The Wind, vale a pena, apesar da auto sabotagem

Foto: Arquivo da banda

Os caras são talentosos, gravaram um álbum bem legal, mas, pergunte como encontrar informações, agenda, etc. e tal? Não tem! Esses dias bati um papo com o guitarrista da patota, um tal de Alessandro Antunes, e pedi para ele me mandar um release, um textinho com informações básicas, tá ligado? Formação, influências, blá-blá-blá só para quem ouvir não ficar tão perdido... “Putz, mano, não temos! Preciso fazer”! Tá bom, eles tem perfil no Instagram e no Spotify, mas, os velhinhos são preguiçosos demais para alimentar isso tudo!

Tirando a sacanagem de lado, a rapaziada de Santo André gravou e lançou bem quietinha o álbum “Brighter Future”, agora no fim do ano, um disco de ROCK, em maiúsculas, sem frescura, uma turma de velhos amigos a fim de tomar uma cerveja e tirar um som juntos, e mandaram muito bem.

Os trabalhos começam com “Waiting You”, que me lembrou de leve o New Model Army, talvez pelo bom trabalho de violão em toda a canção, que deixa a banda com um apelo rural, ou folk se preferirem, coisa marcante em bandas do southern rock da década de 1970.

A sequência vem com “All Right”, com o violão e a voz de Ricardo Alves, que em seu currículo figura como o primeiro vocalista da banda NITROMINDS, dando a falsa impressão de que temos uma continuação literal de “Waiting You”, pois aos poucos a guitarra e o teclado se mostram presentes em um belo rockão.

A faixa título “Brighter Future” é a próxima, a canção mais longa do trabalho, marcado em sua maioria por canções curtas e diretas, com 4min45s. Aqui se destacam os coros e se eu não soubesse quem são, juro que pensaria estar ouvindo alguma das centenas boas bandas obscuras, ou nem tanto, do hard rock setentista norte-americano ou inglês. Manja aquela praia que saía do trio de ferro Sabbath-Purple-Zeppelin? Coisas como Free, Bad Company, Mountain, Ten Years After, Atomic Rooster, Moly Hatched, 38 Special e afins? É por aí...

Where I Stay” é a quarta faixa, e que me remete ao bom e velho Neil Percival Young, tanto solo quanto, e principalmente, junto de Crosby, Stills & Nash, num belo trabalho vocal do grupo.

E chega a vez de “Hey You”, diferente de todo o resto até agora, mais rock, menos folk, mais urgente, nos três minutos mais animados por enquanto. E a sequência com “Last Dance” mantém o clima encerrando a primeira metade do trabalho da rapaziada do ABC paulista, dizem, “a Detroit do rock brasileiro”.

E vem “Ordinary Man”, com uma pegada que lembrou o Led Zeppelin pós “Houses of the Holy”, às vezes folk, talvez country. A canção vai passando e outras referências me vêm à mente, como Pete Townsend e o The Who. Que música bonita e bem feita!

Babe Revolution” começa com a bateria a toda, em outro rockão animado. E vem “Stooge” com o baixo do Juliano abrindo muito bem os trabalhos, antecipando a entrada de um tecladão que remete ao Deep Purple, numa faixa onde a guitarra é mais funky que rock em determinado momento, até descambar para um solo matador.

A calminha “Crossroads” chega num clima gostoso, curtinha e legal, antes de “No Other Love”, outra que passa dos quatro minutos, num clima épico, em outra bela canção.

I Don’t Wanna Go” encerra bem um ótimo álbum. Como disse lá no alto, The Wind é ROCK, sem frescura, altamente recomendado a quem adora dizer que o rock morreu ou a quem gosta de ouvir bandas ‘novas’ como o Greta Van Fleet ou o Rival Sons que estão nos anos atuais, fazendo rock como antigamente, sem vergonha de mostrar suas influências, como o The Black Crowes já fazia nos anos 80 e muita gente fará daqui a 20, 30 anos.

É a chance de nossos filhos e netos ouvirem artistas de sua época, tocando coisas com a qualidade que nós crescemos ouvindo. Melhor que o MC Qualquer Coisa, não acham? Mesmo que a rapaziada seja relaxada ao ponto de não se divulgar, se esconder e nem ter um release, se procurar, você achará eles.





Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

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