Hellacopters mantém formato único que consagra belas canções rock’n’roll

Hellacopters

Overdriver
⭐⭐✩ 4/5
Por  Marcos Bragatto 

Naquela história toda da fusão de punk rock garageiro com hard rock setentista que se firmou há tempos, sobretudo em terras suecas, não há como não salientar o Hellacopters como a banda que conseguiu consolidar um modo único de representar essa espécie de “Frankestein bastardo”. Por isso, ao chegar às portas da quarta década de existência, lança um álbum que, além de reconhecível facilmente pelo modo único de compor e tocar, se estabelece também entre aqueles que fazem um disco igual ao outro, como motivo de elogio, casos flagrantes de monstros sagrados como AC/DC, Ramones e Motörhead. O que aponta que este Overdriver é acertada sequência do também ótimo Eyes Of Oblivion, petardo que marcou a volta do grupo, há três anos. 

Nem era exatamente para ser assim, já que, depois de um sensacional disco de covers de bandas meio obscuras (Head Off, de 2008), o Hellacopters saiu de cena para retornar com a formação original apenas para shows, em 2016. Não resistiram, claro, voltaram a gravar. E o que temos aqui é um apanhado de canções de rock retrô sessentista/setentista (11 faixas em 40 minutos), com o peso inerente ao gênero, sim, mas absolutamente pop no sentido de colar nos ouvidos já na primeira audição. E com alto poder de combustão, o que dá pra imaginar como essas músicas vão bater na moleira ao serem tocadas ao vivo. Caso exemplar de “Don't Let Me Bring You Down”, com um ótimo riff de guitarra que conduz a música do início ao fim, e um delicioso refrão. A música parece ser arranjada nos mínimos detalhes pra impregnar a cabeça da gente e não sair nunca mais. 
 
 
No comando da empreitada está o vocalista (daqueles afinados e facilmente verificáveis), guitarrista e tocador de tudo Nicke Andersson, que você deve conhecer – e ainda tem mais essa - como o baterista do Lucifer, e que aqui compõe quase todas as faixas. Não que seja novidade, mas curiosamente uma insuspeita inclusão de teclados dá um novo molho nas músicas, naquela vibe Ramones meets psicodelia sessentista. Contribuição provável de Anders Lindström, tecladista, mas que também toca de tudo. Dá pra perceber logo de cara em “Token Apologies”, explosiva canção pop rock retrô, mas com pegada atual, que começa como se fosse final de show; no rockinho “Soldier On”, com a tríade mais que perfeita riff marcado + solo de teclado + solo de guitarra; e ainda na alegrinha “Do You Feel Normal”; quem nunca? A baixa da vez é Dregen, o guitarrista, também do Backyard Babies, que, segundo consta, não conseguiu se recuperar a tempo de uma lesão em uma das mãos e ficou de fora das gravações. 

Outras músicas legais – não há nada ruim nesse disco, ressalte-se – são “Doomsday Daydreams”, cujo riff de cartão de visitas deságua em ponte + refrão de comover o mais insensível dos céticos; a quase power pop - quem lembra? - “(I Don't Wanne Be) Just a Memory”, que poderia animar qualquer festinha juvenil, caso a juventude não tivesse acabado; e o desfecho com “Leave a Mark”, outra boa concatenação de arranjos certeiros em um rockão estradeiro dos bons, cujo arremate, com solos sobre solos de guitarra, deixa o disco, curto, mais intenso, com aquele retrogosto de querermos ouvir de novo. Ou seja, “Overdriver”, com boas e diretas canções de rock’n’roll, é o puro âmago do Hellacopters. Dica: vá atrás também do Eyes Of Oblivion e ouça os dois discos em sequência. É batata!

Marcos Bragatto

Jornalista e crítico de música especializado em rock desde 1993. Foi colaborador das revistas Dynamite, Rock Press, Roadie Crew, Bizz, Revista MTV e Billboard Brasil. No currículo, eventos como Rock in Rio, Lollapalooza, Hollywood Rock, Monsters Of Rock, Dynamo Open Air (HOL), Reading Festival (ING), Gods of Metal (ITA) e Wacken Open Air (ALE). Há mais de uma década é Editor e faz tudo no site Rock Em Geral.

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