Em setembro acontece a segunda edição do The Town, festival idealizado pelos produtores do Rock in Rio, e que vai reunir alguns dos principais nomes da música no Autódromo de Interlagos. E assim como foi no primeiro The Town, que aconteceu há dois anos, o evento terá o seu dia dedicado ao rock - mais especificamente ao punk, já que traz nomes icônicos para a consolidação do gênero, como Iggy Pop, Sex Pistols, além do Green Day, que faz parte da evolução desse estilo nos anos noventa. Mas por que o punk foi a bola da vez nesse The Town? E por que apenas um dia de rock? As bandas de rock ainda são prioridade para a produção? Para responder essas questões, não existe ninguém melhor no mundo hoje em dia, do que Zé Ricardo, vice-presidente artístico da Rock World, empresa responsável pelo The Town e Rock in Rio. Ele conversou com o Rock On Board e tentou explicar a ideologia artística da curadoria, revelando os principais desafios para a montagem dos line ups, que segundo ele, começa sempre buscando nomes icônicos do rock como ponto de partida.
Essa é a segunda edição do The Town. E assim como foi a primeira edição, o festival vem consolidando também o seu "Dia Rock". Você acredita que ter um dia oficial para o rock é uma forma de preservação do gênero no festival?
O “Dia Rock” do The Town é sempre um objetivo do meu projeto de curadoria. O Rock vai além da música. Ele é comportamento. É uma maneira de enxergar o mundo. Acho que ter um dia Rock reforça a importância do estilo pra novas gerações que estão cada vez mais descobrindo bandas consagradas e novos artistas que fazem do Rock uma enorme potência da música mundial.
E como vocês enxergam o público de rock dos dias atuais para um festival como The Town ou Rock in Rio, analisando a demanda / procura e a tendência que ele (este público) oferece ao evento?
O público de Rock é fiel. Se é fã do artista, o acompanha. Vai nos shows e sabe as letras. É um público exigente que faz questão de reclamar e lutar pra que os artistas que amam sempre estejam nos festivais. Cada vez mais vemos outros estilos se tornando gigantes no mercado. Trap, o novo Pop, o pagode, entre outros. Isso obriga que os festivais ampliem seu olhar pra esses estilos e que os inclua nos line-ups. Mas isso não tira o Rock da cena. O público que ama Rock, ama festivais, está no DNA do estilo. É um público muito importante pra nós, que queremos ter cada vez mais nos nossos festivais
"Um line-up não é só sobre pesquisas, número de seguidores ou número de ouvintes no Spotify"
Uma das coisas boas desse "Dia Rock" do The Town, foi o apontamento para o lado punk nos palcos principais, com artistas menos 'super medalhões', como Iggy Pop e Sex Pistols, por exemplo. Você acredita que por conta da concorrência de agendas, o olhar pode ser mais direcionado para esses artistas consagrados, mas fora desse pacote headliner como Green Day, Metallica e Guns N'Roses, por exemplo?
Construir um line up poderoso pra mim passa pela coragem de provocar e pela intenção de propor conversas. Criar um dia com foco no Punk Rock é também lembrar como o Rock é um estilo amplo, que tem várias vertentes. É trazer essa conversa pra mesa. O Punk Rock sendo protagonista de um dia no The Town amplia nossas possibilidades de construção de line up. Espero conseguir fazer o mesmo com outros estilos também.
Inclusive, ter o Iggy Pop no line up foi visto com muito entusiasmo e surpresa também pelo público que acompanha os festivais do eixo Rock in Rio. Fale um pouco dessa escolha.
Iggy Pop é um ícone. Um artista de representatividade imensa que simboliza demais o movimento Punk Rock. Te-lo no line-up mostra a profundidade do mergulho que queremos propor enquanto festival. Um line-up não é só sobre pesquisas, número de seguidores ou número de ouvintes no Spotify. Um line-up poderoso também é sobre representatividade, qualidade e o legado que artistas icônicos deixam pra novas gerações.
"Curadoria de eventos magnânimos, como Rock in Rio e The Town, tem que ter propósito"
O rock é um gênero que conversa com outros estilos mais sofisticados, como o jazz, o blues e o soul. Um dia rock também abre um leque se oportunidades, como por exemplo, a presença de um artista como o Kamasi Washington no palco SP Square. Inclusive o próprio Snarky Puppy poderia estar nesse dia. Fale um pouco sobre essa abrangência que o rock proporciona.
O Rock com certeza abre possibilidades de diálogos com outros estilos. Jazz, blues e até com o Rap. A atitude do Kamasi, na minha opinião, é muito Rock’n Roll. Ele tem muita pegada e explora o Sax de muitas maneiras diferentes. O Snarky Puppy também poderia estar nesse dia. Eu vejo o Rock como um estilo amplo, que recebe bem colaborações e novas propostas. Não podemos esquecer que eu fiz Sepultura e Zé Ramalho no mesmo show (risos) e foi um imenso sucesso. Eu acredito no Rock como ponte pra novas possibilidades.
A gente sabe que você é muito envolvido com artistas da cena. E um dos pontos positivos desse dia é também o espaço para artistas mais independentes, como o Black Pantera, Punho de Mahin com MC Taya, Ready To Be Hated e a The Mönic. Assim também como foi a presença de bandas como a Drenna headliner no Palco Favela no dia do Green Day, no Rock in Rio 2022. Olhar para esses artistas é um compromisso que você assume, por conta desse seu envolvimento? Fale um pouco sobre como funciona essa curadoria no lado mais underground da nossa cena.
Desde que comecei como diretor artístico, até agora como CAO dos festivais, meu compromisso é também apresentar o novo. Artistas como Iza e Jonathan Ferr, pra citar só dois, ganharam o mundo a partir de grandes shows que fizeram nos line-ups que criei para o Palco Sunset e pro Espaço Favela do Rock in Rio. O Black Pantera estreou em grandes festivais comigo no Sunset há alguns anos. E eu tenho um orgulho imenso de vê-los hoje como um dos maiores nomes do metal brasileiro. Meus projetos de curadoria têm isso como fundamento. Eu trago um artista consagrado, mas também revelo um novo talento. Curadoria de eventos magnânimos, como Rock in Rio e The Town, tem que ter propósito.
"Quando começo a construir nossos line-ups, começo pensando nas bandas icônicas de Rock"
Ultimamente há um crescente interesse pelo público brasileiro nas grandes bandas de rock dos anos noventa e 2000. Vide as turnês sold out de Linkin Park, System Of A Down, e mais recentemente do Oasis. Você acredita que essa tendência pode influenciar nos próximos line ups, inclusive no futuro, como no próximo Rock in Rio, do ano que vem.
Com certeza influencia. O público as vezes tem a impressão de que os line-ups não estão com mais dias de Rock por escolha nossa. Isso não é real. As bandas icônicas de Rock estão cada vez mais espaçando as tours. Fazendo tours menores. A volta do Oasis é maravilhosa porque traz mais uma oportunidade de banda icônica em tour. Todos os anos, quando começo a construir nossos line-ups, começo pensando nas bandas icônicas de Rock que todos queremos ver. Mas muitas vezes datas e logística dificultam a vinda dessas bandas. Espero poder trazer cada vez mais bandas de Rock.
Quais são as principais dificuldades dos tempos atuais para formar um dia de rock que se encaixe no nível e na proposta da curadoria?
Número pequeno de bandas icônicas (que possam ser headliners) em tour. Bandas que constroem seus shows especificamente pra arenas, além da logística das tours que são construídas pra vários países da América do Sul. Às vezes as datas de um festival desorganizam toda uma tour e o artista por mais que queira tocar no Rock in Rio, por exemplo, não consegue. Mas mesmo com todas essas dificuldades temos construído line-ups poderosos, pra diferentes públicos. E eu espero que, cada vez mais, o Rock possa estar presente.
Sobre o The Town
O The Town acontece nos dias 06, 07, 12, 13 e 14 de setembro de 2025, na Cidade da Música, no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. A edição deste ano terá nomes como Green Day, Bruce Dickinson, Iggy Pop, Sex Pistols, Backstreet Boys, Lionel Richie, Travis Scott, Mariah Carey, Katy Perry, entre outros.
Ingressos
Os ingressos podem ser adquiridos por meio da plataforma Ticketmaster Brasil (thetown.ticketmaster.com.br). O ingresso custa R$975,00 a inteira e R$487,50 a meia-entrada e não há cobrança de taxa de conveniência. Na venda de ingressos do The Town para o público em geral, os clientes podem comprar até 04 (quatro) ingressos de Gramado por dia de festival em seu CPF, sendo no máximo 1 (uma) meia-entrada para cada dia. O pagamento poderá ser efetuado com PIX e cartões de crédito. Clientes que efetuarem o pagamento com os cartões de crédito Itaú, Itaucard, Credicard, Hipercard e Iti poderão parcelar sua compra em até 8x sem juros. Nos demais cartões aceitos, o pagamento poderá ser feito em até 6x sem juros.