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New Model Army
Unbroken
⭐⭐⭐⭐⭐5/5
Por Ricardo Cachorrão
Lançado na última sexta-feira, 26 de janeiro, chega ao
mundo “Unbroken”, décimo sexto álbum de estúdio da banda inglesa NEW MODEL ARMY,
tanto em todas as plataformas de streaming, como em caprichadíssimas edições
físicas – CD embalado em mediabook de capa dura e LP de 180g, na cor preta
tradicional ou especial em vermelho, por enquanto, apenas importados. Um ícone
do rock underground, que teve seu gostinho no mainstream durante os anos 80 e
90, mas sempre se manteve ideologicamente independente.
Formada em 1980 na cidade de Bradford, sempre liderada pelo
vocalista, guitarrista e compositor de mão cheia Justin Sullivan (já comparado
pela imprensa estrangeira a gente do quilate de Bob Dylan), depois de inúmeras
mudanças na formação, a banda hoje mantém a espinha dorsal que permanece há
muitos anos, com Dean White, na segunda guitarra e teclados, Ceri Monger, baixo
e percussão e Michael Dean, na bateria. O segundo guitarrista que estava na banda
desde 2005, Marshall Gill, foi retirado do time por se recusar a tomar vacina
contra a covid-19, durante o período da pandemia e a banda se manteve desde
então como um quarteto.
“Unbroken” sucede o álbum “From Here”, lançado em 2019, o
disco começou a ser escrito em 2021, tendo como pano de fundo tudo o que está
acontecendo num mundo de rápidas mudanças e em suas próprias vidas, mas, é
claro que tiveram que interromper o trabalho em virtude da turnê especial de 40
anos da banda, além do projeto “Sinfonia” (projeto gravado ao vivo em julho de
2022, em Berlim, com a Orquestra Sinfônica de Leipzig, fazendo releituras orquestradas
de seu repertório de mais de 40 anos de banda, arranjado por Shir-Ran Yinon e
regido por Cornelius During, lançado em luxuosas edições, tanto em CD Duplo com
mediabook em capa dura, quanto em vinil triplo de 180g, ambos acompanhados de
livro de 80 páginas e DVD/Blu-Ray com o show completo), que tomou muito tempo
de todos. Desde que começaram a pensar no álbum, a primeira decisão foi que
seria convidado o lendário Tchad Blake para mixar o trabalho (em seu currículo,
o produtor tem gente que vai de Al Green a U2, passando por Arctic Monkeys,
Travis, Elvis Costello, Sheryl Crow, The Black Keys, Pearl Jam, Tracy Chapman,
dentre dezenas de outros grandes nomes da música mundial), que aceitou na hora
e comentou: “não há muita coisa que me
pareça genuína hoje em dia. O New Model Army acerta para mim. Maravilhosamente
gravado e produzido pela própria banda, mixar este álbum foi como um presente”.
Cheio de guitarras, com vocais marcantes e ênfase no
baixo e na bateria, característica que sempre marcou todo o trabalho da banda,
“Unbroken” soa muito como New Model Army, mas diferente, como em todos os seus
discos.
O álbum abre com “First Summer After”, primeiro single divulgado
pela banda, ainda no ano passado. O clássico New Model Army, com a cozinha
certeira, um riff de baixo soturno de Ceri Monger, acompanhado da batida tribal
da bateria de Michael Dean, como pano de fundo para guitarras que se entrelaçam
e a letra poética de Justin Sullivan, um autêntico “contador de histórias”,
como ele mesmo se autodefiniu numa conversa de boteco que tivemos anos atrás,
após um dos sempre enérgicos shows da banda no Brasil.
“Language” vem na sequência, mantendo a cozinha firme, com a
junção de guitarras pesadas, refrão para cantar a plenos pulmões ao vivo, numa
letra que fala do poder da palavra, hora cantada, hora declamada. A terceira
faixa do disco é “Reload”, que começa com batida marcial de Michael Dean e
guitarra suja de fundo acompanhando Justin Sullivan declamando sua letra pesada
e raivosa, que fala da exploração inglesa, sua terra natal, que vem de tempos
distantes e permanece até hoje, com o dinheiro fruto dessa exploração enviado
para os paraísos fiscais do Caribe, é o costumeiro dedo na ferida que Slade,
the Leveller (aka Justin Sullivan) sempre meteu.
“I Did Nothing Wrong” é outro single divulgado previamente, típica
canção do New Model Army:
“Legend” e “Do You Really Want to Go There?” são canções típicas
da banda, que poderiam estar em qualquer outro álbum deles, e precedem a
belíssima “Idumea”, talvez, a mais bonita canção do álbum, batida tribal, voz
emocionada, coro emocionante.
E o disco se encerra com “Deserters”, mostrando uma banda
clássica, madura e que nunca se acomodou, que continua gravando álbuns
excelentes ano após ano e que cometeu, mais uma vez, outro de seus melhores discos.
E nós brasileiros, após seis anos dos últimos shows aqui, aguardamos, ansiosos, por nova
visita ao país.