Completando cinco décadas, Iron Maiden faz mais um show inesquecível em SP

Foto: Stephan Solon
 
Muito se fala que o Iron Maiden vem ao Brasil mais do que deveria. Mas se for olhar pelo repertório recente, com músicas jamais tocadas e mudança de repertório, é mais falação dos detratores do que a realidade. Quarenta e cinco mil pessoas compareceram na primeira de duas datas ao Allianz Park em São Paulo e fizeram um show junto à banda. Diversos momentos emocionantes desde a abertura em "Caught Somewhere In Time" até o 'grand finale' com a clássica "Wasted Years", o que tivemos durante uma hora e 45 minutos de espetáculo, foi uma banda que na maioria dos momentos parecia estar na casa dos seus 20 anos, menos o baterista Nicko McBrain - que em muitas músicas diminuiu a velocidade, modificou arranjos e omitiu notas como em "The Trooper" e, principalmente, em "Heaven Can Wait", a qual ele não conseguiu tocar sequer parecido com o arranjo original. 'C'est La Vie', pelo menos o velhinho de 72 anos não se escondeu, tentou dar o máximo de si, e na maioria das vezes funcionou. E isso pouco pareceu importar para o enorme público presente no estádio do Palmeiras.

O começo com "Somewhere In Time" e "Stranger In A Strange Land" foi emocionante, e por serem músicas pouco tocadas ao vivo, basicamente só foram apresentadas ao público em 1986 e 1987 na turnê Somewhere In Time, o que tornou esse início anda mais especial.
 
Foto: Stephan Solon
 
Para surpresa de poucos, a novíssima "The Writing On The Wall" teve uma recepção no mesmo nível dos grandes clássicos da Donzela de Ferro. Desde a sua introdução acústica até um dos melhores solos de guitarra dos últimos tempos - cortesia do magistral Adrian Smith -, foi bastante curioso perceber a força de uma nova canção de de 2021 emocionando os fãs de décadas, e isso só prova o quanto o Iron Maiden ainda é relevante.

Um parágrafo à parte para falar do citado Adrian Smith: Tido por muitos como o melhor músico do Iron Maiden, se alguém ainda tinha dúvida a respeito disso, a noite de ontem serviu para mostrar a categoria e destreza de um dos maiores músicos da história do Heavy Metal. Com solos cheios de emoção, Adrian foi o protagonista da noite numa tour que coloca e justifica toda sua importância na história do Iron Maiden.

A surpresa foi a reação durante "The Time Machine", quando Bruce Dickinson pediu para eles pularem, e nenhuma alma ficou parada. Até os velhinhos, eu me incluo, obedeceram ao frontman.

Foto: Stephan Solon
 
Muito se fala em Argentina e Chile serem os melhores públicos do grupo na animação e participação nos shows do Iron Maiden, mas o público paulista ontem mostrou que não deve nada a esses países citados. Aliás, o público foi um show à parte. Tirando "Death Of The Celts", os paulistas não pararam um segundo sequer  - mas a inclusão dessa música no meio do set, foi provavelmente calculada para dar uma pausa para banda e público - que voltou ao estado loco-mode na sempre empolgante "Can I Play With Madness", sem muito tempo para relaxar.

Com uma sofrível interpretação de Nicko em "Heaven Can Wait" e com direito a um solo pouco inspirado de Janick Gers, a loucura voltou novamente aos trilhos, e tivemos a oportunidade de assistir pela primeira vez a execução de uma música que foi pedida ao longo dos anos pelos fãs da banda - e é claro que falo de "Alexander The Great", que foi interpretada de forma magistral pelo sexteto em mais um show particular de Adrian Smith. Sem exagero, diversas pessoas se emocionaram com essa canção de 1986, do aclamado álbum Somewhere In Time. Um momento especial e que ficará marcado em cada um presente no Allianz Park.

O maior hit e 'carne de vaca' "Fear Of The Dark" foi outro momento que levantou o estádio. Podem reclamar, espernear e dizer que não aguentam mais essa música ao vivo, só que na hora que os riffs introdutórios explodem nos PAs, a catarse coletiva é inevitável, assim como a faixa homônima "Iron Maiden", que muito provavelmente a maioria dos fãs não escutam em casa ou outro local, mas fica impossível ser indiferente ao vivo, ainda mais com dois Eddies no palco.
Fim do primeiro ato.
 
Foto: Stephan Solon
 
A longa e climática "Hell On Earth" do mais recente trabalho da banda, Senjutsu (2021), foi outro momento introspectivo, mas dessa vez até a página 10, quando a música explodiu e mostrou um crescendo de tirar fôlego ao vivo e numa versão ainda melhor do que no estúdio.

Daí pra frente o que assistimos foi uma covardia sonora. Imagina fechar o show com a dobradinha "The Trooper" e "Wasted Years"? Dois dos maiores hinos do heavy metal determinaram o fim da festa, excelente, por sinal.

Com alguns momentos em que a idade pesou, o Iron Maiden ainda soa relevante e necessário em um momento onde as grandes bandas de rock clássico estão encerrando a carreira. De resto, só nos resta reverenciar uma das maiores bandas da história.

Volbeat decepciona com um show nada empolgante

Foto: Stephan Solon
 
Na abertura, tivemos a banda dinamarquesa Volbeat fez um show de quase uma hora. A plateia curtiu com respeito, mas a sensação de que há vários anos eles vêm gravando o material muito parecido com o outro foi claramente notado.

Com um show extremamente burocrático e sem empolgação, nem a presença da ótima Lola Montez ajudou. Outro pecado foi a exclusão de seu maior hit "Cape Of Our Hero" em detrimento de faixas pouco expressivas. Banda errada no lugar errado.

EM TEMPO: Neste sábado, dia 7 de dezembro, foi comunicado que o baterista do Iron Maiden, Nicko Mcbrain, está se aposentando aos 72 anos de idade. Nicko está há 42 anos na banda. Notícia triste, mas completamente compreensível após todos os problemas de saúde enfrentados por Nicko, que afetaram absurdamente a sua performance ao vivo. Todo o nosso respeito e admiração por essa lenda que se aposenta após diversos serviços prestados à música. Longa vida ao grande Nicko Mcbrain!

Tarcísio Chagas

Foi iniciado na música no meio da Soul Music, Rock Br e se perdeu de vez quando comprou o disco "Animalize" do KISS em novembro de 1984. Farofeiro raiz, mas curtidor de quase todos os estilos musicais, Tio Tatá já foi há mais de 1000 shows em 40 anos de pista. Já escreveu para o Metal Na Lata, Confere Rock, Igor Miranda site, Rock Vibrations e eventualmente colabora com o canal Tomar Uma no YouTube.

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