Ratos de Porão e Ação Direta promovem noite histórica no Circo Voador

Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
Às vezes ser banda de abertura pode ser algo ingrato, e tocar cedo para um público pequeno pode parecer uma perda de tempo. Mas isso pouco importa quando se entra no palco para impressionar e com vontade de ganhar novos fãs.

A Ação Direta, com a sua experiência de mais de 37 anos, começa às 20h em ponto, a sua apresentação de 40 minutos, coesa e segura, armada até os dentes com uma discografia sólida. 

O começo com "Deuses, Dogmas E A Violência", "Sinais De Pulsação" ,"Corpo Fechado" e "Sitiado", verifica o impetuoso desejo em deixar uma marca eterna nos presentes. O baixista, vestindo uma camiseta da banda carioca Dorsal Atlântica, fala ao microfone lembrando com carinho de uma apresentação em 1992, no Garage Art Cult da Rua Ceará (hoje Grindhouse-Garage). "Finalmente estamos no Circo Voador" - diz, mostrando a satisfação em estar nesse palco sagrado e conceituado da história da música do Brasil.
 
Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
No meio do set, a impetuosa "Amen" do álbum Massacre Humano (2006) e "Imbecilização Da Raça", faixa direta e atual do A Cruz Da Exclusão (2019), com direito a uma introdução do baixista, que recomendou o público a sair mais e depender menos das redes sociais.

O tributo definitivo à Dorsal Atlântica chega com uma versão ultra veloz do clássico "Caçador Da Noite". A reta final veio em faixas de diversos álbuns dos anos 1980 e 1990. "Pior Que Um Animal", "Ação Direta", "Repeat" e "Entre A Bênção E O Caos" terminam o set. 

Com gás o suficiente para mais uma hora de apresentação, o tesouro paulista se despede e deixa a semente para novas visitas à cidade maravilhosa.

Preparem-se para o caos

Os Ratos de Porão estão sedentos, e às 20:56 já começam a ligar seus instrumentos avisando a todos que o salão está prestes a pegar fogo. O grupo tem destreza o suficiente para não ficar preocupado em não ser a banda principal da noite. Eles entram com jogo ganho e com plateias ansiosas por clássicos. 

Logo de cara, duas do album Necropolítica (2022): "Alerta Anti Fascista" e "Aglomeração", que continuam tendo resposta imediata e coletiva nos shows das últimas turnês. Entra em cena então, "Amazônia Nunca Mais", e a sensação de não termos saído de 1989 ou 1987. 
 
Repetir a história do homem e seus erros eternamente
 
Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
Fazendo a análise profunda, vemos que as letras do Ratos do Porão gravadas em 1989 ou 1990 contam a história de um Brasil atual em 2024. Acelerados nos medleys, seguem "Farsa Nacionalista", "Lei Do Silêncio" e "Morte Ao Rei". O Guitarrista João Carlos, melhor conhecido como Jão, empunhando a sua Les Paul no alto, tira dela o som de 20 guitarristas ao mesmo tempo, com uma precisão e um controle sem preocupação com o suor escorrendo dos seus braços. Jão é um real guitar hero brasileiro.

Ratos é história e merece o reconhecimento absoluto como baluarte inegável de influência em centenas de músicos brasileiros, com o crossover musical misturado de hardcore com metal. Para isso funcionar, o baixista Juninho e o baterista Boka fazem a melhor cozinha supersônica voraz. A banda desapega como um propulsor de espaço nave sideral e o João Gordo brilha como um gladiador no meio do ringue, destrinchando letras reais de uma realidade cruel em urros e berros num espetáculo brutal e com atitude própria.

Chega o momento de recordar a própria dor. Gordo admite não gostar de lembrar das passagens vividas no passado, em canções como "Satanic Bullshit" e "Bad Trip". O desfile de clássicos parece infinito e os presentes no Circo Voador cantam juntos "Morrer", "Mad Society", "Crianças Sem Futuro", "Crucificados Pelo Sistema" e "Descanse Em Paz".
 
Festival de 'Stage Dive'
 
Os fãs sobem no palco para fazer seus pulos nas cabeças da multidão e terminam pisando em cabos, empurrando caixas de retorno e ocupando o espaço. Absolutamente nada disso impede o quarteto paulista de continuar apresentando seu setlist como velhos cavalheiros do apocalipse. Nada os surpreendem. E o Rio de Janeiro sempre enlouquece ao chamado, clamando por mais diversão violentamente supersônica.
 
Foto: Rom Jom / Rock On Board
 
Na reta final do show, mais 11 canções em 20 minutos - sendo nove delas do álbum RDP Ao Vivo (1992). Mais clássico, impossível. "Aids, Pop, Repressão", "Beber Até Morrer" continuam com participação massiva da plateia, que grita cada palavra das letras em alto e bom som. "Crocodila" de 1997 é emendada com "Crise Geral", e a banda deixa novamente sua marca em casa. 
 
O Circo Voador sempre foi o melhor palco para ver o Ratos de Porão, definitivamente.

Loquillo Panama

Nômade agregador de ritmos musicais e fanático por shows. Está sempre correndo atrás de novidades para multiplicar e informar os amantes de boa música.

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