Bush faz show curto, nostálgico e sai aclamada no Vivo Rio

Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
O Bush é daquelas bandas que fizeram bastante sucesso em meados dos anos noventa e que hoje soa como uma caixa de pílulas de nostalgia. No período em que as principais representantes do grunge já estavam mais do que consolidadas, uma nova leva apareceu para dar segmento ao estilo de rock alternativo, de guitarras sujas à lá Nirvana e vocais comerciais à lá Pearl Jam. Os principais nomes dessa nova safra eram o Silverchair e a banda de Gavin Rossdale. Na época em que lançaram o seu álbum de estreia, o bom Sixteen Stone, o grupo britânico sofreu com a rejeição da galera que usava camisa de flanela, mas pegou na unha uma nova geração, que alguns anos depois, ouviria não só o Bush, mas também Blur, Oasis e o já citado, Silverchair.

Impulsionado pela rádios rock brasileiras e pela MTV Brasil, o Bush emplacou sucessos de uma maneira ainda maior que alguns dos principais pioneiros do grunge aqui no Brasil. Tanto que "Machinehead", segunda canção do show desta noite, soa fácil como um hino rock à frente de um bom público presente no Vivo Rio. O riff de guitarra, já icônico, remete à memória (dos que já passaram dos 40) aquela imagem da motocicleta em alta velocidade, que aparece no videoclipe que virou febre na MTV, e que hoje coleciona mais de 25 milhões de views só no Youtube. O refrão é cantado de forma uníssona pela casa, como se fosse a última música da vida. Para muitos, o maior sucesso rock do Bush, que ficou conhecido também por fazer singles radiofônicos quase rock balladsOutros hits surgem com a mesma adesão popular emotiva, como "Greedy Fly", com uma cantoria mais alta ainda, e "Swallowed", numa versão quase que à capela, mostrando que o Bush é também um grupo anexado ao pop. 

Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
O show é quase uma playlist dos novos tempos. Uma apresentação de curta duração, com apenas 14 faixas e aproximadamente 1h20. E isso é talvez o maior ponto a se questionar. Porque além de ser um pedaço bem reduzido de uma carreira com oito discos de estúdio, essa falta de dedicação a um repertório mais extenso, acaba por expor uma proposta até equivocada, de que a banda existe apenas para satisfazer um público mais nostálgico. Ou talvez, podemos levantar a tese de que eles mesmos não acreditem tanto na força de seu conjunto de canções mais recentes. Tudo bem, é uma turnê de grandes sucessos. Mas será que isso se resume apenas ao que foi registrado há cerca de trinta anos? Ninguém contesta que é um ótimo show de rock, mas o fato é que o povo queria mais - nem que fosse mais canções dos últimos discos.

Há quem vá dizer que o mais legal da banda é daquele tempo mesmo, quando Gavin era um cara de cabelo vermelho e namorava Gwen Stefani. Mas quando você escuta o ótimo refrão de "More Than Machine" sendo cantado por uma galera empolgadíssima no Vivo Rio, você constata que isso está longe de ser verdade. Tirando os principais sucessos, muito do que o Bush produziu em álbuns como The Kingdom e The Art Of Survival, são canções tão boas ou superiores ao que foi criado nos anos noventa, com a vantagem de ser ainda algo mais bem acabado e maduro, sonoramente falando.

Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
Por isso mesmo, foi realmente uma pena que canções como "The Kingdom", ótima faixa-título do álbum de 2020, tenha ficando de fora do setlist. Algo para lá de questionável, principalmente porque que trata de um single que tocou bastante por aqui - e por essa ser uma turnê de hits, não é mesmo? A prova de que o grupo pode apostar mais no presente ou num passado não tão distante, é ver a funcionalidade ao vivo da densa "Heavy Is the Ocean", e da pesadona "Blood River", músicas com gás para ditar os shows da banda, e que não devem nada aos antigos sucessos.

Com o carisma em dia, Gavin mantém ainda o posto de ótimo frontman. Ele se comunica com os fãs da grade, dança com desenvoltura e mesmo batendo à porta dos 60 anos de idade, ainda dá os seus pulinhos e corridinhas de um lado ao outro do palco. Embora tenha optado por recorrer aos artifícios fakes do showbusiness, como a utilização de vozes pré-gravadas em algumas canções (principalmente nas novas), o vocalista adota uma presença mais solta, largando mão da guitarra na maior parte do tempo e dando ao show, uma atmosfera para cima, que traz o povo na palma das mãos. O encerramento com "Comedown", com a plateia aplaudindo a banda de pé, por alguns minutos, deu o tom de satisfação dos fãs, que voltaram para casa felizes e com gostinho de quero mais.

Assista abaixo a nossa cobertura em vídeo
  

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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