Convidados turbinam novo álbum, mas não subtraem a essência do Black Keys

The Black Keys

Ohio Players
⭐⭐⭐✰4/5
Por  Marcos Bragatto 
 
A solidão de uma banda que existe em dupla há muitos anos, embora múltiplas funções mantenham farta ocupação, às vezes precisa de espécie de terapia de grupo. É o que talvez explique o bom punhado de convidados neste novo álbum do Black Keys, Ohio Players, incluindo bambambans como Noel Gallagher e Beck, que não só ajudam nas composições, como participam tocando e cantando, o que supõe real atividade, não só a fria troca de arquivos via web. Não que Dan Auerbach e Patrick Carney não tenham recebido convidados em outros álbuns, sobretudo após a notoriedade atingida com o disco El Camino, de 2011, mas aqui o parque de diversões é deveras amplo.

Gallagher evidentemente é o que mais se destaca, interagindo em três músicas, como compositor, guitarrista e vocalista. “On The Game”, a única em que ele canta e toca, é uma beleza de canção power pop que poderia tranquilamente fazer parte do cancioneiro do Oasis ou até de sua carreira solo. O termo “canção pop”, no sentido de música cativante, colante aos ouvidos menos acostumados, serve também para definir boa parte das faixas, em um disco, em sua totalidade, bastante inspirado. Casos de “Don’t Let me Go”, com os dois pés na soul music à Motown e um precioso refrão; “Beautiful People (Stay High)”, que tem os teclados do insosso Beck, já começa pelo refrão cantado em coro e parece ser música íntima de todos há séculos; e de “You’ll Pay”, outra pérola retrô do brother Noel.
 
 
O curioso é que, mesmo com tanta gente se metendo, o som clássico, a essência do Black Keys - mistura de blues de garagem, soul music, surf music raiz, etc, tudo com sotaque retrô mas ao mesmo tempo incrivelmente contemporâneo – segue intacto nos ligeiros 43 minutos do disco. Até quando mais se distancia disso, caso de “Paper Crown”, com scratches e que praticamente tem um intervalo para o rapper Juice J “brilhar”, e de “Candy And Her Friends”, coadjuvada por Lil Noid, o entorno garante o sotaque do duo original. O que, mais de 20 anos depois, realça uma personalidade de quem sabe o que quer, e que pouco mudou, mesmo com as idas e vindas do mundo da música no período.

Tem ainda a cover para “I Forgot to Be Your Lover”, famosa na voz do cantor soul americano William Bell, um dos singles do disco, que nem figura entre as melhores; “Read Em And Weep”, deliciosa surf music, já tradição nos álbuns da banda; e a enguitarrada “Everytime You Leave”, talvez a mais rock do novo material. Se salienta também um cuidado bem apurado nos arranjos e vocalizações em todo o disco, o que não chega a ser novidade em álbuns, por assim dizer, de músicos/produtores.
 
 
Longe do clichê “volta às raízes”, este Ohio Players tem, sim, um olhar para o padrão Black Keys, em seu modo mais ativado do que nos últimos trabalhos pós El Camino, que inclui até disco de covers de subgênero do blues (“Delta Kream”, de 21). Ou seja, Dan Auerbach e Patrick Carney seguem em frente, mas sem abandonar suas raízes.

Marcos Bragatto

Jornalista e crítico de música especializado em rock desde 1993. Foi colaborador das revistas Dynamite, Rock Press, Roadie Crew, Bizz, Revista MTV e Billboard Brasil. No currículo, eventos como Rock in Rio, Lollapalooza, Hollywood Rock, Monsters Of Rock, Dynamo Open Air (HOL), Reading Festival (ING), Gods of Metal (ITA) e Wacken Open Air (ALE). Há mais de uma década é Editor e faz tudo no site Rock Em Geral.

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