Drenna simboliza rock contemporâneo em "Cisne Negro", seu novo álbum

Drenna

Cisne Negro
⭐⭐⭐✩4/5
Por  Bruno Eduardo   
 
A Drenna é um nome que simboliza perfeitamente a luta diária de uma banda independente para se tornar bem sucedida nessa empreitada de viver de música fazendo rock. O grupo carioca, que saiu dos becos undergrounds, rodou o país e vive de forma itinerante nas estradas há uns 10 anos, chegou ao ápice de sua exposição ao subir no palco da última edição do Rock in Rio.

Um ano exato após o show consagrador no maior festival de rock do nosso país, eles aparecem com o seu primeiro álbum de inéditas desde 2016. Cisne Negro, lançado pelo selo Toca Discos, e produzido por Felipe Rodarte, traz um conjunto de 10 canções, que tentam claramente se conectar aos tempos atuais. São faixas curtas, de em médias dois a três minutos de duração, e como virou uma tônica contemporânea, parece um verdadeiro combo de singles prontos para os streamings.

Musicalmente, o novo álbum parece mostrar um retrato atual dessa nova fase da Drenna. A banda, que sempre andou de mãos dadas ao seu tempo, seja fazendo um rock afastado dos clichês retrôs ou tocando em temas hypados e debatidos nas redes sociais, continua antenada e tentando fazer essa conexão de arte 
+ intimismo + expressão social da maneira que dá. Só que a grande virtude do grupo e que faz deles um pouco diferentes de outros da mesma seara, é que eles fazem isso de uma maneira não-exagerada, que no final das contas acaba soando funcional - até mesmo quando usa "modismos" de gosto duvidoso, como os vocais de autotune no final de "Hater".

Essa vertente de rock alternativo e antenado dá as caras logo na faixa de abertura, "Game", garantida num refrão colante, que é repetido em quase toda a canção. "A Casa" é outra que segue esse formato de melodia fácil, num tom mais pop, com letra que aborda experiências casuais do dia a dia. Por falar em letras, a banda segue trazendo questões como não seguir padrões estipulados, depressão e a importância de se valorizar num mundo cada vez mais virtual e tóxico.
 
 
Musicalmente, o grupo também mostra uma maior versatilidade instrumental. "Reta no Céu", uma das grandes composições desse disco, tem uma levada com um quê de Chili Peppers, não apenas pelas linhas de baixo de Bruno Moraes, que ditam o rumo da canção, mas pelas palhetadas de guitarra à lá John Frusciante - um modelo discreto-efetivo com mais ênfase nas camadas do que propriamente nos riffs ou solos. Ainda no caminho do intimismo, vem a igualmente boa, "Espelho", com a melhor bateria do disco, e, novamente, com as guitarras recatadas, mais preocupadas com os detalhes sonoros e que propositalmente servem como uma cama musical para a voz de Drenna deitar - e rolar. 

No entanto, não podemos fugir dos fatos absolutos: os melhores momentos desse Cisne Negro aparecem quando a banda coloca pra fora o combustível que a moveu durante esses muitos anos de corre, que foi o rock. Sim, embora haja uma tentativa de conversar com várias tendências, é no rock que a Drenna soa de forma realmente genuína. Pois são em canções como "A Busca" - a melhor do disco, e que traz a participação de Kauan Calazans - e "Me Desculpa", que o trio consegue escancarar essa paixão por fazer o rock acontecer nos palcos.

Outra que tem o rock em sua essência é a faixa-título, "Cisne Negro", instrumental e que aparece como uma ótima sugestão para abrir os shows da banda. Fechando o álbum, "A Praia", canção apresentada no palco do Rock in Rio, e que conta com uma característica marcante da banda: o dom para fazer refrães grudantes.

Em meia hora de audição ininterrupta, a Drenna consegue trazer uma visão contemporânea e bem particular do lugar que o rock se encontra nos tempos atuais, onde busca influências distintas para se conectar num mundo cada vez disperso das experiências de vida, tão necessárias para os dias de hoje. Ouça hoje e tire suas conclusões! 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem
SOM-NA-CAIXA-2