Na última quarta-feira, 10 de abril de 2025, o Espaço Unimed foi palco de uma noite memorável para os fãs de rock alternativo. O Incubus, uma das bandas mais icônicas dos anos 2000, trouxe à capital paulista a turnê comemorativa do clássico álbum Morning View (2001), celebrando mais de duas décadas de um dos trabalhos mais amados de sua discografia. E o resultado não poderia ser diferente: uma mistura potente de nostalgia, entrega artística e conexão emocional com o público brasileiro.
Pouco depois das 21h, com a casa completamente lotada e os fãs entoando coros antes mesmo das luzes se apagarem, a banda californiana deu início à apresentação com a promessa (cumprida à risca) de tocar o Morning View na íntegra, seguindo a ordem original do disco.
Abrindo com a etérea “Nice to Know You” e seguindo com faixas como “Circles”, “Wish You Were Here” e “11am”, o show foi uma verdadeira viagem no tempo. O público — composto por uma mistura de fãs veteranos e uma nova geração que redescobriu a banda — reagia com entusiasmo a cada acorde, como se cada canção representasse uma memória específica.
O vocalista Brandon Boyd mostrou, aos 48 anos, que ainda possui a energia magnética e a potência vocal que o consagraram. Com seu estilo excêntrico, sempre entre o introspectivo e o explosivo, ele comandou o palco com uma presença serena, mas intensa. Entre uma música e outra, agradecia o carinho em português com um simpático "obrigado", mas sem maiores interações, visivelmente emocionado pela recepção calorosa do público brasileiro.
Além da performance vocal, Boyd se destacou por sua entrega física e gestual — movimentos quase rituais em músicas como “Aqueous Transmission”, que fechou a parte dedicada ao Morning View, com seu clima zen e instrumental recheado de influências orientais. Outro destaque da noite foi a presença da baixista Nicole Row, ex-integrante do Panic! at the Disco, que vem acompanhando o Incubus nesta turnê especial. Ela substitui temporariamente Ben Kenney, que está afastado por motivos de saúde.
Nicole trouxe uma nova dinâmica ao palco, com uma presença energética e técnica refinada. Sua performance foi elogiada tanto pela execução quanto pela interação com o restante da banda, especialmente com o guitarrista Mike Einziger, que entregou solos inspirados e texturas que deram vida nova às músicas.
Mike também foi um show à parte. Tocando com a maestria de sempre, mostrava-se claramente entusiasmado com a apresentação, sorrindo do começo ao final do show e esbanjando carisma. Mesmo sem conversar com a plateia, ele constantemente interagiu com o público, fazendo com que todos se sentissem parte da apresentação.
Após a execução completa de Morning View, a banda iniciou um segundo bloco repleto de surpresas e homenagens musicais. Fãs foram presenteados com clássicos de outros álbuns, como “Vitamin” (S.C.I.E.N.C.E., 1997), uma adição inesperada que causou euforia na plateia e foi recebida com intensidade quase catártica.
O show também teve momentos de criatividade e improviso, com inserções de músicas como “Glory Box” (Portishead), e de trechos de “In The Air Tonight” (Phil Collins) e até “Umbrella” (Rihanna), como parte das canções “Are You In?” e “Under My Umbrella”, respectivamente, mostrando o lado mais lúdico e experimental da banda.
Não poderia faltar “Drive”, o maior hit do grupo e momento de comunhão entre banda e público. Todos os presentes cantaram em uníssono, iluminando o espaço com celulares e lágrimas nos olhos. Foi o ponto alto emocional da noite, coroando um show que transitou entre introspecção, fúria controlada e celebração pura.
O Incubus demonstrou, mais uma vez, que envelhecer bem no rock é possível quando há autenticidade, talento e respeito ao próprio legado. O show em São Paulo foi mais que uma apresentação musical — foi uma experiência emocional, uma carta de amor a um disco que marcou gerações e um lembrete de que algumas músicas realmente atravessam o tempo com força renovada.
A turnê Morning View XXIII não só honra o passado, como mostra que o Incubus ainda tem muito a oferecer, tanto aos fãs de longa data quanto aos novos ouvintes que começam a descobrir o universo rico e multifacetado da banda californiana.