Dead Fish mantém consistência de ótimos discos com 'Labirinto da Memória'

Dead Fish

Labirinto da Memória
⭐⭐5/5
Por  Bruno Eduardo 
 
Labirinto da Memória, o novo álbum de estúdio do Dead Fish, vem para comprovar uma surpreendente consistência de ótimos lançamentos - que começou em Vitória (2015), passou pelo petardo Ponto Cego (2019), e chega agora num conjunto de 13 canções que não saem da curva. Além disso, a banda que sempre se notabilizou por letras afiadas, continua mostrando que se faz necessária nos dias atuais. Num cardápio hardcore vigoroso, o quarteto combate a acomodação e a passividade, distribuindo dedos em feridas e trazendo reflexões sobre temas de gatilho para alguns dos principais debates sociais contemporâneos.

Guitarras em ritmo quebrado dão o tom na fortíssima "Adeus Adeus", que abre o disco num claro questionamento ao uso das religiões. "O Preço da escolha transformado em culpa / O preço da pureza é a castração", canta a voz carimbada de Rodrigo Lima. Na sequência, o primeiro single do disco ("Dentes Amarelos") faz uma reflexão sobre a importância de ser o que é e sobreviver, mesmo com vitórias e fracassos na vida. "Aprendendo a ter orgulho dos meus dentes amarelos / Que rangem quando falo, mas se calo, esfarelam", diz um trecho da letra. Como não poderia deixar de ser, a crítica ao imperialismo capitalista e ao neoliberalismo está presente em "11 de Setembro" e seu riff levanta defunto - destaque para a cozinha da banda, que segura a pressão de maneira sublime e traz uma levada mais versátil ao som do grupo. 
 
 
Riffs abafados, numa ode ao heavy metal, aparecem em "49", uma das melhores do disco. "Bolero" é outra que bebe nas fontes headbangers de Scott Ian (Anthrax), com pegada thrash e ritmo avassalador. Aliás, Labirinto da Memória é um disco de guitarras cortantes. É impressionante a capacidade de Ric Mastria em alternar acordes, riffs e tirar um dos melhores sons que se tem por aí. Duvida? Ouça canções como "Interrupção", ou a ótima faixa-título e tire suas próprias conclusões. Por falar na pressão sonora das canções, vale dizer que a produção do álbum é de Rafael Ramos (Pitty) e do próprio Ric Mastria.

O véio Dead Fish aparece em grande forma na excelente "Estaremos Lá", canção característica do grupo, tanto que saiu como segundo single do disco e já surge candidata para playlists de melhores da carreira. "Divino Caos" também segue esse mesmo roteiro do DF das antigas, e deve fazer a alegria dos fãs que acompanham a banda desde o histórico Zero e Um [que está completando 20 anos]. Para dar uma acalmada antes de sair, "Você Conhece Pistóia" é uma trilha de encerramento curiosa e traz uma sonoridade quase lo-fi / over all. Rodrigo Lima, um dos letristas mais importantes da cena rock dos últimos 20 anos, finaliza o novo trabalho trazendo uma espécie de autoanálise, que nos faz refletir sobre os impactos que os padrões sociais e mercadológicos causam em nossa vida.

Ainda é janeiro, mas já temos um dos discos de rock do ano.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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