Garbage e L7 no Rio: uma noite de expoentes do rock noventista

Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
Em mais uma noite decepcionante em termos de público, o Rio de Janeiro recebeu na Sacadura 154 (inicialmente o show seria no Vivo Rio, mas devido a uma baixa procura de ingressos, foi transferido para um local menor) duas bandas que fizeram muito sucesso nos anos 90, L7 e Garbage. Enquanto o L7 é uma banda totalmente formada por mulheres, o Garbage tem como sua força motriz a vocalista escocesa Shirley Manson, o que já determinava que a noite seria das mulheres.

L7 faz show de altos e baixos
 
Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
"Are You Ready For Rock And Roll?", foi essa a primeira frase dita por Donita Sparks (vocal/guitarra) para atacarem em seguida com "The Beauty Process" que não animou muito a reduzida plateia. Mesmo com Donita sendo uma ótima mestre de cerimônias, as pessoas só se empolgaram com os hits ou semi-hits tais como "Andres" e "Monster", essa cantada por uma sorumbática (como de costume) Suzi Gardner (vocal/guitarra).

Até tivemos palmas espontâneas em "Fuel My Fire", mas a pegada punk com solos de guitarras desafinados de algumas canções foram um verdadeiro suplício presenciar, inclusive com pedidos de Donita de não ligarem as luzes mais fortes para não mostrar (provavelmente) que a idade chega para todos. Por outro lado, as músicas difundidas a exaustão na MTV Brasil nos anos 90 como a previamente citada "Andres" e "Everglade", arrancaram uma boa reação dos presentes.

Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
O show continuou entre altos e baixos, e eis que na execução da ótima e maior hit "Pretend You're Dead", Shirley Manson e parte do Garbage entraram no palco de surpresa para dançar e cantar (bem pouquinho) e isso elevou a temperatura da Sacadura 154 e o final do show com "Shitlist" e "Fastest And Frightening" soou bem melhor do que a maior parte do show.

Garbage e Shirley Manson nos braços da galera
Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
Chegou o momento principal da noite, e o Garbage mostrou logo de cara para o que veio com a excelente "Queer", um dos singles do seu álbum autointitulado de 1995 e o clima ficou outro. Falar que a presença de Shirley Manson hipnotiza qualquer um é mais do mesmo. No alto dos seus 58 anos (!!!), a agora loura mostrou que além da beleza física, sua voz e presença de palco continuam muito acima da média. 

"Empty" teve uma repercussão surpreendente, mostrando que a maioria estava mesmo para ver o Garbage, cantando seu refrão mesmo após o final da música! "Rio de Janeiro, holy cow!", exclamou a diva, para em seguida contar uma história de quando era mais jovem e estava na casa de sua melhor amiga e viu o L7 na TV tocando "Pretend You're Dead", e que era para todos nós acreditarmos que nossos sonhos se tornam realidade como o dela. 

Com um repertório bem abrangente, mas com base nos dois primeiros álbuns da sua carreira, esse fato não pareceu incomodar os fãs presentes. Músicas como "Wolves", de 2021, se entrelaçava com "Vow" de 1995, fazendo o show parecer muito bem roteirizado, onde a iluminação fez muita diferença positivamente em um palco bem simples.

Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
A oitentista "Wicked Ways" foi outro momento memorável. Com um ótimo bom gosto nos samplers e mais um momento belíssimo de interação com o público, a banda ainda encaixou um trecho de "Personal Jesus" do Depeche Mode, dando um brilho maior à execução desse "lado B" do disco Version 2.0 (1998). Ao final da música e após se desculpar por não saber falar português, Miss Manson descarregou um discurso, criticando a situação do mundo atual cheio de "fucks" - no melhor estilo escocês de ser - e dedicou a sintomática "The Trick Is To Keep Breathing", na sua maior performance vocal da noite. Simplesmente brilhante.

A preferida da casa, "Special", veio com um arranjo ligeiramente diferente do original, e que agradou muito. Eis que após o término da mesma, a vocalista elogiou uma criança bem pequena por estar ali, mas não sem antes "passar um pito" nos pais que deixaram ela perto das caixas de som sem proteção nos seus ouvidos em desenvolvimento, mostrando que a fama da relação de amor com seus fãs não é conversa de botequim.

Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
A nova baixista Nicole Fiorentino (ex-The Smashing Pumpkins) mostrou serviço na clássica "Stupid Girl" junto ao subestimado baterista/produtor Butch Vig com parte do público (cafona) filmando sem parar, situação que só piorou quando "Only Happy When It Rains" veio à tona. Lenta e somente nos teclados, a voz sexy de Shirley deu o tom, até a deliciosa explosão do refrão desse hit que foi mais um que mexeu forte com os presentes.

O final do show se aproximava, mas antes mais um discurso inflamado de Shirley Manson após "I Think I'm Paranoid", onde ela falou da importância da comunidade lgbtqiapn+, mandando todo seu amor a essa parte representativa da sociedade e tudo isso com um pequeno leque na mão em outro momento sintomático, mas ainda mais necessário.

Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
"Cherry Lips" e a fabulosa "Push It" finalizaram o show deixando quase todos satisfeitos. Quase todos? Sim, faltava seu maior hit e "When I Grow Up", que foi da trilha-sonora do filme blockbuster "O Paizão" (1999) com Adam Sandler, e eis que, no que a música começou a ser tocada, Miss Manson desceu do palco e no melhor estilo "Seu Boneco", foi literalmente para a galera. O público, respeitosamente, ficou ao lado dela, cantando, tirando fotos e filmando em um momento único para a vocalista, e certamente inesquecível para os fãs presentes, que terminaram extasiados com um grande show - que certamente estará presente na lista de melhores de 2025, pelo menos para esse que vos escreve. Deu até vontade de gritar: "Shirley, eu te amo!", mas tive que manter minha postura e fama de mau.

Tarcísio Chagas

Foi iniciado na música no meio da Soul Music, Rock Br e se perdeu de vez quando comprou o disco "Animalize" do KISS em novembro de 1984. Farofeiro raiz, mas curtidor de quase todos os estilos musicais, Tio Tatá já foi há mais de 1000 shows em 40 anos de pista. Já escreveu para o Metal Na Lata, Confere Rock, Igor Miranda site, Rock Vibrations e eventualmente colabora com o canal Tomar Uma no YouTube.

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