Ian Astbury do The Cult fala sobre atual momento da banda e relação com o Brasil

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The Cult, uma das bandas mais icônicas e influentes da história do rock, desembarca no Brasil esta semana com uma turnê comemorativa dos 40 anos de uma carreira repleta de sucessos e álbuns essenciais ao longo das décadas. Com produção da Liberation Music Company, a turnê, aclamada por fãs e pela crítica especializada, já teve ingressos esgotados em todos os países que visitou até agora. No Brasil, o grupo iniciou a turnê no Rio de Janeiro (Vivo Rio, 22 de fevereiro), e se apresenta em São Paulo neste domingo (23), no Vibra. O giro pelo Brasil finaliza com um show em Curitiba, no Live Curitiba, no dia 25 de fevereiro. Os últimos ingressos para os shows estão disponíveis no site da Eventim.

Liderada por Ian Astbury (vocal) e Billy Duffy (guitarra), a banda The Cult deixa como legado uma legião de fãs ao redor do mundo e uma discografia sólida e recheada de hits atemporais, com destaque para quatro álbuns que são constantemente lembrados entre os maiores lançamentos da história do rock: Love (1985), Electric (1987), Sonic Temple (1989) e Ceremony (1991).

Em entrevista ao Rock on Board, Ian conta um pouco sobre as expectativas para os shows no Brasil, sua relação com o país e projetos futuros.

Oi, Ian, como você está? Obrigada pelo seu tempo e por estar com a gente aqui hoje. É um prazer estar falando com você, especialmente com a banda aqui no Brasil começando a tour hoje!

Obrigado. Estou muito bem, e você? Estamos animados por estarmos aqui (PS: A entrevista aconteceu horas antes do The Cult subir no palco do Vivo Rio).

Vocês tiveram uma jornada incrível dentro da história do rock, eu queria saber como é para você ainda estarem tocando e se conectando com o público mundial?

Como eu me sinto? Tenho sensações mistas. Às vezes é ótimo, às vezes é ruim. Às vezes é realmente desafiante. Estar no Brasil é incrível. Mas, eu ainda não tive tempo de ver nada. Nós só viemos do aeroporto. Estávamos com jet lag. Fiquei descansando no quarto do hotel, pedi serviço de quarto, blá, blá, blá. Esse é o estilo de vida. Você está em um aeroporto, você está em um hotel. Todo mundo acha que, você vai para uma festa, você vai fazer tantas coisas na cidade, mas não é bem assim. Normalmente eu fico preso no hotel. Eu me exercito, talvez. Ontem eu estava muito cansado, para ser honesto com você. Porque nós acabamos de fazer 56 shows. E depois tive um enterro da família em dezembro, e depois houve os incêndios em L.A. Então tem sido desde junho, sem parar.

Sim, posso imaginar que deve ser uma rotina difícil, mas também muito gratificante, né?

E também tive um novo filho, que é muito legal. Eu tenho um novo bebê.

Isso é muito legal! Parabéns!

Obrigado. Se você não sabe muito sobre bebês, eles às vezes, não dormem a noite toda. Os dentes do meu filho estão nascendo agora, então ele dorme 3, 4, 5 horas, se eu tiver sorte. E estar em turnê é desafiante.

Eu posso imaginar. E vocês tocaram no Brasil várias vezes ao longo dos anos. Mas já tem quase 8 anos desde a última vez que vocês vieram. Qual é a sua conexão com o público brasileiro?

Eu acho que a última vez que tocamos no Brasil foi em 2017. Então isso é, caramba, 8 anos, uau! Não é 8 anos total, é mais como 7 anos. 7 anos e alguns meses. E eu estive aqui com o The Doors também. Eu tive muitos shows no Brasil. Você quer que eu diga algo legal sobre as pessoas brasileiras? Haha.

Haha, se você quiser, claro. Mas como é a conexão com o público aqui? Como se sente estando de volta aqui?

Os jornalistas brasileiros sempre me fazem essa pergunta. Eles dizem "o que você acha do público brasileiro?" Eu digo, "o que você acha que nós achamos do público brasileiro?" Todo mundo sabe. Todo mundo na banda, todo músico que eu conheço. Quando eu estou na Alemanha, eles me perguntam, "quais são os melhores lugares do mundo para tocar?" Eu sempre digo, Brasil, Argentina e talvez, Escócia. Porque o público é incrivelmente apaixonado. E tem algumas cidades muito especiais. São Paulo é muito especial, Buenos Aires é muito especial. A cidade do México é muito especial. Eu não sei porquê. Talvez a cultura. As pessoas são muito abertas, muito apaixonadas, muito livres. Acho que é isso, talvez eles tenham o espírito mais livre. Há um certo espírito livre nos brasileiros, que é exuberante. São pessoas muito sensuais. E... Eu gostaria que nós morássemos muito mais perto do Brasil. Um dos problemas que nós temos agora com turnês, é que é tão caro. De transportar equipamentos, a logística, hotéis, traslados, tudo. Fazer shows tem ficado cada vez mais caro e mais difícil. Mas também a pandemia foi um grande motivo de não termos voltarmos ao Brasil antes. A pandemia destruiu muitas bandas. Muitas pessoas não conseguiram passar pela pandemia. Ainda estão lutando.

Sim, posso imaginar que muitos artistas passaram por momentos difíceis e ainda estão se recuperando. Foram anos bem difíceis.

Com certeza. Nós ainda estamos nos recuperando da pandemia. Mas nós estamos aqui agora.

Sim, exatamente. E eu sinto que a pandemia fez o público ficar até mais animado para ver as bandas e ter vocês de volta aqui. O público tem estado muito animado em receber esses grandes shows novamente.

Nós estamos muito agradecidos por estarmos aqui. Eu estou tão feliz que podemos estar aqui, de estarmos começando 2025 no Brasil. É o começo da nossa turnê.

Isso é incrível.

E o The Cult.. Estão dizendo que é nosso aniversário de 40 anos, mas isso não é realmente o que estamos fazendo. O The Cult é uma banda ao vivo. Nós começamos como uma banda de ao vivos. O The Cult começou em 1984 como uma banda que fazia ao vivos. Mas, essencialmente, nós saímos de uma cena de música ao vivo. A música ao vivo é uma parte muito importante do The Cult. É nosso DNA. Sabe, escrever músicas é algo que nós aprendemos ao longo do caminho. Nós evoluímos para sermos escritores de músicas. Mas inicialmente era realmente sobre performance. Performance ao vivo. E eu sei que nós temos uma ética muito forte. Nossa ética de performance é muito forte. Nós setamos normas para nós mesmos, nós sempre tentamos nos reunir. Nós somos bastante disciplinados, nós somos muito mais disciplinados do que nós costumávamos ser. Quer dizer, nós podemos ser loucos no palco, mas em nossas vidas, nós não somos tão loucos, não somos tão autodestrutivos. Você sabe, quando nós éramos mais jovens, nós éramos muito mais autodestrutivos. Às vezes as pessoas dizem que os nossos shows são caóticos. E pensamos, bem, quando éramos mais jovens, éramos muito mais caóticos. Agora somos muito mais disciplinados, mas o show ainda tem energia alta.

Sim, e podemos sentir isso em seus shows. É uma energia incrível. E podemos sentir a conexão entre vocês no palco e como isso funciona e se conecta com todos que estão ali.

Sim, é isso que fazemos. Essa é a nossa disciplina.

Vocês vêm tocando por várias décadas. Como você se sente e como acha que isso impacta essa nova geração de fãs?

Eu não sei. Você tem que perguntar a eles. Porque eles não tiveram a experiência que nós tivemos. Nós tivemos a nossa experiência. É completamente diferente. Quando começamos, antes das mídias sociais, a energia dos shows era muito diferente. Antes nós não tínhamos um celular. Isso mudou a dinâmica dos shows. Agora eu só ignoro isso. Quando as pessoas começavam a colocar celulares nos shows, eu falava, o que vocês estão fazendo? Guardem seus celulares. Vocês estão perdendo o show. Vocês estão perdendo o momento. A imagem que você vai conseguir no celular não vai ser ótima, e não vai soar muito bem de qualquer forma. Então só esteja presente neste momento. Mas agora eu deixo as pessoas fazerem o que quiserem.

É difícil controlar isso…

Eu geralmente não digo nada. Eu apenas me foco no que estou fazendo. Eu estou integrado com a banda, integrado com a música. E, é claro, eu quero conectar com o público. Esse é o aspecto mais importante do que estamos fazendo.

Sim, com certeza. E olhando para a sua carreira, há algum momento que você considera que foi crucial ou que tenha trazido uma mudança significativa, algo assim?

Tudo. É uma experiência diferente todos os dias. Eu acho que quando você está em uma banda, você tem uma experiência de vida acelerada. Você tem que crescer rapidamente. Além disso, você tem muito mais responsabilidades. Você tem uma responsabilidade com a música. Você tem uma responsabilidade com o seu público. Você tem uma responsabilidade com você mesmo. Você tem que aprender a ser muito mais integrado como adulto. Sabe, você não pode sempre ser autodestrutivo. Estar sempre em modo de festa. Você destrói o privilégio de poder fazer o que você faz. Se você não o trata com respeito... E nós sabemos que muitos artistas não tratam suas carreiras com respeito. Eles não tratam seu público com respeito. Eles não tratam sua música com respeito. Muitos desses artistas estão mortos. Muitos desses artistas estão em mal estado. Tem muita disciplina envolvida nisso. E foco. Para fazer o melhor show, você tem que estar focado. Você tem que estar focado e descansado.

E há algum projeto novo a caminho para você ou para o The Cult?

Sempre! Tem sim. Mas agora estamos nos organizando. Agora estamos em tour até junho. Então... Talvez em abril possa haver alguma gravação. Estou trabalhando em várias coisas diferentes. Tem música do The Cult, estou trabalhando em músicas solo também. Mas também tem filmes, algumas obras para filmes. Sempre trabalhando em conteúdo, mídias sociais. Trabalhando em direção criativa para vestimentas... Porque o The Cult não tinha seu próprio merchandise por 33 anos. Nós não tínhamos nosso merchandise. Então agora nós só pegamos isso de volta, agora nós estamos trabalhando nisso. Porque nós não queremos só vender camisetas, sabe o que eu estou dizendo?

Sim, claro.

Eu não estou interessado em só vender uma camiseta com o logo da banda. Eu estou interessado em expandir a marca para além disso, para que possamos fazer produtos mais únicos. Coisas que eu gostaria de vestir. Coisas que eu gostaria no meu estilo de vida. Então estamos trabalhando nisso agora. Então estamos em uma fase de renascimento. A banda está em uma fase de renascimento. Os shows ao vivo foram muito intensos, sabe. Nós tocamos em alguns lugares incríveis, como o Sydney Opera House ou o Royal Albert Hall em Londres. Recentemente, tivemos shows incríveis. Então é ótimo e um privilégio que estamos começando 2025 no Rio de Janeiro.

Isso é muito legal! E o que os fãs podem esperar dessa turnê, desses shows no Brasil?

O que podem esperar? Eu não sei, eu não sei quais as expectativas deles. Hahaha. Quaisquer que sejam as expectativas deles, espero que possamos atingi-las.

Eu tenho certeza que vocês irão.

Estamos realmente focados no que estamos fazendo. Eu digo que o rabo não pode abanar o cachorro. Isso significa que se você está sempre pensando no seu público, pensando no que os fará felizes, então você não está focado no que você está fazendo. Você consegue imaginar uma partida de futebol em que os jogadores escutassem o público? Seria um desastre. Então realmente temos que focar no que sabemos que funciona para nós e acreditar que isso irá nos fazer conectar com o nosso público. Porque eu não vejo o público como algo separado no show, eu não vejo as pessoas que estão no show do The Cult estando separadas da banda, é como um grupo único. É uma experiência coletiva. Então também depende de como o público reagirá a nossa música e como responderemos ao público. É uma relação íntima. Então é muito importante para nós que, primeiramente, consigamos fazer a nossa parte direito, temos um set que funcione para nós, que estejamos descansados, focados no show, não estamos correndo por aí, nos destruindo como fazíamos quando éramos jovens, sabe? Estamos realmente focados no show para fazer o melhor show que pudermos fazer.

E eu tenho certeza que todos serão incríveis. Sei que as pessoas estão muito animadas de que vocês estão aqui, elas estão esperando por isso há muito tempo. E pelo que vejo ao longo das décadas, vocês nunca decepcionam.

Para ser honesto com você, eu acho que estamos nos tornando cada vez mais fortes. Conforme fomos envelhecendo, nós aprendemos muito. Aprendemos muito com os erros que fizemos e estamos muito mais coesos como uma banda, muito mais integrados. Sabe, a Baroness também estará tocando conosco nesses shows. Eles são uma banda incrível. É algo único. Não estamos aqui para um festival, estamos aqui como The Cult, como Baroness, é muito especial, uma oportunidade rara. Então, se você teve sorte de conseguir um ingresso para esses shows, posso dizer que você pode esperar uma noite maravilhosa, uma experiência memorável.

É muito legal escutar isso. Você tem algum recado final que gostaria de deixar para os fãs brasileiros?

Só venha para o show. Não estamos aqui toda semana, gostaríamos de estar aqui com mais frequência, mas não conseguimos, então não perca o show. Queremos ver você lá. E sejam gentis uns com os outros. O recado é: sejam gentis uns com os outros no show. Já vimos brigas em shows e isso não é legal. Nós nos vemos como uma banda comunitária, somos muito abertos, todos são bem vindos, não tocamos para um gênero específico, então trate todos com respeito, seja tratado com respeito. E vemos vocês em algumas horas!

Isso é muito legal. Muito obrigada pelo seu tempo, foi incrível falar com você. E nos vemos no show. Tenha um excelente show!

Obrigado, estou animado para te ver lá.

Carol Goldenberg

Advogada de formação, amante incondicional da música desde terna idade. Frequentadora assídua de shows e festivais, sempre presente nas plateias dos mais variados gêneros. Guitarrista, roadie e guitar tech. Recentemente, decidiu seguir seu coração, ingressando no mundo da produção de eventos.

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