E a
famigerada “turnê de despedida” da mais importante banda de rock brasileira em
todos os tempos chegou a São Paulo, sem tirar a importância de outras praças, mas, é o local onde, queiram ou não, sustenta o
rock no país, pois é aqui que se pagam as contas. Podem chamar de bairrismo, nem
ligo, mas podemos debater.
E continuo
com polêmica, as “viúvas do Max” que me desculpem, mas, é sim o SEPULTURA no palco, a banda hoje formada
por Andreas Kisser, guitarras, Paulo Xisto, baixo, Derrick Green, vocal e Greyson
Nekrutman, na bateria. E o espetáculo apresentado foi AVASSALADOR!
Max
Cavalera, o menino mimado, em seus 12 anos de banda merece todos os créditos e
elogios possíveis! Sim, foi ele quem criou a banda, riffs fantásticos e a cara
que fez o Sepultura conhecido mundialmente. Mas, também foi ele que abandonou o
barco voluntariamente, sem apoio do próprio irmão, o então baterista Igor
Cavalera, que continuou remando com Andreas e Paulo e anos depois virou Iggor e
correu de volta aos braços do irmãozinho chorão.
Derrick,
em 27 anos de banda, gravou 10 bons discos de estúdio e deixou seu nome gravado
na história da banda e também merece todo o respeito do mundo do heavy metal,
manteve o nome SEPULTURA no lugar merecido.
Ao que
interessa: na quente noite paulistana, as luzes se apagam e o grito de “SEPULTURA!
SEPULTURA! SEPULTURA!” ecoa pelo Espaço Unimed, completamente lotado, quando o
sistema de som manda “War Pigs”, do Black Sabbath e “Polícia”, dos Titãs, que,
apesar da ansiedade da galera, são muito bem recebidas e cantadas de ponta a
ponta – fica a observação, se bandas como o Natiruts
ou até For Fun conseguiram
recentemente esgotar os ingressos de um estádio de futebol no mesmo bairro,
faltou ousadia do Sepultura de partir para isso?
É certo
que as últimas apresentações da banda na cidade ocorreram nos palcos de
unidades do Sesc, espaços excelentes, porém pequenos, com no máximo 800
lugares, mas lotações esgotadas em poucos minutos. Minha opinião, compartilhada
por muitos, o Sepultura tem potencial para lotar estádios em várias datas. Se o
desejo era algo mais “intimista”,
deixaram cerca de 8.000 fãs felizes demais. Mas, poderia ser muito maior.
Entra
gravação que introduz a dobradinha “Refuse-Resist”
e “Territory”, que abrem o clássico
álbum “Chaos A.D.”, de 1993. Pronto.
Rodas insanas, coro alucinado e jogo ganho, com uma banda entrosadíssima e um
público enaltecendo cada nota vinda do palco. A sequência no show é a mesma do
disco, vem “Slave New World” e a porradaria vinda do palco é refletida na
plateia.
“Phantom Self”, do ótimo disco “Machine
Messiah”, de 2017, vem antecedendo outra trinca, desta vez de “Roots”, o
clássico de 1996: “Dusted”, “Attitude” e “Cut-Throat”. O clima é de êxtase na plateia, e satisfação no palco,
de quatro caras fazendo o que amam e sendo recebidos de maneira tão calorosa.
Chega a
vez de “Kairos”, do álbum homônimo,
de 2011, segue com uma faixa do sensacional disco “Quadra”, tocam “Means to an End” e emendam a homenagem
da banda aos seus fãs, “Sepulnation”,
do disco “Nation”, de 2001, o segundo trabalho de Derrick Green nos vocais da
banda. Ouvi alguns conhecidos reclamando da qualidade do som no show da
sexta-feira, o que posso dizer é que no sábado, estava perfeito.
As
canções vão se sucedendo e praticamente toda a carreira da banda é posta à
prova, seguem músicas dos discos “Quadra” (“Guardians
of Earth”), “Roorback” (“Mind War”),
“Dante XXI” (“False”), “Against” (a
pancada hardcore “Choke”), mas o
bicho pega de vez quando Andreas pede para ver rodas abrindo em toda a casa e anuncia “Escape to the Void”,
do disco “Schizophrenia”, de 1987. Que loucura foi isso!
Luzes
apagadas, tambores no palco, Andreas no violão e “Kaiowas” é tocada com participação do pessoal da banda venezuelana
que abriu o show Cultura Tres (que
tem Paulo Xisto no baixo), Supla, Yohan Kisser e alguns fãs e membros da
equipe, como tem sido rotina em toda essa turnê. Logo após esse “descanso”,
talvez o ponto alto desta noite, pela reação da plateia, vem “Dead Embryonic Cells”, do disco “Arise”.
Andreas Kisser
puxa o coro da próxima, e a banda manda “Biotech
is Godzilla”, música escrita por Jello
Biafra, dos Dead Kennedys, e
presente em “Chaos A.D.”. “Quadra” é um dos melhores discos já gravados pelo
Sepultura, e novamente é revisitado, com “Agony
of Defeat”.
Andreas
vai até a frente do palco e inicia do riff arrasa-quarteirão do clássico cover “Orgasmatron”, do Mötorhead, daí em diante é só boardoada na orelha: “Troops of Doom”, “Inner Self”, única do disco “Beneath the Remains” e “Arise”. Podia acabar aí, mas a banda
saiu do palco e voltou com “Rattamahata”
e “Roots Bloody Roots”, ambas de “Roots”.
Se dependesse
do público, a banda continuaria até o dia seguinte, mas as luzes se acendem e
logo o som é invadido por “Easy Lover”,
de Philip Bailey, vocalista do
grande Earth, Wind & Fire, mas
famosa na voz de Phil Collins, que é
para deixar bem claro que a festa acabou. As cortinas se fecham para o
Sepultura de maneira digna, em grande forma, celebrando a vida através da
morte. Quem perdeu ainda terá outra chance, no já confirmado show da banda na
próxima edição do Lollapaloosa, em março de 2025. Vale a pena, demais. Este é o
Sepultura, do Brasil!
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Sepultura