Rock in Rio: Ne-Yo consagra o pop e o R&B no Palco Mundo

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board

Mais do que a pronúncia correta de seu nome, o show ao qual eu me preparava para assistir no Rock in Rio também era um enigma, uma vez que não tomei conhecimento de seu show anterior em terras brasileiras, no The Town, em 2023. Sabia que viria um show no mínimo dançante e esperançosamente nostálgico, com hits que consagraram Ne-Yo como autor e cantor dos anos 2000.

E "Closer", de 2008, confirma a suspeita. O público, que se aproximava e se concentrava devagar na frente do Palco Mundo (esse foi um dia em que o público se dividiu e espalhou bem pela Cidade do Rock, facilitando o deslocamento de uma atração para a outra), já começava a jogar o corpo, cantando  o refrão "I Just Can't Stop" com força. E o que se via no palco era um vermelho predominante, uma banda bem reduzida (viriam as bases pré-gravadas?), as dançarinas, de vermelho, e o próprio Ne-Yo, de sapatos, calça, camisa, blaser brilhante e chapéu, tudo rubro.

"Because Of You" vem para mostrar a influência pesada de Michael Jackson, como não poderia deixar ser com todo artista atual dessa fusão maravilhosa de pop e R&B. Ne-Yo também mostra porque ele leva o meu voto para personalidade mais simpática do festival. Ele brinca, ele sorri, e ele fala o tempo todo com o público. Em inglês, claro - e deixo aqui o meu registro bem pessoal: sou, como a maioria dos brasileiros, inepta em inglês. Com a tecnologia de hoje, IA, etc, não poderiam colocar legendas apenas nesses momentos, nos zilhões de telões que já estão ali? - e o público corresponde à altura.

O set que vem em seguida é dedicado à sensualidade típica do gênero. No telão, um letreiro em neon - Champagne And Roses - indica as canções "Champagne Life" e "Sexy Love", envolvendo o público de uma forma, que já não se resistia ao show, mesmo aqueles que não estivessem ali para vê-lo. A simplicidade do palco (em comparação a maioria dos artistas que pisaram o mesmo palco), a simpatia absurda de Ne-Yo, e sobretudo a qualidade da apresentação, ainda que ele não figurasse como um cantor de grande extensão vocal, mas de muito boa técnica e um suíngue gigante, conquistaram.

"She Knows" vem para dar aquela aceleradinha necessária num roteiro bem estudado e ensaiado, seguida de "So Sick", quando o público levanta seus celulares e pulseiras (distribuídas anteriormente) iluminadas, e fazem aquele momento batido, mas ainda assim bem bonito de ver. Seguindo a onda, ao som de "Push Back", três selecionadas sobem ao palco, e participam de uma espécie de concurso de dança promovido por Ne-Yo, e vou te falar: foi divertidíssimo! Ele brinca, ele pergunta o nome e de onde são, uma de São Paulo, as duas cariocas, e a brincadeira envolve todo mundo que aplaude, acolhe as meninas e ali, Ne-Yo conquistou para muitos, o posto de melhor show do Rock in Rio 2024. Até o quadradinho de oito foi elevado a um dos melhores momentos do evento, e as meninas devem estar sorrindo até agora. A propósito, Sabrina, de Duque de Caxias, levou o primeiro lugar, num concurso onde Ne-Yo afirma que não há perdedores.

Foto: Adriana Vieira / Rock On Board


O telão então exibe cenas de um clipe, e Ne-Yo ressurge no palco manietado e com capuz na cabeça, em uma representação cênica de "Mad". Talvez para entreter o público ainda mais do que já estava, mas realmente, o show tava tão legal já, que não precisava. Ne-Yo sensualiza, sorri muito, fala muito (já dei minha sugestão?), e até ameaça tirar a camisa, mas não o faz, para a decepção de muitos. Ele também decide mostrar o seu lado de (bom) compositor e a magnífica Beyouncé surge no telão, cantando "Irreplaceable" sem a participação da voz do cantor no palco, que apenas manda um singelo lip synk e dança ao som da música.

Aí, gente, ele diz ao público que, já que ele estava há alguns dias no Brasil, ele resolveu trabalhar com alguns dos grandes artistas brasileiros. E chama ao palco Mc Daniel, cantando pagode, sem qualquer interação de Ne-Yo, que se recolhe no fundo do palco pra dar aquela descansada básica, e abre a camisa no final de sua apresentação com a frase de maior hype politizado do momento: Parem as Queimadas. E vai embora. Tendi nada. Cláusula de algum contrato?

Na reta final do show, quando "2 The Moon" faz o cantor descer do palco e falar com os fãs na grade por alguns minutos. Previsível, mas não poderia faltar. E aqui percebe-se que a Cidade do Rock está toda pulando. E vem "Let Me Love You (Until You Learn To Love Yourself)". Eu falei que a Cidade do Rock estava pulando? Mentira. AGORA sim, o chão tremia, acompanhado das inevitáveis labaredas acionadas em um grande show pop. A partir daqui, foi só ladeira acima, com uma pequena sequência de featurings como "Let's Go", mais conhecida na voz de Calvin Harris, "Time Of Our Lives" e "Give Me Everything" ambas com Pitbull, e é quando finalmente Ne-Yo se despede da plateia e tira a camisa, mostrando o corpo sarado de quem dança muito, ainda nos seus quase 45 anos (suspiros).

Num Rock in Rio com base, recheio e cobertura cujos principais ingredientes foram bases pré-gravadas, playback descarado e auto-tunes à guisa de estilo musical, o gogó de Ne-Yo, mesmo com as bases pré-gravadas que também estiveram presentes na sua apresentação, foi firme, bonito e real. Foi emoção de verdade, e lhe valeu o título para alguns como o melhor dessa edição do Rock in Rio.




Noemi MacHado

Passou dos vinte há algum tempo, foi desencaminhada pelo Genesis, Queen e Led Zeppelin ainda na infância e conviveu com bandas de rock a vida quase toda. Apresentadora do programa ARNews na Rádio Planet Rock e Rádio Oceânica FM, também é produtora de eventos, gestora do coletivo Arariboia Rock e colaboradora do site Rock On Board.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
Banner-Mundo-livre-SA