Jethro Tull celebra sete décadas de vida e música de Ian Anderson

Foto: Nick Harrison

Ian Anderson, 76 anos, o mentor intelectual e artístico do JETHRO TULL, voltou ao Brasil para uma série de shows da turnê “The Seven Decades”, e, como sempre fez, deixou em êxtase quem se dispôs a acompanhar um apanhado de 57 anos de banda – o nome da turnê diz respeito a idade de Ian, e não da banda, que foi fundada em 1967! A turnê passou por Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e encerrou-se em São Paulo.

A pedido de Ian, desde a entrada, com avisos espalhados pela casa, é terminantemente proibida a captação de imagens do show, fato que é lembrado antes do início do espetáculo, através de aviso sonoro e no telão ao fundo do palco: as luzes de câmeras e celulares incomodam e atrapalham a concentração de toda a banda, então, eles pedem encarecidamente que todos guardem seus equipamentos e avisam que a segurança está instruída a pedir o desligamento dos aparelhos a quem desobedecer. Assim sendo, agradecem a educação de todos e prometem o melhor possível no palco, e assim é.

A banda, que além de Ian Anderson, na flauta e vocal (em outras oportunidades, já o vi tocando violão e bandolim, mas nesta noite se concentrou apenas nisso), trouxe Jack Clark na guitarra, na primeira turnê como membro oficial da banda, Scott Hammond, na bateria, David Goodier, no baixo e John O’Hara, num caprichado visual “Karl Marx”, nos teclados, abriu o show com a música “My Sunday Feeling”, do disco “This Was”, de 1968. Na sequência, outra antiga: “We Used to Know”, que está no álbum “Stand Up”, de 1969.

Anderson, apesar da idade, continua um excelente mestre de cerimônias, se não corre mais de um lado ao outro do palco como em tempos passados, ainda mantém o domínio total de tudo, esbanja carisma, empatia e ainda é um grande frontman.

“Heavy Horses”, do álbum homônimo, de 1978, é a pedrada seguinte e emociona. Além da belíssima música que o Jethro Tull pratica, as imagens projetadas no telão são um espetáculo à parte. Continuando no mesmo álbum, a música seguinte é “Weathercock”. Uma música mais “atual” (apenas 29 anos), “Roots to Branches”, do álbum de mesmo nome, de 1995, ganha seu espaço.

Ian Anderson conversa muito durante todo o show e fala sobre cada música que estão tocando, e a próxima apresentada fez parte do disco “The Jethro Tull Christmas Album”, de 2003, trata-se de “Holy Herald”. E, do último disco lançado pela banda, “RökFlöt”, lançado ano passado, a banda trás “Wolf Unchained”, belíssima canção. Do excelente disco “The Zealot Gene”, de 2022, tocam “Mine is the Mountain”, quando o destaque maior foram as lindas projeções no telão.

Sem perder muito tempo, uma canção que a banda gravou em 1969, no disco “Stand Up”, a versão fantástica de “Bourée”, presente em todos os shows, e composta por Johann Sebastian Bach, que é quando Ian Anderson mais se solta passeando com sua flauta por todo o palco e fazendo cada um dos presentes delirar. Show clássico de bons idosos, precisa de um tempo para um fôlego, e assim Ian Anderson pede licença ao público para um pequeno intervalo de 15 minutos e avisa que já retornam para mais.

Luzes novamente apagadas e voltamos a 1987, com a bela “Farm on the Freeway”, do disco “Crest of a Knave”, álbum que garantiu a banda um Grammy de melhor disco de heavy metal daquele ano, numa disputa direta com o Metallica, que não engoliu bem a derrota, e que ninguém entendeu à época o resultado. Em entrevista, Ian deixou claro que “essa era a única categoria em que o álbum se encaixava, e ganhamos”.

O show tem continuidade com outra do último disco, o já citado “RökFlöt”, e tocam “The Navigators”. Com breve apresentação da canção, é a vez da instrumental “Warm Sporran”, do ótimo disco “Stormwatch”, lançado em 1979. Hora de retornar ao “The Zealot Gene”, e a música tocada agora é “Mrs. Tibbets”, com projeções que remetem ao lançamento da bomba atômica em Hiroshima, durante a Segunda Guerra Mundial. Pesado.

“Dark Ages”, mais uma do “Stormwatch”, é a próxima música, que precede o grande hit do grupo: “Aqualung”, do disco homônimo de 1971, num arranjo tão longo quanto belo. Emoção garantida a todos. A banda sai do palco, para retornar rapidamente para um bis sensacional: “Locomotive Breath”, também do disco “Aqualung”, encerra o espetáculo com chave de ouro. Desde 1967, Ian Anderson vale cada minuto e cada centavo dedicado a ele e sua banda, que continua ativa e produzindo, com qualidade absurda, desde sempre.

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

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