Scorpions celebra seis décadas de rock para casa cheia no Rio

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
Desde o início da tarde, camisas pretas dominavam o Via Parque, dando o indício da celebração roqueira que viria acontecer na casa de shows localizada no subsolo do Shopping. Estampas de bandas clássicas como Iron Maiden, AC/DC e Black Sabbath tomavam conta da praça de alimentação e causavam uma movimentação acima do normal para uma segunda-feira, tarde de noite e em meio de feriado. O resultado disso, foi um Qualistage abarrotado para saudar a carreira de uma das mais importantes e antigas da história do rock e do heavy metal: o Scorpions.

A banda alemã chega ao Brasil desta vez, com sua turnê comemorativa de 60 anos de estrada, e isso significa uma promessa de sucessos captados por várias gerações. A ideia de trazer um espetáculo dedicado ao seu legado é justa, e mesmo sendo uma banda que está sempre por aqui, evidenciar o seu tempo de serviços prestados caiu muito bem nesses tempos de valorização do saudosismo.

E ficou para o Rio de Janeiro o único número solo dessa visita, já que em Brasília e São Paulo, eles tocaram em festivais. Mas curiosamente foi aqui, nesta cidade, e nesta nova Barra da Tijuca, que o grupo carimbou sua relação com os fãs brasileiros, naquela que é considerada até hoje, uma das mais icônicas apresentações de uma banda de rock no Brasil em todos os tempos (Rock in Rio de 1985). Inclusive, a versão de "Still Loving You", cantada por milhares de vozes na primeira Cidade do Rock, rolou nas rádios brasileiras por quase uma década, ajudando ainda mais a popularizar o grupo entre os brasileiros médios, muito além dos nichos do heavy metal.

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
Mas antes do rock comer solto, um telão de altíssima definição fez por exibir um vídeo comemorativo, trazendo imagens da banda durante toda a carreira e alguns números de dar inveja (mais de 5.000 shows em 87 países). Ao fim do trailer cinematográfico, um efeito espetacular de raios e trovões deu início ao show, que começou numa versão quase épica de "Coming Home". Se "Gas in The Tank" foi responsável por dizer que o grupo ainda lança coisas novas, o resto do repertório foi de hinos indiscutíveis.

Não fica pedra sobre pedra quando a banda manda uma sequência matadora com "Make it Real", "The Zoo" e a instrumental "Coast To Coast", que reserva a clássica cena do quarteto perfilado no meio da passarela. Outro grande momento, mas que passa sem grande comoção pelo público, é a homenagem ao legado setentista da banda, com Uli Jon Roth, que vem concentrada num conjunto de canções coladas dos álbuns In Trance ("Top Of The Bill"), Taken By Force ("Steamrock Fever"), Fly To The Rainbow (Speedy's Coming") e Virgin Killer ("Catch You Train").

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
Com o trio de frente ainda dos tempos áureos, Rudolf Schenker é quem continua chamando a atenção por conta da energia. O guitarrista nem parece ter 76 anos de idade, de tanto que se movimenta e interage com sua guitarra. Já Matthias Jabs, é mais contido que seu companheiro. Ele usa a passarela de forma moderada, e evidencia sua técnica numa versão solo, batizada "Delicate Dance", onde sola à esmo. Mas o Scorpions mantém a máquina funcionando por conta de uma cozinha sensacional. Mikkey Dee, também veterano, mas com com uma bagagem de décadas de serviço ao heavy metal, sendo baterista de King Diamond, Motörhead e Helloween, é quem segura a bronca e imprime a força que a banda precisa. Já o baixista Pawel Maciwoda traz o groove como elemento, e isso fica evidente no momento solo de baixo e bateria, onde ele dedilha seu instrumento numa espécie de funk metal muito bem acabado.

Dos quase vinte álbuns de estúdio, um deles ganha atenção especial nesta turnê do Scorpions: Love At First Sting (com seis de suas nove músicas executadas esta noite). Como por exemplo, "Bad Boys Running Wild", que teve o seu refrão berrado por quase todos os presentes no Qualistage. Mas não é por menos. Além de contar com alguns dos maiores sucessos do grupo, este disco de 1984 é um divisor de águas na carreira dos alemães. Ele foi um dos primeiros discos de heavy metal da história a ser gravado de forma digital, soando mais limpo e direto, e fez o Scorpions quebrar o muro headbanger, alcançando um público mais plural - muito por conta da super balada "Still Loving You".

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
Estar no Rio de Janeiro também traz antigas lembranças para Klaus Meine. O vocalista, que beira os 77 anos de idade, relembra o Rock in Rio de 85, e dedica "Send Me An Angel" para Freddie Mercury. E é bom destacar, que mesmo cantando de forma mais moderada, e caminhando com cuidado, Klaus continua mandando ver em cima do palco sem utilizar playbacks ou qualquer um desses artifícios fakes dos cantores atuais. A voz não é mais a mesma, o fôlego muito menos, mas o respeito aos fãs e ao seu legado continua intacto. Com a letra alterada e exibida no telão, "Wind Of Change" foi mais um dos momentos mais emotivos do show, com direito a assobio afinadinho e recorde de celulares ligados.
 
Antecipando a parte final, alguns momentos memoráveis. O primeiro foi no solo de bateria maravilhoso do lendário Mikkey Dee, que incluiu um ambiente de Las Vegas à apresentação - com máquina de cassino nos telões fazendo referência inclusive ao Motörhead (sua ex-banda), e causando um efeito sensacional de sincronia com a execução. Depois desse show particular, Marcus Delaoglou, filho de Mikkey sentou na bateria e tocou duas canções com o Scorpions: o rockão desenfreado "Tease Me Please Me", e o hit "Big City Nights".

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board
 
O bis começou com "Blackout", e chegou no ápice da aclamação com "Still Loving You", que foi cantada palavra por palavra, do primeiro verso até a última repetição de seu refrão. Para finalizar, a de sempre: "Rock You Like A Hurricane", com seu riff de guitarra levanta-defunto e refrão para cantar como se nunca mais houvesse fim. O show chega ao final, mas as melodias, os riffs de guitarra e a energia dos hinos produzidos por esta instituição, que presta serviço ao rock por seis décadas, continuam e continuarão ecoando no sangue de quem foi picado por eles em algum momento da vida.

Assista a nossa cobertura em vídeo

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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