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Metallica - 1984 - Foto: Joseph Carlucci |
E foi em 27 de julho de 1984, há exatos 40 anos, que o mundo recebeu “Ride the Lightning”, o segundo álbum daqueles quatro moleques sujos e mal encarados de Los Angeles, que já haviam lançado a pedra fundamental do que veio a ser chamado de thrash metal, com o petardo “Kill’Em All”, um ano antes.
E “Ride the Lightning” é um disco fabuloso!
Thrash Metal Old School, mas não
apenas isso. Ele traz os moleques muito amadurecidos em relação ao trabalho
anterior, que era pau puro! Aqui, capitaneados pelo genial baixista Cliff
Burton, único músico estudioso da banda, eles apresentam temas mais elaborados,
canções longas, com utilização de violões, instrumentais mais trabalhados e
complexos - e até balada se faz presente (fato que os fãs “true” fazem questão de
esquecer quando criticam a banda e dizem que “Metallica acabou com o Black Album, virou pop com baladinhas”!).
Pois
bem, antes de ir ao que realmente interessa, que são as faixas do disco, curiosidades!
O título do álbum coube ao guitarrista Kirk Hammet, no primeiro trabalho da
banda em que ele participou ativamente como membro – lembramos que no primeiro
disco, Kill’Em All, Kirk entrou na banda com o trabalho já feito pelo
guitarrista beberrão e demitido Dave Mustaine, que na sequência criou o Megadeth.
Ride the Lightning foi uma frase que Kirk retirou do romance “The Stand” (“A
Dança da Morte”), de Stephen King, publicado originalmente em 1978, onde um
personagem usa a frase para se referir à execução na cadeira elétrica – entendeu
a capa do disco agora?
Um fato estritamente pessoal: Ride the Lightning até hoje é meu álbum preferido do Metallica, e coloco nisso muito o fator sentimental, pois foi o primeiro disco da banda que comprei! Já conhecia, e gostava muito, de “Seek and Destroy”, do álbum de estreia, mas, colocar a agulha e deixar rolar Ride the Lightning é algo que me arrepia até os dias atuais!
O
disco começa com a introdução acústica de “Fight Fire With Fire”, num belo
dedilhado do baixista Cliff Burton e o que vem na sequência é assombroso e
devastador! Eu nunca havia experimentado algo tão pesado, e ao mesmo tempo bem
tocado! Estava acostumado ao punk rock, mas nada até então tinha a força dos
riffs desta canção. Nas turnês do Metallica que acompanhei em 1989 e 1993 a
banda não tocou essa, mas, a redenção veio em 1999, no estacionamento do
Anhembi, após a sacanagem de cortar o som do Sepultura pela metade no show de abertura,
o Metallica subiu ao palco e logo veio “Fight Fire With Fire”, que emoção! Que
realização estar ali diante daqueles caras e ouvir minha faixa preferida da
vida! Uma música que fala do terror nuclear e termina com o som de uma explosão
atômica! Alucinante... ainda mais para um moleque que tinha 12 anos quando isso
foi lançado!
A
faixa título é a segunda do Lado A, e “Ride the Lightning” mantém o nível:
riffs pesados, solos cortantes, refrão para cantar junto “Flash before my eyes / Now it’s time to die / Burning in my brain / I
can feel the flame”! Ouvindo hoje é divertido ouvir como James Hetfield,
apesar da voz de moleque, já mandava bem demais como cantor da banda. Aqui a
letra conta a perspectiva de um prisioneiro no corredor da morte, que será
executado numa cadeira elétrica, por um crime que não cometeu – é uma crítica
ao sistema prisional norte-americano e é uma das duas faixas creditadas em parte
ao ex-guitarrista Dave Mustaine.
Jamais
esquecerei James Hetfield apresentando ao vivo a terceira faixa do disco: “and now... For Whom... the fucking... Bell
Tolls”! Na primeira vez em que vi a banda, Cliff Burton já havia falecido e
no baixo estava Jason Newsted, que honrou o maestro! A faixa começa com o som
de sinos e uma fantástica introdução de contrabaixo, distorcido e em alto
volume, que normalmente todo mundo crê que é uma guitarra! Com letra que fala
do horror da guerra e baseada no romance “Por Quem os Sinos Dobram”, de Ernest
Hemingway. Até hoje um dos maiores clássicos da banda e que é tocada
praticamente em todos os shows, em homenagem ao jamais esquecido Cliff Burton.
O disco
continua com a belíssima balada “Fade to Black”, música que fala de suicídio,
com letra de James Hetfield, escrita logo após a banda sofrer um assalto e ter
todo o seu equipamento subtraído, antes de um show em Boston, em janeiro de 84,
fato que atrasou um pouco a gravação deste álbum.
Virando
o disco, temos “Traped Under Ice”, faixa inspirada nas palhetadas que Kirk
Hammet trouxe de sua ex-banda, o EXODUS, de uma faixa antiga chamada “Impaler”.
A letra viaja e fala de uma hipotética situação onde uma cidadão acorda de um
estado criogênico e nota que a vaca foi pro brejo, pois não tem ninguém ali
para socorrê-lo, e resta a esperar a morte chegar.
A
próxima música é “Escape”, com potencial para ser um grande hit e que nunca “pegou”,
pois, diz a lenda, James Hetfield a detesta e foi uma forçada de barra da
gravadora para que a banda criasse algo “salutar” para tocar numa rádio
popular.
“Creeping
Death” é, pelo menos no Brasil eu tenho certeza, a música que mais tem
participação do público e está presente em todos os shows! Letra bíblica que
cita as 10 pragas do Egito e que deixa o público absolutamente alucinado ao
acompanhar James Hetfield cantando! Enquanto James recita “Die by my hand / I creep across the land / Killing first born man”
o público repete incansavelmente: “DIE!
DIE! DIE! DIE! DIE! DIE!”, coisa linda de ver e viver!
E o
disco finaliza com a peça instrumental “The Call of Ktulu”, inspirada no conto
de horror “The Call of Cthulhu”, do
escritor H.P. Lovecraft e é a segunda faixa do álbum que apresenta o nome de
Dave Mustaine como um dos compositores.
“Ride
the Lightning” chega aos 40 anos em plena forma, é um disco ainda urgente e
necessário, que apresenta uma banda afinada, afiada e que dita regras na
história da música desde sua formação. Só nos Estados Unidos, este álbum já
vendeu mais de 6 milhões de cópias. Até hoje é reeditado e nunca saiu de
catálogo. James Hetfield, Kirk Hammet, Cliff Burton e Lars Ulrich fizeram
história.
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