Em álbum fervilhante, Canto Cego transborda influências na temperatura do rock

Canto Cego

Canto Cego
⭐⭐⭐✩4/5
Por  Bruno Eduardo  

Não existe na cena rock nenhum grupo que soe parecido com o Canto Cego. O som deles é um mix de referências das mais diversas, que vão da poesia, passam pela MPB, descabam para as guitarradas e de alguma maneira inesperada, acabam te pegando pela interpretação sempre peculiar da ótima Roberta Ditz. E eles são muito bons no que fazem. 

Não a toa, pisaram em alguns palcos consagrados na história da música mundial - como o Rock in Rio e o Montreux Jazz Festival - e, vira e mexe, estão sendo citados por aí, como um dos nomes mais interessantes do ramo.

No entanto, é impressionante como eles conseguem surpreender até mesmo os avisados. Isso, porque o terceiro e novo álbum (homônimo) trata de abraçar as guitarras e mostra uma incrível capacidade do grupo em fazer o rock soar forte, mesmo que seja nesse caldeirão totalmente imerso de referências que é o som da banda.

E o melhor de tudo, é que esse Canto Cego soa como um disco "volta ao rock" - basta ouvir Karma, o álbum anterior, para entender. E aqui fica uma reflexão para as novas bandas do gênero: o rock é um estilo que está de portas abertas para novas inclusões e não é preciso abandoná-lo para mostrar riqueza artística. A arte está na transpiração da alma. Bandas tão exóticas como Led Zeppelin, Beatles, The Who (só pra citar alguns) não tinham nada de conservadoras. E esse novo disco do Canto Cego é um exemplo, que dá sim para explorar vários territórios sem deixar o rock de lado.

Com guitarras pesadas e cantoria divina de Roberta, "Farsa (Alvorada)", que abre o disco, representa de forma certeira o novo álbum numa das melhores faixas da carreira da banda. A capacidade criativa do quarteto aparece logo em seguida na festiva "Urgentes", que além dos elementos percussivos, chama a atenção também pelos fraseados de guitarra em detalhes e pela poesia transbordante da vocalista.
 
 
Influências hendrixinianas estão espalhadas por todo o álbum. Principalmente em "Luta", que embora tenha ênfase nas guitarras suingadas, é a cozinha do grupo que segura a onda e dá as cartas. Atente os ouvidos para a performance de Magrão nessa faixa (é tirar o chapéu!). Outra que lembra Hendrix, é "Rio". Repare no impressionante timbre de guitarra que o ótimo Rodrigo Solidade consegue tirar e pague sua passagem de volta aos anos 70. 

Mas o melhor do álbum fica em "Parque das Imagens", uma mutação sonora que expõe a toda aptidão artística e a capacidade individual dos músicos. Pesadona no início, ela entra num terreno melancólico e explode num refrão fortíssimo. Já na parte final, "Fábula de Granada" chega para se consagrar no posto de canção mais pesada do disco.

Para produzir esse disco, o Canto Cego olhou para dentro e transpirou todas as suas referências artísticas num conjunto de canções untadas principalmente pelo rock, que faz tudo ferver de forma sublime, e consagra o grupo como um dos nomes mais interessantes dos novos tempos na cena rock nacional. 

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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