Mais leve e muito competente, Wolf Alice faz rock setentista em "The Clearing"



 Wolf Alice
The Clearing
⭐⭐✩ 4/5
Por  Lucas Scaliza 

Uma das melhores bandas inglesas que imergiu nos últimos 15 anos, o Wolf Alice começou despretensiosamente, como aquelas histórias de bandas de outrora, tocando rock, punk, com sensibilidade pop e muito mais vontade do que técnica. Era o sonho de quatro jovens da classe operária do norte de Londres. Mas a banda atraiu olhares e ouvidos atentos e decidiu que seria profissional de verdade. Trilharam esse caminho meticulosamente até o terceiro disco, o grande Blue Weekend (2021). Entregaram excelentes canções, se tornaram músicos cada vez melhores e mais capazes e mostraram diversidade, sem deixar de colocar riffs matadores e referência às origens punk, combinando tudo isso com uma produção cada vez mais sofisticada.

Até o terceiro disco, eles cresceram, meio como se precisassem se provar, mas sem perder a essência. E atingiram esse objetivo com muita sinceridade.

Em seu quarto disco, The Clearing, o quarteto inglês não buscou nenhum tipo de passo à frente. É o álbum mais leve deles e o mais enxuto. Mas isso não significa que desistiram de suas origens mais agudas. A banda soa mais livre agora que não precisa provar nada a ninguém, e em vez de repetir as referências de antes, mira em entregar boas composições bem interpretadas. Sai o punk, entra o folk country ("Leaning Against The Wall" e "Safe in the World") Saem os riffs de guitarra, entram riffs de piano.



A princípio, The Clearing subverte expectativas. Para mim, foi necessário algumas rodadas de audição para entender o objetivo da banda e perceber que não falta poder ao álbum, ele só mudou de forma. Ao invés de riffs e distorção e refrões cheios de som, a intenção agora é que a canção fique em primeiro plano. E toda a banda, sem estrelismos, embarca nessa. São 11 faixas redondas, com boas letras, melodias memoráveis e sem gorduras.

Demorou um tempo, mas percebi que talvez a chave de interpretação que melhor se ajusta à proposta de The Clearing é Fleetwood Mac. A banda, também inglesa e também com outros quatro ingleses na formação, tinha um som limpo e orgânico, não era agressivo e ainda assim tinha seu pé no rock. Wolf Alice faz exatamente isso dessa vez. Se antes eles miravam no som da sua geração, agora se deixaram exercer aquele rock mais clássico dos anos 70. O produtor escolhido dessa vez foi Greg Kurstin. A escolha é perfeita para esse tipo de projeto, uma vez que Kurstin é conhecido por deixar aflorar uma sensibilidade pop que leve as bandas para outras direções, sem descuidar da qualidade.



Ao ouvir "Bloom Baby Bloom", "Passenger Seat" e "Bread Butter Tea Sugar" dá para sentir como a banda deve ter se divertido tocando e criando essas músicas. Ellie Roswell, que já demonstrava como tinha se tornado uma cantora completa no disco anterior, agora exibe plenos poderes. "Thorns", "Just Two Girls" e "The Sofa" são grandes músicas para o portfólio da banda em geral e para Roswell em particular. Ao longo do disco, os crescendos são bem calculados e todos muito bonitos. A faixa "White Horses" é uma grande surpresa no disco. Ela é constante, divertida e traz o vocal do baterista Joel Amey, o integrante mais carismático do Wolf Alice depois da vocalista/guitarrista.

Não é um disco fraco de forma alguma, se você enxergar (e ouvir) para além das distorções de guitarra. É um capítulo para explorar outras possibilidades. Além disso, há alguma banda em atividade hoje em dia que proponha um som ou formato que seja como o do Fleetwooc Mac? Não acredito que seja o tipo de som que o Wolf Alice vai produzir daqui pra frente, mas é o som desse capítulo de sua carreira. E o resultado final mostra que são muito competentes.





Lucas Scaliza

Jornalista, músico sem banda e estrategista de marca. Não abre mão de acompanhar os sons do agora. Joga tarô e já foi host de podcast.

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