Rio Montreux Jazz Festival encerra em grande estilo com o lendário Billy Cobham,

Foto: Rogerio Von Kruger
 
E no sábado passado, dia 14 de outubro, aconteceu a quarta noite do Rio Mountreux Jazz Festival. As atrações do encerramento da edição 2023 foram o incansável Billy Cobham e o rapper Emicida. Com chuva muito menos intensa do que na quinta e na sexta-feira, o evento ocorreu sem maiores problemas.

A primeira atração da noite foi o guitarrista Veronese. Com um trabalho instrumental que alterna entre rock e metal, o músico se apresentou para um palco Village com bastante público. No repertório, músicas com influencias de Kiko Loureiro, John Petrucci e Steve Vai, acompanhado do baixista Renan Weignater e do habilidoso Demetrius Locks na bateria. Ao final do set, houve uma dedicatória para a rainha Rita Lee, falecida em maio deste ano. Em seu tempo de ser, causou boa impressão principalmente no público mais roqueiro do festival. Vale citar que nos 4 dias, houve boa diversidade entre os presentes, entre estilos, faixas-etárias e, felizmente, preferencias musicais.

Após os últimos acertos no palco pela equipe de roadies do festival, Billy Cobham e banda iniciaram sua apresentação pontualmente às 22:30. Tendo tocado com Miles Davis, Jack Bruce, John McLaughlin (entre uma verdadeira infinidade de outros), e mantendo sua carreira solo há 50 anos, o baterista construiu um trabalho que o consolidou como um dos músicos mais influentes da bateria, do jazz e até do rock, principalmente entre aqueles músicos que são referência para gravações, tours e todo trabalho que exige leitura rápida, vasto repertório e saber lidar com diferentes personalidades e calma para gravações.

O panamenho não é daqueles que força o show (e todo o som) ao segundo plano para ser o destaque. Sendo outro artista presente no festival com uma banda de apoio de alto nível, e o nível de excelência foi realmente alto, o brilho na performance do baterista foi a interação de seu instrumento com tudo o que acontece nas músicas. Pausas perfeitamente encaixadas, daquelas que realçam a beleza do ritmo, ou momentos de leveza alternados com batidas pesadas e uma pressão enorme nos bumbos, são os detalhes que o músico empregou para a fluência das músicas.

E tudo isto 'concorrendo' com a habilidade de Emilio García (guitarra), Steve Hammond (teclado), Victor Cisternas (baixo), Camelia Ben Naucer (teclado) e Marco Lobo (percussão) que executaram temas como "Desiccated Coconuts", "Spectrum" e ",Baron Rojo" como se fosse se não fizessem esforços algum, porém repletos foco e atenção nas partes de cada colega, não deixaram nenhuma música perder seu fôlego ao vivo. 

E num show tão redondo que até dificulta destaques, a tecladista Camelia Ben Naucer se mostrou uma das "armas secretas" da banda, mudando totalmente sua expressão corporal quando o repertório dava espaço para seus solos e improvisos. Ainda driblou um problema com seu tablet, no início da apresentação, quando calmamente esperou a troca do aparelho, e a partir dalí, não parou mais. Outro destaque também foi a animação de Billy Cobham sempre que citava o brasileiro Marco Lobo, que possui um trabalho extenso com Gilberto Gil, Milton Nascimento, Djavan e muitos outros artistas. 

Com toda a força e destreza que o baterista assumiu na apresentação, nem parecia que o público presenciava um senhor de 79 anos se expressar com um instrumento que cobra tanto do corpo. Mas, ao se levantar no fim do set, exclamou ao microfone que mal conseguia ficar pé naquele momento: "I can barely stand on my feet", disse, ao microfone. 
Agradecendo a recepção da plateia, que lotou o anfiteatro e explicando que não poderia tocar mais nada tanto pelo tempo da apresentação, quanto pelo corpo, o baterista abraçou os companheiros de turnê e saiu do palco sorridente, com sua bengala. 

No palco Village, o acordeonista Anatole Muster iniciava sua apresentação logo depois, mas com a lotação do espaço junto das enormes filas do bar pós-show, próximo ao palco, ficou difícil assistir a apresentação sem empurra-empurra. Ouvi a primeira música e o simpático suíço comentar que não saberia agradecer em português, mas logo voltei ao palco principal.

Uma hora depois e com muita gente no palco Villa-Lobos, 00:50 teve o início de "AmarElo encontra Love Supreme", show em que o rapper paulistano uniu, ao vivo, seu disco de 2019 com A Love Supreme, de John Coltrane e o resultado foi... estranho.

Mesmo contando com uma ótima produção visual e músicos de ponta em sua banda de apoio, o repertório do rapper não foi tão interessante assim. Uma amálgama de refrãos intermináveis e poses, nem as bases  de A Love Supreme ao vivo salvaram a apresentação. 

Foi bem recebido pelo público? Foi. Mas aí é mais uma questão de "pregar aos convertidos" do que outra coisa. Objetivamente, faltou intensidade, mesmo. Exceção feita apenas na porção final da apresentação, principalmente em "Ismália", que, aí sim, contou com uma performance forte do rapper e valeu a pena no repertório. De resto, morno e burocrático.

Em todos os dias, a produção do festival acertou em cheio nos equipamentos, com telões tanto no anfiteatro, quanto na área externa, onde também era possível assistir o show em alta definição e com interpretação das letras das músicas (quando houvessem) em libras. Como citado nos textos anteriores, foi bom também ver a interação do produtor Marco Mazzola, com os artistas. O diretor muitas vezes lembrou  e ressaltou a relação de vários com a edição sede do festival, além de auxiliar os artistas estrangeiros direto do canto do palco.

Com uma bela escalação de artistas e reunindo grandes nomes, o Rio Mountreux Jazz Festival foi um dos eventos mais interessantes de 2023. Sucesso para a próxima edição! 

Zeone Martins

Redator, tradutor e músico. Coleciona discos e vive na casa de vários gatos. Ex-estudante de Letras na UFRJ. Tem passagens por várias bandas da região serrana e da capital fluminense.

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