É impossível qualquer fã de metal, que esteja aberto à novidades, não ficar como um cão em alerta (de ouvidos atentos), ao ouvir o Jinjer pela primeira vez. O canto divino e monstruoso de Tatiana Shmayluk é geralmente o convite inicial para qualquer um se aventurar ao som desses ucranianos, só que tem muito mais coisa aí nesse pacote. A prova disso, é que a banda vem ganhando cada vez mais espaço nos grandes festivais e nas turnês ao redor do mundo, e seguem conquistando uma legião fiel, disposta a digerir essa maçaroca quase esquizofrênica e furiosa, que é o som deles.
Se o termo metal alternativo passou ser usado para qualquer coisa que saia da cartilha do headbanger convencional, com o Jinjer, o rótulo é mais do que justificado. Mas em Duél, eles foram ainda mais longe. Basta ouvir a faixa-título, que parece uma mistura dicotômica de Dillinger Escape Plan com King Crimson. A bateria de Vlad Ulasevich é algo que parece ter sido concebido em laboratório. O cara usa os pratos e o contra-tempo em andamentos quebrados, com uma caixa de sonoridade opaca, seca, que é facilmente esmagada por riffs de guitarra robustos. A voz de Tatiana é divina. Ela canta limpo em quase toda a canção, mas mantém as transformações guturais características.
Já "Tantrum", que abre o disco, é aquele teste de sobrevivência para as rodas de pogo nos shows. É furiosa e cheia de velocidade em quase toda a sua extensão, mas chama a atenção pela mudança de compasso na parte final. Aliás, o som da banda é marcado por essa inquietude rítmica. Quase todas as canções possuem essa alternância de "humor". Todas têm seu momento de raiva, de tranquilidade, e de ansiedade. O Jinjer parece uma criatura fugitiva, descontrolada, e totalmente bipolar, sonoramente falando. Há momentos mais convencionais, como por exemplo, "Tumbleweed", que apresenta uma levada totalmente melodiosa, quase pop (!?). "Green Serpent", que vem em seguida, também. Ambas com Tatiana apostando num vocal mais épico, mas sem fugir das mutações, que inclusive, promovem um fantástico dueto entre a doçura e seu lado monstro raivoso.
Uma das mais interessantes desse Duél, é "Dark Bile", que começa numa guitarra cheia de acordes dissonantes, à lá Jesus Lizard, mas que descamba num riffão grotesco, de afinação baixa, numa das mais violentas do álbum. Um dos singles do disco, "Someone's Daughter", é uma canção padrão da banda, mas que tem como destaque o instrumental cheio de passagens avantgarde, onde brilha o baixo de Eugene Abdukhanov, que trabalha quase que de forma virtuosa ao lado do excelente guitarrista Roman Ibramkhalilov. Embora seja um álbum amargo, pesado em demasia, ele é altamente técnico e cheio de nuances instrumentais que saltam aos ouvidos mais atentos e entendidos do negócio.
Duél é certamente o álbum mais pesado e agressivo do Jinjer. E isso é reflexo de como a banda conseguiu traduzir seu sentimento atual - onde foram impactados pelas mortes causadas no seu país por conta da invasão russa. Basta atentar a letra de "Rogue", onde o presidente russo, é descrito nas palavras de Tatiana, como um predador impiedoso. O senso de urgência do álbum, reuniu uma banda afiada, inquieta e sentimental ao extremo, nesse, que já pode ser considerado o disco mais interessante da carreira do grupo até o momento.