O Cage The Elephant é certamente uma das bandas mais descoladas do rock mundial. O grupo consegue agradar uma galera bem diversificada e conversam de forma habilidosa com essa nova geração consumidora de músicas via streamings e playlists. Isso, é claro, pelo som que eles entregam - principalmente nos dias atuais.
A banda que ficou conhecida nos primeiros discos por um rock garageiro e cheio de energia, com influências de Kurt Cobain e Pixies, foi juntando remendos em sua jaqueta sonora a cada álbum. Com isso, chegaram a um nível de articulação musical tão grande, que hoje é nome recorrente em todos esses festivais mais alternativos, como Coachella e Lollapalooza, onde se tem de tudo no que diz respeito a tendências e estilos. Mesmo assim, o som do Cage não é um emaranhado desordenado. Eles sempre foram uma banda de rock, mas totalmente desamarrada das presilhas conservadoras do gênero. Álbuns como Melophobia e Tell Me I'm Pretty são os que melhor representam essa proposta de espontaneidade e liberdade musical.
Agora eles retornam com Neon Pill, seu sexto álbum de estúdio e o primeiro em cinco anos. Sonoramente falando, ele pode ser visto como uma continuidade do último trabalho, o bom 'Social Cues'. Isso já é algo a se destacar, já que o Cage The Elephant não costuma fazer álbuns muito parecidos. Outro fator importante e que já foi antecipado pelos singles, é que este pode ser considerado o disco mais suave da banda. As guitarras rebuscadas e cheias de noise ficaram para uma outra ocasião e o álbum é levado por arranjos melódicos e por alguns refrães descaradamente pop.
A faixa de abertura, "HiFi (True Light)", é uma síntese dos próximos 40 minutos de música que reservam o disco. Vocais lá na frente, com uma guitarrinha cantada à la John Frusciante (Red Hot Chili Peppers), e um refrão que gruda mesmo. "Rainbow", que vem em seguida, não é tão diferente e parece até uma continuidade. Já "Neon Pill", que dá nome ao disco, é um hit padrão do Cage The Elephant, e certamente estará em todos os setlists daqui pra frente. A primeira parte do álbum, representada pela deliciosa "Float Into The Sky", mostra bem qual é a pegada desse trampo: sutileza, acordes desplugados, tecladinho discreto e texturas old-school.
Adiantada ao público como último single antes do disco sair, "Metaverse" é a primeira que se descola desse modelo mais tranquilo e flerta com o rock retrô dos Strokes. Vale dizer, que se Neon Pill não é um disco padrão de rock, ele é um disco repleto de hits característicos, que marcam a carreira do quinteto. Muitas canções poderiam estar em outros álbuns, por serem o que chamamos de 'singles prontos'. Basta ouvir "Silent Picture", e a própria "Good Time", que nem é tão modelo de canções radiofônicas da banda, mas que saiu como single, e funciona muito bem!
Mas a melhor do disco é "Ball And Chain", que garante o momento mais psicodélico do álbum, remetendo ao ótimo Melophobia (2013) [leia a resenha dos disco AQUI]. Baixo contagiante, bateria cheia de groove e um vocal totalmente despojado de Matt. Nessa pegada, tem também "Shy Eyes", que é garantida na cozinha baixo / bateria e ganha um peso no refrão. Tem lá as suas estranhezas, como um break psicodélico no fim, mas segue a cartilha Cage The Elephant. O que vale nota também é a performance do baterista Jared Champion, que faz um excelente trabalho em Neon Pill e garante os melhores momentos desse disco.
Para chegar a um veredito final sobre este novo álbum do Cage The Elephant, é impossível não contextualizar a jornada de saúde mental do vocalista Matt Shultz. O cara passou por maus bocados após um surto psicótico por conta de uma reação a um medicamento, e acabou sendo preso por porte de armas, e logo depois internado num hospital. Ele disse em entrevistas que o apoio da sua esposa e da banda foram fundamentais para a sua recuperação mental. E é claro que tudo isso reflete num disco mais "clean" e em canções como "Over Your Shoulder", por exemplo. Mas como depois de toda tempestade vem a calmaria, Neon Pill acaba soando como um resultado bem agradável no fim das contas.