho que foi o meu maior público também. Então, esse show me marcou muito por isso. E ali, naquele palco, eu simplesmente só entendi que, de fato, é ali que eu quero estar pro resto da minha vida.





Caraca, demais. Imagino que tenha sido uma experiência muito incrível! E esse é um dos mais de 400 shows que você já fez nesse tempo de carreira, né?


Sim. 


Teve algum momento que foi mais desafiador? Algum show difícil? Uma viagem? Alguma decisão que você teve que tomar?


Ah, assim, tiveram alguns shows difíceis, porque nesses quatro anos, a banda começou como um projeto cover, né? Então apenas para tocar em barzinhos. E há um ano e meio, a banda que era a Cherry Bomb, na verdade, se tornou a Alexia, a artista solo. E ali já começou um desafio muito grande, porque muita gente não gostou muito da mudança, torceu o nariz. Principalmente porque é o autoral, né? As pessoas ainda torcem muito o nariz para o autoral aqui no Brasil. Mas mesmo assim, a gente começou e fomos com coragem e tocando o autoral nesses mesmos lugares que só aceitavam covers. Então, assim, tiveram shows difíceis por conta dessa rejeição, às vezes, do público. Alguns lugares simplesmente não querem mais contratar, né? Mas, assim, a gente também acabou encontrando outros caminhos e outros lugares e um novo público. Então, foram alguns momentos difíceis, mas que trouxeram a gente pra o momento de hoje.


Lógico. E o que que te fez partir para essa carreira solo, depois de estar esse tempo com a banda?


Ah, eu acho que muito da gente conversar mesmo entre nós, né? E olhar o cenário. Acho que uma boa parte da geração de hoje ainda não consegue se identificar, às vezes, com uma banda. Alguns jovens se identificam muito mais fácil com um artista só do que uma banda. Eu já era, de fato, mais a imagem mesmo do projeto, era sempre eu ali. E o nome também, como a gente usava o nome Cherry Bomb, que é um nome que eu gosto, mas, assim, que não passava muito a identidade sonora e tudo que a gente queria fazer. E a gente não tinha ideia de nome, eu falei assim, vamos usar o meu mesmo, que é um nome que parece nome artístico, mas é o meu nome. E aí meio que calhou tudo, então vamos seguir como artista solo, assim como a Pitty, né? Ela sempre teve a banda dela junto com ela, em todos os momentos, né? Mas ela é a Pitty. Então acho que foi meio que se transformando nisso.


Ah, faz muito sentido, né? E escutando suas músicas, a gente vê que elas têm uma pegada mais forte, mas têm umas letras bastante pessoais, né? Que mensagem que você quer que o público leve quando escuta seu trabalho?


Olha, assim, eu gosto muito de escrever exatamente sobre as coisas que eu vivi, que eu passei, eu senti, experiências. Então eu quero realmente passar muito dessa coisa de superação, de empoderamento, de coragem, de resiliência. Porque, realmente, eu passei por vários momentos desses, em que eu me vi em situações que eu não via saída e, de repente, eu estava realizando um sonho e aí, de repente, eu já tava numa outra situação. Então eu quero poder também fazer com que as pessoas acreditem que é possível você viver o seu sonho. Existem as dificuldades, mas eu quero inspirar, principalmente mulheres. É uma coisa que eu sempre quis.


É, acho que as letras são bastante relacionáveis, né? Eu estava escutando nas plataformas esses dias, mais um pouquinho. E é bem isso, né? A gente se encaixa muito nas suas letras, principalmente a gente mulher. E eu estava vendo que você venceu alguns concursos importantes, né? O Cura Fest, o Porão do Rock... O que essas conquistas ensinaram para você como artista?


Ah, assim, poder participar já dessas seletivas já foram conquistas muito grandes. Porque a gente que sai do interior, a gente entende que, às vezes, na capital é um pouco complicado a gente entrar ali naquele circuito. Então, quando a gente foi entrando nessas seletivas, a gente foi fazendo amizades na cena. A gente foi conhecendo a galera. E isso, para mim, já foi incrível. Já foi, assim, um baita reconhecimento mesmo do meu trabalho. E vencer e poder ir lá representar o Sudeste, foi... Acho que uma das experiências mais incríveis que eu vivi. O Porão do Rock é o maior festival independente de rock do Brasil. E é um público extremamente receptivo. Todo mundo está lá para conhecer artistas novos e apoiar mesmo a cena. E, para mim, foi realmente um reconhecimento do meu trabalho. E, ao mesmo tempo, poder realmente me introduzir na cena e me sentir parte dela, sabe?


Muito bom! Agora que você está entrando nessa cena, para as pessoas que estão te conhecendo agora, que música sua você recomendaria e por quê?


Olha, eu recomendaria ouvir a "Sobreviver". Eu acho que ela é a favorita do meu público. É a que o pessoal sempre fala. Ai, eu amo, eu amo, eu amo. E acho que foi uma das primeiras também que a gente lançou. E eu gosto muito porque ela me remete exatamente ao momento que eu pensei que eu tinha perdido tudo, mas, na verdade, eu estava conquistando. E eu não estava enxergando as coisas que eu estava conquistando. Eu só enxergava as coisas que eu estava perdendo. Então, eu recomendo que vocês escutem "Sobreviver". Na verdade, eu gostaria que vocês escutassem todas. Porque alguma outra você vai se identificar mais ou menos. Mas a "Sobreviver" eu recomendaria de primeira.



Seria a sua música para ir… E como você imagina a sua sonoridade evoluindo nos próximos lançamentos? Tem algo novo que você está experimentando? Algo que você quer trazer de diferente?


Ai, com certeza, sim. A gente gosta de misturar bastante coisa, né? Então, a gente mistura pop, mistura eletrônico. Um pouco punk, um pouco do rock. Guitarras, às vezes, meio metal. A gente está experimentando algo um pouco mais até blues, eu diria. Que eu gosto bastante. Então, a gente queria trazer um pouco essa sonoridade também. Assim, ver se dá certo. Tem uma música que já está meio que se construindo assim. Vamos ver.


Ah, legal. Esse é o momento de experimentar e trazer o público novo, né?


Sim, sim. 


E uma novidade grande que está aí é que agora, em outubro, você vai fazer a turnê com The Calling, né?


Sim, nossa, eu estou muito empolgada!


O que mais te empolga nessa experiência? O que os fãs podem esperar desse show?


Olha, o que eu mais estou empolgada, realmente, é poder vivenciar essa coisa de fazer uma turnê, né? Que a gente ainda não teve essa experiência de poder viajar por vários estados e poder acompanhar artistas como The Calling, artistas que já estão na estrada há muitos anos, que já vivenciaram coisas incríveis. E poder, de repente, aprender com eles, né? Viver todas essas experiências. Eu quero poder aprender tudo o que eu puder. E poder entregar um show muito legal. Eu estou realmente preparando um set todo autoral. Algumas versões que a gente gosta de fazer, mas, poder dar essa ênfase para o meu trabalho, construir um show com uma história. E poder conhecer as pessoas, conhecer o público. Fazer essas trocas. Para mim é uma baita honra.


Como está sendo a preparação para essa turnê?


Uma loucura. Porque a gente ainda está fazendo um monte de show e, ao mesmo tempo, tem que organizar as coisas que tem que levar. Todo o backline, o que vai ficar, o que vai levar, a roupa… A gente tem que se organizar para viagem. E dá um trabalhinho. Mas é muito gostoso. Eu sei que eu quero vivenciar cada momento desse processo. Porque eu sei que depois eu vou até sentir falta de estar nessa loucura.


Ah, eu tenho certeza que vai ser muito bom e que o público vai gostar bastante de tudo isso. 


Ah, eu tô muito ansiosa.


Eu imagino. E que recado você deixaria para quem também sonha em começar uma carreira musical?


Olha, é meio clichê. Mas não desistir já é um bom começo. Não desista, de fato, do seu sonho. E seja muito persistente. Se dedique, de fato. É um trabalho, né? A gente tem que levar muito a sério. Então, eu sempre falo. Preze muito pela qualidade de tudo que você vai fazer. Leve a sério. E não escute as pessoas que vão tentar te impedir. Te colocar pra baixo. Porque muitas pessoas vão fazer isso. Mas se é uma coisa que você ama, de fato, que te faz feliz, eu acho que você tem que apenas seguir em frente com a sua verdade. Com o que te faz ser feliz. O que te faz viver. E é isso.


Eu acho que você, por si só, já é uma inspiração para muita gente que vê onde você está chegando. Já é uma baita inspiração para todo mundo. 


Ah, eu fico muito feliz.


Aléxia, muito obrigada pelo seu tempo. Foi muito gostoso conversar com você. Eu estou bastante empolgada para assistir esse seu show na turnê do The Calling. Desejo a você muito sucesso nessa turnê e em toda sua carreira. Você merecem muito.


Muito obrigada a você, pelo seu tempo também. Foi muito bom poder conversar com você. E eu quero te ver no show.


Com o maior prazer. Estarei lá.

Carol Goldenberg

Advogada, jornalista musical e guitarrista, mas acima de tudo, amante da música desde sempre. Roadie, guitar tech e exploradora de shows e festivais pelo mundo, vivendo cada acorde como se fosse único e cada plateia como um novo universo.

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