Véspera de eleições no Rio de Janeiro, e nada melhor do que uma tarde de temperatura amena de primavera para conferir três shows no coração da Lapa, especificamente na casa de shows Agyto, que recebeu um excelente público.
Não é muito comum os shows começarem às seis da tarde, ainda mais na Lapa, mas foi o que tivemos. De cara, tivemos a banda carioca NoSunnyDayz, que ultimamente tem feito bastante barulho, inclusive chegando na final de uma promoção no canal Kazagastão, para participar do No Corre Sun Fest.
Surpreendente foi ver a Agyto com um público bem satisfatório para o primeiro show da noite, sorte da NoSunnyDayz, que aproveitou o show para promover o seu novo single "Take My Money" e mesmo com um som inicialmente vacilante, "You Had A Piece Of Me" deu início a apresentação.
A mistura do Heavy Rock com o Rock Alternativo caiu logo no gosto de quem não conhecia a banda, e graças também a notável melhora no som da casa, a tarefa ficou facilitada. Faixas como "The Jar" e "Mantra", do álbum de estreia The Gray, The Black And What We Expect (2023), mostram essa mistura agradável e poderosa do NoSunnyDayz, com direito a muita gente presente cantando a nova "Take My Money" - essa com um show de interpretação à parte da ótima cantora Carina "Nina" Pontes.
Definitivamente a NoSunnyDayz é uma banda para se prestar muita atenção.
Para muitos, a Apnea era a banda alternativa do baterista Boka dos Ratos De Porão, mas depois de assistir o que o quarteto santista se propôs a fazer, acho que esse status de paralela corre o risco de desaparecer em breve. Foi quase uma hora de show com um repertório com o pé no stoner, mas ao mesmo tempo uma energia fora do comum no minúsculo palco da Agyto.
Apesar de ter o tal pé no stoner, o Apnea traz bastante versatilidade e o fato de ter um guitarrista da categoria do Nando Zambelli (Ex-Garage Fuzz), eleva muito a qualidade sonora dos paulistas, trazendo ainda mais densidade ao estilo deles, ao mesmo tempo que Boka mostrou que não é um mero baterista de hardcore. Peso e pegada em medidas precisas.
Em meio a brincadeiras entre eles nos intervalos das músicas, tivemos ótimos momentos como em "In Search Of Peace", "Paper Cut" e seu mais recente single, "Undertow", todas recebidas com participação efetiva da plateia que foi ficando mais ensandecida a cada som tocado.
"Bus Ride" deu números finais à primeira apresentação do Apnea em terras fluminenses, mas não antes sem prometerem voltar o mais breve possível. Vamos aguardar...
Eles chegaram...
Em meio a um buzz vindo da Europa em torno deles, o Lucifer chegou na Cidade Maravilhosa e o que tivemos foi uma mistura de alguns gêneros e artistas clássicos do Rock. Às vezes caindo para o lado do Glam Metal dos anos 80, no momento seguinte lembrando a pouco reverenciada Blue Oyster Cult, outra hora emulando o Black Sabbath, o que pode incomodar alguns com essa variação excessiva.
No Palco
A vocalista Johanna Sadonis adentrou o palco ao lado dos seus quatro companheiros com uma indumentária bem diferente, mas com muito carisma, porém, algumas desafinadas ao longo de pouco mais de uma hora fizeram parte da plateia torcer o nariz, mas nada tão escandalosamente ruim como Arnel Pineda (Journey) no Rock In Rio 2024. Sem playback, isso acontece... Alô, Akon!
A trinca inicial foi expressiva. "Crucifix", "Ghosts" e "Midnight Phantom" colocaram fogo numa plateia de fãs que sabiam quase todas as letras, que são o ponto forte da banda. Com temas basicamente ligadas ao ocultismo, o quinteto sai de um lugar comum liricamente falando.
A experiência falou mais alto
O baterista Nicke Andersson mostrou porque desde o tempo que era do Entombed tem sua posição de destaque no underground roqueiro, seja no The Hellacopters ou Imperial State Electric, nessas duas bandas atuando como guitarrista e vocalista, só que no Lucifer, Nicke voltou ao seu instrumento de origem, a bateria, e desempenhou de forma primorosa mostrando todo swing e picardia de quem foi forjado nos anos 70 no melhor estilo Ian Paice (Deep Purple) de ser. Aliás, o sueco também é canhoto. "Fallen Angel" foi o melhor exemplo dessa comparação, além de ter um refrão espetacular.
A balada fúnebre "Slow Dance In A Crypt" deu um tom mais macabro do que festivo, o que não pode se dizer do momento oposto com "Bring Me His Head" e seu refrão arrasa quarteirão com as tais influências do Blue Öyster Cult. O show poderia ter terminado aí, mas depois daquela saída estratégica do palco, o Lucifer voltou tocando "She's So Heavy" dos The Beatles para emendar com a mais recente "Maculate Heart".
Guitarras em alto estilo
Um parágrafo à parte para falar um pouco da dupla de guitarristas Martin Nordan e Linus Bjorklund. Muita gente pensa que ter duas guitarras solos nas bandas é fácil, muito pelo contrário. A vaidade muitas vezes impera e a gente acaba assistindo um show de horrores com excessos de egocentrismo e virtuosismo, o que graças a Deus não aconteceu com a dupla. Com influência basicamente do som dos anos 70, Martin e Linus dividiram solos e chegaram a duelar agressivamente como na música "Reeper On Your Heels", um clímax perfeito para de fato encerrar o show, bem divertido, mas com a impressão que falta alguma coisa para o Lucifer estourar de fato.