Dupla remanescente da “versão 2.0” assume o comando em novo álbum do Accept

Accept

Humanoid
⭐⭐⭐✰✰3/5
Por  Marcos Bragatto 

Quinze anos após e decolagem da “versão 2.0”, o Accept chega ao sexto álbum dessa fase um tanto esfacelado, apenas com o guitarrista Wolf Hoffmann e o vocalista Mark Tornillo da época do ótimo disco Blood Of Nations. Olhando de primeira, contudo, são eles os dois únicos indispensáveis mesmo, já que Hoffmann é o dono da firma, na banda desde a fundação, há quase 50 anos, e Tornillo, que foi de surpreendente achado para o lugar do unânime Udo Dirkschneider a ele próprio uma unanimidade consolidada no grupo alemão. Isso fora o plus da caprichada produção do cascudo Andy Sneap em todos seis discos. É o que ajuda manter a aura dessa fase e seguir em frente fazendo mais ou menos as mesmas coisas, mas de um modo sutilmente diferente.

Porque não se pode emplacar a pecha de “mais do mesmo” para uma banda associada ao chamado metal tradicional, sem deixar de ser redundante, de modo que o que conta em um novo trabalho é a capacidade do grupo de compor e arranjar grandes músicas dentro do mesmo subgênero e/ou a entrada de um integrante que de algum modo turbine as coisas, seja compondo ou em performances significativas. Não parece ser este o caso do discreto baixista Martin Motnik, tampouco do guitarrista Uwe Lulis, ambos integrantes do tipo que “compõem o elenco”. Ademais, oito das 11 músicas deste Humanoid são de autoria da duplinha Hoffmann/Tornillo, sendo – reforce-se - um o que mais sola na banda e o outro nada menos que o frontman.
 
 
Restam as músicas e o Accept segue lançando o que dele se espera: riffs sobre riffs, refrães para cantar em coro e uma balada melódica ou outra, que ninguém é de ferro, nem no meio do heavy metal. Tudo com sonoridade setentista, mas atualizada pela tecnologia dos nossos tempos. “The Reckoning”, single laçado em março, por exemplo, se tivesse saído do baú da banda, não faria feio. A música já começa com um riff matador que lhe serve de condução, tem mudanças de andamento intimadas pelas guitarras, e inspira um instantâneo bater de cabeça com punhos erguidos que deve se concretizar dos shows da nova turnê. “Nobody Gets Out Alive” é outra que carrega marca de “irresistível” em termos de metal clássico, essa com um sotaque mais pop/cativante, em que pese os coros em segunda voz de ambas.  
  
Já “Ravages of Time” é uma baladaça meio dentro do padrão, mas não se pode subestimar o talento de Wolf Hoffmann, um dos maiores guitarristas do ramo, e que se mantém em alto nível de performance neste disco. Com grande influência da música erudita – tem dois álbuns solo com esse viés, o mais recente “Headbangers Symphony”, de 2016 - ele também recorre a citações em algumas faixas, como na marcial e nervosa “Southside of Hell”; em “Diving Into Sin” (Judas Priest feelings); e na boa “Unbreakable”. Já “Straight Up Jack” é aquela deliciosa mid-tempo repleta de guitarras que só o hard rock/metal pode proporcional; qualquer semelhança com o AC/DC – Tornillo emula Brian Johnson com perfeição – pode não ser mera coincidência. Em suma, Humanoid não traz nada de novo em relação aos outros cinco discos dessa “versão 2.0” da banda, mas quem se importa?

Marcos Bragatto

Jornalista e crítico de música especializado em rock desde 1993. Foi colaborador das revistas Dynamite, Rock Press, Roadie Crew, Bizz, Revista MTV e Billboard Brasil. No currículo, eventos como Rock in Rio, Lollapalooza, Hollywood Rock, Monsters Of Rock, Dynamo Open Air (HOL), Reading Festival (ING), Gods of Metal (ITA) e Wacken Open Air (ALE). Há mais de uma década é Editor e faz tudo no site Rock Em Geral.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2