Mike Muir do Suicidal Tendencies concede entrevista ao Rock On Board

Mike Muir em show do Suicidal Tendencies no Rio (Foto: Rom Jom)
 
O Suicidal Tendencies voltou ao Brasil para uma turnê que apresenta a nova formação com o baterista Jay Weinberg (ex-Slipknot). A banda tem uma relação de longa data com os brasileiros, principalmente o seu frontman, Mike Muir. O vocalista já perdeu as contas de quantas vezes veio ao Brasil, inclusive para inaugurar pistas de skate. Essa estadia quase que permanente, influenciou na criação de uma música reunindo vários representantes de bandas importantes na história do rok nacional. "Nós Somos a Família" traz participação de integrantes do CPM 22, Ratos de Porão, Dead Fish, Crypya, Charlie Brown Jr, Supla entre outros nomes da nossa cena. Em entrevista ao Rock On Board, Mike falou dessa relação com o Brasil, da nova formação do grupo e relembrou fatos marcantes dos mais de quarenta anos de Suicidal Tendencies. Confere aí!

Oi Mike, vamos falar sobre a nova música, "Nós somos a Família". Vocês gravaram com várias personalidades brasileiras do rock... Como surgiu essa ideia?

Foi antes de covid, na verdade. Passei muito tempo no Brasil, vim aqui várias vezes e algumas fiquei por três semanas direto. Então conheci tantas pessoas de quem gostei e obviamente meu irmão é um skatista profissional. Com isso, eu conheci muitos skatistas profissionais e passei um bom tempo aqui com alguns dos caras do Charlie Brown Jr em Santos. Conheci tantas pessoas queridas e, fiquei muito agradecido por eles falarem inglês, porque eu não consigo falar português o tempo todo. Então estávamos conversando sobre tentar fazer alguma coisa diferente do que a maioria das pessoas nas bandas fazem e, nós fizemos shows contagiantes com minha outra banda com Robert Trujillo e Brooks do Avenged Sevenfold (Infectious Grooves). Fizemos um festival aqui no final de outubro e início de novembro de 2019 e inauguramos uma pista de skate em São Paulo. Então o covid aconteceu e tudo o que tínhamos montado meio que foi fechado. Então uma das coisas que estávamos realmente ansiosos é de voltar aqui para tocar em mais lugares e fazer algo que é um pouco diferente hoje em dia, que é juntar as pessoas. 

Verdade! Ainda mais nos dias de hoje, onde a internet acomoda tudo...

Sim, cara! No ponto de logística é muito, muito difícil também. Porque reunir todo mundo ao mesmo tempo, e combinar as agendas de todos é algo realmente muito difícil. Mas todo mundo se reuniu. Todo mundo queria fazer isso e eu realmente me senti honrado. E obviamente adorei e fiquei muito feliz em fazer essa gravação. E pude sentir que as outras pessoas também apreciaram a iniciativa.

Existem grandes nomes do rock brasileiro nesta canção, como João Gordo, Supla... Você é fã do som de algumas dessas bandas brasileiras? 

Sim. Bem, a maioria. Normalmente você não conhece as bandas de outros países. Existem algumas que você ouve falar na América, principalmente as maiores. Mas nos tempos que passo no Brasil, e tenho muitos amigos aqui... A gente acaba viajando para vários estados e os amigos te apresentam muita coisa de música. E isso dá a você uma sensação de proximidade. Então, foi como se eu tivesse mencionado alguns nomes que eu já conhecia e, obviamente, teve algumas bandas que conheci e que me foram apresentadas. Mas no final, eu fiquei muito feliz com as participações e foi algo muito especial para mim.

Como você mesmo disse, você sempre teve um relacionamento muito forte com os fãs brasileiros. Quando você decidiu fazer esse projeto por aqui?

Foi há algum tempo. Estávamos tentando fazer algo muito, especificamente para o Brasil, para que as pessoas soubessem que era uma coisa muito brasileira, e foi feito no lugar certo. Então nós tivemos muitas ideias e, de repente, tudo foi se encaminhando para a música. Porque era provavelmente a coisa mais simples de fazer. E a mais distinta também. Porque poderia ser apenas gravar uma música em português e para o Brasil. Mas da forma que foi feita, eu acho que as pessoas veem isso como algo realmente importante, como se nós estivéssemos realmente valorizando esse frasco de cultura. E como um dos shows mais incríveis que fizemos foi aqui no Brasil, e temos tantas ótimas lembranças, que nós chegamos a conclusão que queremos ter muitas ótimas lembranças novas aqui no Brasil.

Fale um pouco da entrada de Jay Weinberg na banda...

Bem... Eu tenho que contar uma história. Fizemos um show há muito tempo atrás e meus filhos todos foram a este show. E meu filho do meio, que hoje tem 14 anos, tinha cerca de quatro... quatro ou cinco anos nessa época. E nessa ocasião, eu lembro que estávamos tirando algumas fotos e Jay chamou meu filho para tirar fotos com ele e deu-lhe baquetas de presente. Resumindo a história: no final da noite, voltando pra casa, no banco do carro, ele veio agarrado nas baquetas que o Jay deu pra ele. E ele acabou tornando-se um grande fã desde então. Só que o Infectious Grooves teve um show pra fazer e o Brooks estava em turnê com o Avenged Sevenfold, então eu tinha que arrumar um baterista o mais rápido possível. Eu e Robert estávamos conversando sobre quem poderíamos contratar, e o meu filho Tyson estava perto e disse: "Você vai perguntar ao Jay?". Fiquei totalmente surpreso quando ele disse isso e eu não tinha certeza, pois no início do ano, o Jay tinha acabado de fazer uma cirurgia e ele tinha começado a andar de novo... Eu nem acho que ele conseguiria tocar naquele momento. E o meu filho insistiu: "Apenas pergunte ao Jay!". Então conversei com o Robert e eu disse "bem, vamos entrar em contato com ele". Então eu escrevi um e-mail para ele e ele me respondeu perguntando quando os shows seriam. E inicialmente ele disse que não estava tecnicamente confiante para fazer shows até então e que iria consultar o seu personal trainer e seu médico. Mas no final ele disse "vamos tentar!". Então ele foi para a Austrália e fez alguns shows no Sul da Califórnia com o Infectious Grooves. Jay é simplesmente incrível, e ele entende de onde vem o Suicidal. Ele me dizia que lembrava de quando ouviu um dos discos Suicidal quando tinha 12 ou 13 anos, e que amava o nosso som. Então ele meio que entende o que a música pode significa para alguém que conheça a banda. E ele é um baterista incrível. Eu toco com muitos músicos excelentes, mas ele é um baterista incrível e estou muito animado, fazendo shows com ele e vendo a empolgação que as pessoas sentem por ver ele em cima do palco conosco também.
 
Mike Muir com Jay Weinberg no fundo [Foto: Rom Jom]
 
E como é ter um filho de um amigo na banda, neste caso, o Trujillo... 

Uau... Então... Tye parece um daqueles pequenos vencedores de concurso, ele é tão pequeno. Ele começou a fazer shows com apenas 12 anos. Lembro que no primeiro show que ele fez com o Suicidal, ele tinha 14 anos de idade e na primeira música, ele pulou da bateria, e eu vinha correndo pelo palco e não o vi, então derrubei-o cerca de 3 metros. E eu sou grande. Robert e Chloe [pais de Tye] estavam vendo o show ali do backstage, e eu fiquei me perguntando. "Oh fuck! O que eu faço? Eu pego ele, peço desculpas aos pais dele?". E ele simplesmente levantou e começou a pular pelo palco e a tocar. Então ignorei e fingi que nada tinha acontecido [risos]. Mas é muito especial vê-lo se desenvolver e eu brinco muito com o Robert [Trujillo] sobre seu filho. É uma transformação incrível e agora ele se tornou uma fera na base. Você sabe que ele aprendeu com seu pai, obviamente. Mas é uma ótima sensação ter Tye no palco, mostrando todo seu entusiasmo por estar na banda. É algo incrível.

No ano passado o álbum de estreia do Suicidal completou 40 anos de lançamento e muitos fãs cresceram ouvindo esse álbum. Como você vê a importância desse álbum para a carreira da banda? 

É interessante, porque eu tinha 16 ou 17 anos quando gravei esse disco. É um disco muito jovial e, acho que se aplica muito hoje em dia. Acho que é interessante, porque muitas pessoas interpretam as coisas diferente de nós, eu acredito. Então eu acho um pouco irônico, mas é muito bom você fazer os festivais europeus e vermos as pessoas mais velhas trazendo seus filhos para nos assistir. É a mesma coisa que eu sinto quando eu e o meu filho do meio, que como eu disse, tem 14 anos, e eu tenho outro que tem 13 anos... Quando a gente sai para andar de skate. E eles estão todos começando a andar de skate. É uma relação de influência. Acabamos de fazer um festival em Los Angeles e havia cerca de 45.000 pessoas. Aí você lembra que quando começamos, tocávamos esse disco em Los Angeles para poucas pessoas. E muitas dessas pessoas agora vão nos assistir nesses grandes festivais. Eu vejo algumas críticas que dizer que de muitas bandas com 40 anos de estrada, a única que continua fazendo a mesma coisa do início é o Suicidal, que continua fazendo algo da época que éramos jovens. E eu acho que esse é o maior elogio quando as pessoas nos veem. Não estamos aqui fazendo só por fazer. Estamos aqui porque queremos estar e a música nos move, literalmente. Queríamos emocionar as pessoas. E voltando ao que eu estava dizendo sobre festivais, você vê esses crianças que talvez não tenham ouvido falar de Suicidal antes e ficam tipo "cara, eu te amo, você é muito louco no palco"... E isso, é para mim, o maior elogio que eu poderia receber de alguém, pois é o mesmo sentimento que eu tinha aos 14 anos assistindo uma banda no palco.

Tem uma música nesse álbum que eu adoro. Que ouvi muito quando era adolescente que é "Subliminal"... E espero sempre ver vocês tocando ela nos shows.

Definitivamente. Para mim é ótimo ouvir isso de você. Porque se alguém não é mais velho e não conhece aquele disco, pode ouvir essa música no show e ainda se contagiar por ela. Ela é uma música de... você sabe... de 40 anos. Mas que ainda tem aquela energia e vitalidade e, sim, essa é uma das coisas que eu amo na música. Não estamos tentando passar por curiosidades ou nostalgia. Eu acho que essa música se encaixa muito bem em 2024, tanto quanto em 1984.

Por falar nisso... Como vocês decidem o setlist?

Bom... Todos os dias, meu filho, que acabou de fazer 20 anos, e não sei se você sabe, ele é nosso gerente de turnê... Ele me chama e diz: "Ei, você pode me passar o set list?". Digo a todos a mesma coisa, inclusive ao Jay, que é o cara mais novo na banda e também me pede o setlist. Eu sempre respondo: "Ok, aqui está o set list, mas não é necessariamente o que vamos tocar!" [risos]. E ele [Jay] apenas sorri. É claro que ele me dá algumas dicas, como eu também darei dicas no palco. Às vezes, olhamos um para o outro nos shows e puxamos uma música aleatoriamente. Eu acho que muitas vezes a gente segue a o setlist, mas estamos sempre mudando um pouco e isso acaba sendo divertido para nós.

Obrigado Mike! Obrigado pelo seu tempo... Foi um prazer falar com você!

Eu que agradeço, Bruno! Espero vê-lo no show. Felicidades, cara!

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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