Cage The Elephant mostra lado mais pop e suave em 'Neon Pill'

Cage The Elephant

Neon Pill
⭐⭐⭐✰✰3/5
Por  Bruno Eduardo 

O Cage The Elephant é certamente uma das bandas mais descoladas do rock mundial. O grupo consegue agradar uma galera bem diversificada e conversam de forma habilidosa com essa nova geração consumidora de músicas via streamings e playlists. Isso, é claro, pelo som que eles entregam - principalmente nos dias atuais. 

A banda que ficou conhecida nos primeiros discos por um rock garageiro e cheio de energia, com influências de Kurt Cobain e Pixies, foi juntando remendos em sua jaqueta sonora a cada álbum. Com isso, chegaram a um nível de articulação musical tão grande, que hoje é nome recorrente em todos esses festivais mais alternativos, como Coachella e Lollapalooza, onde se tem de tudo no que diz respeito a tendências e estilos. Mesmo assim, o som do Cage não é um emaranhado desordenado. Eles sempre foram uma banda de rock, mas totalmente desamarrada das presilhas conservadoras do gênero. Álbuns como Melophobia e Tell Me I'm Pretty são os que melhor representam essa proposta de espontaneidade e liberdade musical. 

Agora eles retornam com Neon Pill, seu sexto álbum de estúdio e o primeiro em cinco anos. Sonoramente falando, ele pode ser visto como uma continuidade do último trabalho, o bom 'Social Cues'. Isso já é algo a se destacar, já que o Cage The Elephant não costuma fazer álbuns muito parecidos. Outro fator importante e que já foi antecipado pelos singles, é que este pode ser considerado o disco mais suave da banda. As guitarras rebuscadas e cheias de noise ficaram para uma outra ocasião e o álbum é levado por arranjos melódicos e por alguns refrães descaradamente pop.

A faixa de abertura, "HiFi (True Light)", é uma síntese dos próximos 40 minutos de música que reservam o disco. Vocais lá na frente, com uma guitarrinha cantada à la John Frusciante (Red Hot Chili Peppers), e um refrão que gruda mesmo. "Rainbow", que vem em seguida, não é tão diferente e parece até uma continuidade. Já "Neon Pill", que dá nome ao disco, é um hit padrão do Cage The Elephant, e certamente estará em todos os setlists daqui pra frente. A primeira parte do álbum, representada pela deliciosa "Float Into The Sky", mostra bem qual é a pegada desse trampo: sutileza, acordes desplugados, tecladinho discreto e texturas old-school. 
 
 
Adiantada ao público como último single antes do disco sair, "Metaverse" é a primeira que se descola desse modelo mais tranquilo e flerta com o rock retrô dos Strokes. Vale dizer, que se Neon Pill não é um disco padrão de rock, ele  é um disco repleto de hits característicos, que marcam a carreira do quinteto. Muitas canções poderiam estar em outros álbuns, por serem o que chamamos de 'singles prontos'. Basta ouvir "Silent Picture", e a própria "Good Time", que nem é tão modelo de canções radiofônicas da banda, mas que saiu como single, e funciona muito bem! 

Mas a melhor do disco é "Ball And Chain", que garante o momento mais psicodélico do álbum, remetendo ao ótimo Melophobia (2013) [leia a resenha dos disco AQUI]. Baixo contagiante, bateria cheia de groove e um vocal totalmente despojado de Matt. Nessa pegada, tem também "Shy Eyes", que é garantida na cozinha baixo / bateria e ganha um peso no refrão. Tem lá as suas estranhezas, como um break psicodélico no fim, mas segue a cartilha Cage The Elephant. O que vale nota também é a performance do baterista Jared Champion, que faz um excelente trabalho em Neon Pill e garante os melhores momentos desse disco.

Para chegar a um veredito final sobre este novo álbum do Cage The Elephant, é impossível não contextualizar a jornada de saúde mental do vocalista Matt Shultz. O cara passou por maus bocados após um surto psicótico por conta de uma reação a um medicamento, e acabou sendo preso por porte de armas, e logo depois internado num hospital. Ele disse em entrevistas que o apoio da sua esposa e da banda foram fundamentais para a sua recuperação mental. E é claro que tudo isso reflete num disco mais "clean" e em canções como "Over Your Shoulder", por exemplo. Mas como depois de toda tempestade vem a calmaria, Neon Pill acaba soando como um resultado bem agradável no fim das contas.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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