Bush tenta resgatar aura dos primeiros álbuns em “I Beat Loneliness”

Bush

I Beat Loneliness
⭐⭐⭐✰✰3/5
Por  Marcelo Alves 

Um dos expoentes do chamado pós-grunge, o Bush nunca esteve perto do sucesso que atingiu nos três primeiros álbuns lançados no final da década de 1990 desde que retomou as suas atividades em 2010. Do tempo em que atingiu o topo aos dias de hoje, o mundo mudou, o rock virou um gênero um tanto quanto fora do mainstream e a própria forma de consumir música mudou, tornando mais difícil gerar hits como os de Machinehead e Glycerine, duas das canções mais conhecidas do álbum de estreia da banda, Sixteen Stone (1994). 

Se boa parte dos álbuns lançados desde o retorno da banda tiveram recepção fria de crítica e público, ao menos The art of survival (2022) foi aclamado por muitos críticos com boas avaliações. Agora, três anos depois, o Bush tenta dar mais um passo na retomada do seu status com I Beat Loneliness

Lançado na sexta-feira passada, o 10º álbum de estúdio da banda inglesa soa como uma tentativa de retomar uma sonoridade que se via especialmente na trinca Sixteen Stone, Razorblade Suitcase (1996) e The Science of Things (1999). Não é exatamente igual. E até seria um erro tentar copiar o passado ao invés de evoluir para algo mais afeito aos anos em que vivemos. Por outro lado, é quase como se Gavin Rossdale, o líder, vocalista e letrista da banda lançasse um canto nostálgico de quem olha para o passado para buscar paralelos e referências com o objetivo de dar uma nova guinada na banda no presente.

O Bush de I Beat Loneliness soa como a sua melhor versão em músicas como Scars, que abre o álbum e cujas guitarras evocam o Bush do pós-grunge de meados dos anos 1990, os rocks mais pesados I am here to save your life e 60 ways to forget people, duas boas canções do álbum, e The Land of milk and honey, uma música que tem um refrão que em inglês poderia ser descrito como catchy, ou seja, algo que gruda na cabeça e é fácil de cantarolar.

Se tenta evocar uma sonoridade do passado, o tema de I Beat Loneliness não poderia ser mais atual: a saúde mental. No disco, Rossdale assume o papel de terapeuta, falando sobre os problemas sombrios da mente e estendendo a mão para ajudar a todos que estejam passando por dificuldades. 

O tema da saúde mental perpassa canções como I Beat Loneliness, I am here to save your life, Love me till the pain fades e na bonita Everyone is broken, onde Rossdale parece cantar de coração aberto sobre o vazio e a solidão de alguém que se vê refém dos “demônios” que estão no próprio celular.

Everyone is broken está na segunda metade do álbum, quando vemos um Bush que tenta soar diferente da primeira metade. Se as primeiras sete canções evocam lembranças daquele passado glorioso do Bush, a partir de We are of this Earth, Rossdale coloca um freio na energia mais pesada das guitarras e assume um canto mais melancólico e ecoante que encontra o seu ponto alto em Don’t be afraid, outra das canções que se destacam no álbum. 

Footsteps in the sand retoma o Bush mais pesado, apenas para acalmar em definitivo com Rebel with a cause

I Beat Loneliness tem muitas virtudes, mas é um álbum que prega para convertidos. Escutar o álbum passa a sensação de que os fãs do Bush vão ficar satisfeitos com o que talvez seja um dos melhores trabalhos da banda a partir da retomada. Mas também fica a sensação de que é um disco que dificilmente trará novos fãs para o grupo. É um bom álbum, mas que não tem a aura de um clássico instantâneo. Mas isso é algo que só o futuro poderá comprovar.

Marcelo Alves

Acredita que o bom rock and roll consiste em dois elementos: algumas ideias na cabeça e guitarras no amplificador. Fã de cinema e do rock nas suas mais variadas vertentes, já cobriu diversas edições do Rock in Rio no Rio e em Lisboa e uma do Monsters of Rock. Desde 2014, faz colaborações para o site "Rock on Board". Já trabalhou em veículos como os jornais "O Globo" e "O Fluminense".

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