Com formação clássica, Chili Peppers mostra musicalidade absurda em show no Rio

Foto: Rom Jom
 
O fantástico improviso instrumental, que deu início ao show do Red Hot Chili Peppers no Estádio do Engenhão, retratou perfeitamente o feeling que marcou a banda no final dos anos 80 e início dos anos 90. Naquela época, eles eram conhecidos como uma das bandas mais incendiárias do planeta em cima do palco. O tempo passou, a banda se alinhou comercialmente e acabou tornando-se uma das maiores fábricas de hits que o mundo do rock viu um dia. 

Não apenas os momentos mais inspirados, como também a fase mais bem sucedida comercialmente, teve na consolidação do quarteto formado por Kiedis, Flea, Chad e Frusciante - a tal formação clássica - o grande encaixe da fórmula. A química entre os músicos é tão absurda, que juntos, se transformam numa verdadeira máquina sonora, capaz de produzir boas composições aos lotes - como dois bons discos numa mesma tacada (Unlimited Love e Return Of Dream Canteen) - ou fritar seus instrumentos em cima do palco, de maneira que músicas de bases simples acabem em verdadeiras jam sessions ao vivo.

Um Frusciante mais focado e perfeccionista
 
Foto: Rom Jom
 
Nesse primeiro show no Brasil, o que se viu foi uma banda totalmente entrosada, com um John Frusciante muito mais focado, sereno e perfeccionista. Unido o capricho do guitarrista com a já fantástica cozinha do grupo, que tem os sensacionais Chad Smith e Flea, a parte instrumental da banda foi um presente para o bom público que compareceu ao Engenhão. Os fãs, de todas as idades e gerações, receberam uma noite de musicalidade em altíssimo nível, mesmo nas canções menos intricadas.

A primeira sequência da apresentação com "Can't Stop", "Snow (Hey Ho)", "The Zephyr Song", e principalmente, "Otherside", foi reservada para a cantoria generalizada. Mesmo com um repertório mais perto do convencional, a banda também é capaz de tirar da cartola algumas boas surpresas, como é o caso de "Suck My Kiss", hit nostálgico, e que nem sempre é incluído nos repertórios. Sorte dos cariocas. Tanto é, que antes da execução, Flea disse: "Temos uma surpresa pra vocês", e lá veio aquele baixão estalado para arrepiar os cabelos (hoje já brancos) de uma galera que acompanhava MTV no início dos anos 90.

Por ser uma banda totalmente encaixada no formato radiofônico dos anos 00, é sempre legal quando eles saem das obviedades e trazem pedaços menos populares de sua riquíssima discografia. Como por exemplo, ter canções como "Soul To Squeeze" e "Right On Time" no setlist - ótimas escolhas, diga-se de passagem. A primeira é uma sobra do período de gravação do petardo Blood Sugar Sex Magik e que foi lançada anos depois como um lado B. Já a segunda, é um não-hit do multiplatinado Californication. Só por esse aspecto, de triunfarem numa noite recheada de hits para as massas, já valem o ingresso.

Novas músicas funcionaram bem ao vivo
 
Foto: Rom Jom
 
Havia também uma expectativa sobre as novas músicas. Afinal, eles lançaram dois discos no mesmo ano e tinha uma galera esperando por canções como "Black Summer" e "Tippa My Tongue", por exemplo. As duas entraram no repertório e funcionaram muito bem. Mas os destaques entre as novas, foram outras. "Eddie", por exemplo, foi transformada numa jam instrumental de primeiríssima linha, com Frusciante solando a ponto de deixar o próprio Eddie (Van Halen) orgulhoso onde ele estiver. A outra foi "The Heavy Wing", que teve seu refrão cantado alto pela galera.

Mesmo com várias ausências notáveis ("Dani California", "Blood Sugar Sex Magik", "Around The World", "Scar Tissue") e calcado na segurança, o repertório foi bem coeso e não deve ter causado frustração na maior parte dos fãs presentes. É verdade dizer também, que o retorno de Frusciante traz esse aspecto de shows com setlists mais seguros e sem grandes surpresas. O guitarrista nunca gostou muito de inclusões fora do roteiro e sempre se recusou a tocar canções de One Hot Minute, por considerar, "equivocadamente", como um disco de canções de heavy metal.

O máximo desvio de rota no setlist ficou para uma citação ao The Clash, e uma releitura própria dos Ramones, em "Havana Affair". 
O resto da apresentação é um prato cheio para os fãs e não-fãs do grupo, com músicas auto-reconhecidas em qualquer nicho popular ("Under The Bridge", "By The Way", "Californication") e os improvisos instrumentais que entre um sucesso radiofônico e outro, acabam sendo responsáveis por revelar o espírito real da banda que conquistou gerações nos quatro cantos do planeta.

Um show típico dos Chili Peppers
 
Foto: Rom Jom
 
Para terminar, "Give it Away", hino noventista que soa nos tempos atuais como um drop nostálgico para os maiores de trinta cinco anos de idade, mostrou como o retorno de John Frusciante faz bem para o som do grupo. A guitarra, que oscila entre palhetadas suingadas e distorção Sabbathica, promoveu a única roda de pogo do show, e fez as arquibancadas tremerem no estádio. 

Mesmo com uma apresentação enxuta (de apenas uma hora e meia cronometradas), os fãs deixaram o Engenhão satisfeitos com o que viram. Afinal, além de terem presenciado o melhor time da história da banda em palco, receberam uma apresentação musicalmente impecável. Além disso, foi uma noite típica dos Chili Peppers, onde você tem aquele Greatest Hits generoso, recheado pelas inserções instrumentais que você respeita.

 ASSISTA ABAIXO A COBERTURA EM VÍDEO COM TRECHOS DO SHOW 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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