Kool Metal Fest: Brujeria promove "baile pesado" em Circo Voador lotado

Foto: Marcelo Pereira / Portal Rock Press
 
Numa sexta-feira de calor intenso, chuva forte e ventos frios, graças ao caos climático do El Niño, aconteceu a primeira edição carioca do Kool Metal Fest, também comemorando os vinte anos do festival. Com o Circo Voador lotado e um line-up bem escalado, foi uma noite de celebração e peso.

Abrindo o evento, a Velho, banda de black metal tradicional, apresentou-se para um público considerável. Com letras em português, de pura blasfêmia, o som do grupo conta com um trabalho instrumental bem feito, com riffs agressivos e bem articulados melodicamente. Destaque para "Perto dos Portais da Loucura" e "Satã, apareça!", apresentadas na parte final do set. 

Por volta de 21:40, a Gangrena Gasosa chegou ao palco depois de pequenos ajustes. Abrindo o show com "Rei Do Cemitério", a banda concentrou o repertório nos álbuns Gente Ruim Só Manda Lembrança Para Quem Não Presta, Se Deus é 10... Satanás é 666 e Smells Like A Tenda Espírita. Canções do EP Kizila e singles recentes também se fizeram presentes. 

Contando com participação intensa do público, cantando por todo o setlist, a banda apresentou músicas com precisão e eficiência, características da formação atual. "Kizila", "Black Velho" e "Devorador é o Diabo" mostram o quanto a música da Gangrena Gasosa é pesada e intensa. Muito longe de ser algo feito como piada, como alguns persistem em opinar. E é sempre importante destacar a qualidade da sessão rítmica, comandada por Gê Vasconcelos (Pomba Gira) na percussão e Alex Porto na bateria. Ambos dão peso e sustentação para o repertório da banda, e mantém entrosamento bem acima da média.

O Ratos de Porão, veterano de escalações no Kool Metal Fest, chegou mandando "Alerta Antifascista", de Necropolitica, lançado ano passado. Com os riffs de Jão, a bateria de Boka e o baixo de Juninho num peso e João Gordo bem disposto, a banda emendava várias de mesma tonalidade e ritmo, não fazendo nem pequenas pausas entre inúmeras canções.

Fica difícil não citar como "Farsa Nacionalista" e "Amazônia Nunca Mais", de Brasil (1989)não envelheceram liricamente, muito por situações as quais o Brasil passou nos últimos anos, semelhantes as narradas pelo grupo em Necropolitica e Isentön Paünokü, EP mais recente da banda. Sendo assim, nas poucas paradas que a banda fez, João Gordo destilava xingamentos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, assim como fez anteriormente Angelo Arede, da Gangrena Gasosa e  posteriormente Pinche Peach, na apresentação do Brujeria.

Contando ao menos uma faixa de cada trabalho de inéditas da banda, mais três dos últimos lançamentos e mais três de Crucificados Pelo Sistema, o R.D.P aproveitou bem o tempo de palco e teve resposta entusiasmada da plateia por todo o show. Logo voltam ao Circo Voador, com certeza.

E, fechando a noite, o Brujeria, atração promoveu um 'baile" peculiar: vinhetas; passos de dança dos vocalistas Juan Brujo e El Sangrón; letras sobre assassinato, imigração, bruxaria e maconha. Tudo isso com um peso descomunal da bateria, bem casada com o baixo e a guitarra em afinações baixíssimas, bem equalizadas, que não se embolam. 

Com o repertório calcado no álbum Matando Gueros, mas não contando com sua execução completa, há quem não aprecie este tipo de performance por nem toda canção combinar com o palco. Também há quem desgoste por não se dar espaço para faixas mais conhecidas, mas o que o sexteto (ao menos nestas datas, sem a vocalista Bruja Encabronada) apresentou de Matando Gueros foi , sim, uma sequência potente de músicas tocado, com participação da plateia cantando, pogando e subindo no palco infinitas vezes, como aconteceu também no show do Ratos de Porão e nos 40min de show da Gangrena Gasosa.

"Seis Seis Seis", "Santa Lucia" e "Cruza La Frontera" foram algum dos destaques da primeira parte do show, que é encerrada para dar espaço a faixas de Raza Odiada (1995) e Brujerizmo (2000). Sem executar nada de Pocho Aztlan (2016), ou alguma inédita de Esto Es Brujeria, próximo trabalho da banda, a segunda metade do show rendeu um momento curioso: ao falar de 'marijuana', o citado Pinche Peach (que não participa de todo o set) pediu um baseado para 'los macoñeros del Rio de Janeiro', sendo atendido por um fã que estava a direita do palco. Seguiu o show, com tapa na pantera e tudo. 

Convidando o público para 'se alistar no exército do Brujeria', a banda mandou versões pesadíssimas de "Colas de Rata",  "Marcha de Odio" e "Brujerizmo". Após agradecimentos, "Matando Gueros" fechou o setlist, com os vocalistas empunhando facões. Com o cover da banda para "Macarena" (entitulado "Marijuana", claro) tocando no P.A., foi a vez de mais passos de dança, fãs no palco e o encerramento do festival. Nada mal pra quem encarou a chuva forte e a ventania: valeu a pena.

Zeone Martins

Redator, tradutor e músico. Coleciona discos e vive na casa de vários gatos. Ex-estudante de Letras na UFRJ. Tem passagens por várias bandas da região serrana e da capital fluminense.

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