Ghost faz show triunfante para casa lotada em São Paulo

Ghost lotou Espaço Unimed, em São Paulo [Foto: Zeone Martins]
 
O Ghost brilhou em seu show de retorno ao Brasil, simples assim. Mesmo problemas técnicos, como o atraso do equipamento que gerou até o cancelamento da apresentação da banda de abertura, a Crypta não afetaram a qualidade do que foi apresentado no Espaço Unimed nesta quarta-feira.

Com uma gravação extensa, em cantos de coral, tocando por mais de 10 minutos, o show de fato começou apenas quando as primeiras notas de "Imperium" ecoaram pela casa de espetáculos. Abrir o show com uma sequência de faixas de Impera e Prequelle trabalhos de estúdio mais recentes da banda, foi um acerto. A primeira, "Kaisarion", com seu hard rock com toques prog, mostrou de cara o peso e a qualidade de execução da banda de apoio, "Rats" foi recebida com euforia e, assim como "Faith", cantada com vontade pelo público. Já "Spillways", além da cantoria, chegou a arrancar lágrimas de alguns na plateia. 

Em termos de estrutura, o cenário completo da Re-Imperatour foi montado na casa, com um fundo completo, imitando os vitrais de una igreja com o Papa Nihil em destaque. A primeira vista, parecia que a altura do palco dificultaria a visão de quem mais a frente na casa, mas não houve nenhum problema do tipo durante a apresentação, felizmente. Já que era possível acompanhar os movimentos 
de Tobias Forge, vocalista e mentor da banda. Por sinal, o sueco, que declarou algumas vezes que assumiu o posto de frontman (e todas as encarnações de Papa Emeritus, pontífice da liturgia do Ghost e responsável pelos vocais a cada fase da banda, atualmente no Papa IV) pela negativa de cantores como Messiah Marcolin, ex-Candlemass se sai muito bem tanto nas linhas vocais, quanto na interação com o público. Conversando entre as músicas, interagindo com a banda de apoio, ou se movimentando com graça no palco, o vocalista encarna bem o papel de centro das atenções do espetáculo. 

Seguindo o repertório, o Ghost apresentou também várias canções de Meliora, que já são inevitáveis em um show da banda. 'Cirice" e "Absolution" apresentam peso em andamentos lentos, com riffs graves contrastando com melodias vocais bem montadas, uma das peças chaves do som do grupo, repetindo o impacto de tais elementos ao vivo. Já "Mummy Dust", potente que só, misturou riffs de Thrash Metal com groove e linhas de teclado à frente da canção, outra combinação que não é fácil de se fazer, e aqui foi uma das melhores de toda a noite. 

Trocando de roupa inúmeras vezes, o Papa IV (que era o cardinal copia na fase Prequelle), apresentou outro contorno visual, na primeira parte do show, com mais movimentação, roupas mais leves. A partir do meio, em canções como "Call Me Little Sunshine" os trajes papais remetem a fase de maquiagem pesada e Tobias Forge mais parado no palco, de Opus Eponymous e Infestissumam, representada na noite por "Ritual",  "Con Clavi Dio" e a heresia completa de "Year Zero", com o público berrando 'Hail Satan' com gosto. Bonito de ver.

Tirando a mitra (um dos adereços papais) em "He Is. Um dos singles de Meliora, a faixa trouxe também uma sonoridade mais calma ao show, com o público cantando junto. É neste bloco também que é tocada a instrumental "Miasma", outra do disco de 2018, famosa ao vivo pela participação do Papa Nihil, que é 'ressuscitado' pelos roadies da banda para apresentar seu solo de saxofone. Com este clima teatral, o show do grupo hoje beira um musical quando esta é a intenção, e não foi diferente aqui. 

Antes do encerramento (de mentira) em "Recite on The Spitalfields", o grupo apresentou "Mary On A Cross", sucesso recente no TikTok. Voltando de jaqueta vermelha, e outra vez de trajes leves, foi a vez de "Kiss The Go-Goat", "Danse Macabre" e "Square Hammer" colocarem o público para cantar e pular junto. 

Tendo sido o encontro de uma banda com repertório invejável e um público ansioso para conferir o Ghost, a primeira noite no Espaço Unimed foi muito mais do que satisfatória. De minha parte, senti falta de "Twenties",  de Impera, mas  o grupo já está numa fase em que algumas faixas dificilmente sairão do repertório. Focar nos discos e singles de discos mais recentes trouxe um repertório mais uniforme, mesmo com as variações de estilo de cada canção. Foi uma noite de sucesso para a banda e fica claro que a promessa de voltar ao Brasil com mais frequência tem condições de ser cumprida futuramente. Grande banda em ótima fase, vale a pena acompanhar o que o Ghost faz.

Zeone Martins

Redator, tradutor e músico. Coleciona discos e vive na casa de vários gatos. Ex-estudante de Letras na UFRJ. Tem passagens por várias bandas da região serrana e da capital fluminense.

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