Depois do lançamento do excelente Tupã-Rá à frente do THE
BAGGIOS, em 2021, Júlio Andrade, ou apenas JULICO, nos brinda neste final de
2023 com outra pérola: Onirikum, seu segundo álbum solo (o primeiro foi o
também ótimo Ikê Maré, em 2020), com estreia prevista para dia 20/10/2023 nas plataformas de streaming e
que ouvimos em primeira mão.
O disco começa bem e abre com “... Then Pain May Become Tracks”,
uma faixa psicodélica em que Julico deixa o recado, em inglês: “se os sonhos se
tornam realidade / Então a dor pode se tornar músicas / Se você quer ser
verdadeiro / Não se importe com o dinheiro”. Em seguida, ainda carregado no
psicodelismo, “Mon Amour”,que, com esse
título, é romântica até o talo, como não poderia deixar de ser.
A terceira faixa dá nome ao álbum: “Onirikum”, com abertura num
clima meio bossa nova, acompanhado de um teclado viajante, outra bela canção que
Julico nos trás, que passeia pela temática onírica que permeia todo o álbum até
aqui. Em seguida chega “Música”, primeiro single deste álbum, que trata de como
a música sempre esteve presente na vida de Julico, citando nominalmente duas
referências: Tim Maia e Jorge Ben, aliás, a faixa me lembrou muito o trabalho
de Tim Maia, em sua fase “Racional”, muito soul e suingue de primeiríssima
qualidade.
“Motivo de Saudade” é o que vem a seguir e me assustei, a
impressão foi que saí de um disco do Julico e mergulhei em Elis Regina, graças à
participação mais que especial de Fernanda Broggi no vocal. A música desemboca
num samba da velha guarda, delicioso. A viagem onírica de Julico continua com a
curtinha e suingada “Vou Ver da Qualé”.
E chega “Cervejoim”, que me transporta para a década de 70, com
sua mistura de funk, soul, balanço, metais bem colocados e um sensacional
backing vocal, a cargo de Winnie Souza, é o que falamos na roda de amigos: “que
musicão”! No mesmo clima setentista, “Quero Colo”, um desabafo e pedido de um
afago.
“Fazbemblues” é como diz o título, um blues bem feito. Na
sequência, “A Bad Domênica”, uma faixa intensa, mais rock, se comparado ao soul
e blues que tivemos até aqui, com toques daquela guitarra “hendrixiana” que Julico sempre trouxe nos trabalhos do The Baggios,
tecladeira intensa, cortesia de Leo Airplane, em um som que por vezes lembra Os
Mutantes, mas com um toque todo pessoal, coisa que Julico conseguiu impor em
seu trabalho desde o primeiro disco com o The Baggios, tem DNA próprio, mesmo
cuspindo referências por todo canto.
E chegamos agora em “Banho de Sal Grosso”, que trás referências de
som regional com a percussão bem feita por Betinho Caixa D’Água, misturada com
guitarra pesada e vocal que me lembrou de discos do Alceu Valença. O título da
penúltima faixa entrega o que vem aí: “Funkão”, e não é a primeira vez no
trabalho de Julico em que Funkadelic e Parliament gritam alto em meus ouvidos.
Um belíssimo álbum, que chega ao final em grande estilo: “Trem Veio”,
um blues arrastado, com muito slide, gaita e um clima delicioso.
Desde que
conheci o The Baggios – tardiamente – com o lançamento de “Brutown”, seu
terceiro álbum, de 2016, costumo citar entre os amigos, que é a banda
brasileira que mais me impressionou, desde Chico Science & Nação Zumbi. E
afirmo categoricamente, que o trabalho solo de Julico trilha o mesmo caminho,
mais pessoal, introspectivo, mas, tão bom quanto.