Julico nos brinda com “Onirikum”, seu segundo álbum solo

Julico

Onirikum
⭐⭐5/5
Por  Ricardo Cachorrão 
 
Depois do lançamento do excelente Tupã-Rá à frente do THE BAGGIOS, em 2021, Júlio Andrade, ou apenas JULICO, nos brinda neste final de 2023 com outra pérola: Onirikum, seu segundo álbum solo (o primeiro foi o também ótimo Ikê Maré, em 2020), com estreia prevista para dia 20/10/2023 nas plataformas de streaming e que ouvimos em primeira mão.

O disco começa bem e abre com “... Then Pain May Become Tracks”, uma faixa psicodélica em que Julico deixa o recado, em inglês: “se os sonhos se tornam realidade / Então a dor pode se tornar músicas / Se você quer ser verdadeiro / Não se importe com o dinheiro”. Em seguida, ainda carregado no psicodelismo, “Mon Amour”,que,  com esse título, é romântica até o talo, como não poderia deixar de ser.

A terceira faixa dá nome ao álbum: “Onirikum”, com abertura num clima meio bossa nova, acompanhado de um teclado viajante, outra bela canção que Julico nos trás, que passeia pela temática onírica que permeia todo o álbum até aqui. Em seguida chega “Música”, primeiro single deste álbum, que trata de como a música sempre esteve presente na vida de Julico, citando nominalmente duas referências: Tim Maia e Jorge Ben, aliás, a faixa me lembrou muito o trabalho de Tim Maia, em sua fase “Racional”, muito soul e suingue de primeiríssima qualidade.

“Motivo de Saudade” é o que vem a seguir e me assustei, a impressão foi que saí de um disco do Julico e mergulhei em Elis Regina, graças à participação mais que especial de Fernanda Broggi no vocal. A música desemboca num samba da velha guarda, delicioso. A viagem onírica de Julico continua com a curtinha e suingada “Vou Ver da Qualé”.

E chega “Cervejoim”, que me transporta para a década de 70, com sua mistura de funk, soul, balanço, metais bem colocados e um sensacional backing vocal, a cargo de Winnie Souza, é o que falamos na roda de amigos: “que musicão”! No mesmo clima setentista, “Quero Colo”, um desabafo e pedido de um afago.

“Fazbemblues” é como diz o título, um blues bem feito. Na sequência, “A Bad Domênica”, uma faixa intensa, mais rock, se comparado ao soul e blues que tivemos até aqui, com toques daquela guitarra “hendrixiana” que Julico sempre trouxe nos trabalhos do The Baggios, tecladeira intensa, cortesia de Leo Airplane, em um som que por vezes lembra Os Mutantes, mas com um toque todo pessoal, coisa que Julico conseguiu impor em seu trabalho desde o primeiro disco com o The Baggios, tem DNA próprio, mesmo cuspindo referências por todo canto.

E chegamos agora em “Banho de Sal Grosso”, que trás referências de som regional com a percussão bem feita por Betinho Caixa D’Água, misturada com guitarra pesada e vocal que me lembrou de discos do Alceu Valença. O título da penúltima faixa entrega o que vem aí: “Funkão”, e não é a primeira vez no trabalho de Julico em que Funkadelic e Parliament gritam alto em meus ouvidos.
Um belíssimo álbum, que chega ao final em grande estilo: “Trem Veio”, um blues arrastado, com muito slide, gaita e um clima delicioso.

Desde que conheci o The Baggios – tardiamente – com o lançamento de “Brutown”, seu terceiro álbum, de 2016, costumo citar entre os amigos, que é a banda brasileira que mais me impressionou, desde Chico Science & Nação Zumbi. E afirmo categoricamente, que o trabalho solo de Julico trilha o mesmo caminho, mais pessoal, introspectivo, mas, tão bom quanto.
 

Ricardo Cachorrão

Ricardo "Cachorrão", é o velho chato gente boa! Viciado em rock and roll em quase todas as vertentes, não gosta de rádio, nunca assistiu MTV, mas coleciona discos e revistas de rock desde criança. Tem horror a bandas cover, se emociona com aquele disco obscuro do Frank Zappa, se diverte num show do Iron Maiden, mas sente-se bem mesmo num buraco punk da periferia. Já escreveu para Rock Brigade, Kiss FM, Portal Rock Press, Revista Eletrônica do Conservatório Souza Lima e é parte do staff ROCKONBOARD desde o nascimento.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
Banner-Mundo-livre-SA