Avatar fala sobre novo álbum, influências e show com Iron Maiden no Brasil


O Avatar esteve no Brasil no último ano abrindo para o Iron Maiden. O show da banda causou uma boa impressão em quem ainda não conhecia o som deles e também criou uma conexão importante com o púbico. No entanto, o grupo sueco vem ganhando cada vez mais espaço entre os novos nomes do rock mundial, comprovado de maneira mais consistente com o lançamento de seu novo álbum, o ótimo 'Dance Devil Dance' - que colocou o grupo nos principais rankings de metal da atualidade. Tanto que a banda vem sendo figura permanente no TOP 10 da Billboard na sessão "Mainstream Rock Airplay" e no TOP 10 da Mediabase na sessão "Active Rock". Para entender melhor essa nova fase do Avatar, o Rock On Board conversou com o vocalista Johannes Eckerström, que falou sobre o novo álbum, sobre a experiência de tocar no Brasil com Iron Maiden e sobre as chances do grupo retornar ao nosso país. Confira!

Primeiro, é bom dizer que adorei o novo álbum, Dance Devil Dance'. Há tantas influências sonoras diferentes, que ele soa fresco e ao mesmo tempo pesado. Podemos dizer que esse é o disco mais eclético do Avatar?

Bem, se você diz, eu acredito em você. Você sabe que vivemos dentro disso e nossa maneira de pensar tem sido a mesma por um tempo, no sentido de que olhamos para bandas como os Beatles ou o Queen quando se trata de composição no sentido de... Digamos, Queen, por exemplo: compare "Another One Bites the Dust" com "Bohemian Rhapsody" ou com "I Want To Break free". Porque são aqueles quatro caras da banda fazendo isso juntos. E o mesmo aconete com os Beatles. "Please Please Me" soa como Beatles, "Help!" soa como Beatles, "Come Together" soa como os Beatles... e é porque são eles. Eu não acho que somos talentosos o suficientes como artistas, para sermos capazes de soar como qualquer outra pessoa. Então não nos preocupamos com isso. Nós apenas sabemos todas as ideias que temos. Se você pode transformar essas ideias em heavy metal ou em coisas suaves, nós vamos fazer. Fazemos músicas com isso e então está tudo aberto. Às vezes vamos soar como se fôssemos totalmente death metal, e o death metal desempenha um grande papel no que estamos fazendo. Mas seremos como death metal apenas ocasionalmente, como "Clouds Dipped in Chrome". Amamos o rock and roll da velha escola, amamos o heavy metal da velha escola e usamos tudo isso. Mas não estamos tentando ser retrô de nada! Estamos tentando fazer músicas que você nunca ouviu, mas com ideais que são reiniciados em Judas Priest e coisas assim. Então existem muito poucas regras que seguimos, como fazer bons riffs e ter uma batida de bateria que se encaixa. Tem sido o mesmo por muito tempo. Mas sim, eu acho que é um álbum multifacetado. Eu acho que 'Hunter Gatherer' (2020) foi igualmente eclético, mas também puxando um pouco mais em direções diferentes em termos de vibração. Acho que você pode resumir que ainda há um pouco de rock and roll acontecendo em minha mente e também há músicas mais extremas, como "Do You Feel in Control". Acho que havia mais elementos progressivos antes e meio que sacrificamos isso desta vez com elementos mais focados no grupo. Posso dizer que não soa como 'British Steel' (Judas Priest), mas estávamos pensando muito em 'British Steel' ao trabalhar neste álbum.

É muito legal ouvir você dizer isso, porque talvez essa seja a melhor coisa sobre o Avatar. A maneira como vocês entregam o metal, de uma maneira não tradicional, misturando outras influências, é para mim, o que torna a música de vocês tão particular. Concorda?

Sim. É isso que me entusiasma na maneira como criamos as coisas. Então é importante para nós fazer isso... Músicas que fazem sentido! E acho que muito do metal moderno sofre com isso. Há um monte de coisas acontecendo mas escrever um monte de coisas é relativamente fácil. Só que realmente unir tudo isso tematicamente, apenas musicalmente falando, é algo que damos muita importância. É legal estar em todos os lugares, musicalmente falando, mas optamos por estar em um lugar de cada vez. É música raivosa, triste e com tesão. Mas é legal que você faça uma música raivosa, uma música triste e outra de acordo. Ou seja, uma coisa de cada vez.

Entendo bem o que você está falando. Inclusive, há uma música neste álbum que eu amo: "On The Beach". Ela tem uma base de Groove metal, mas com um refrão pop... É incrível!

Oh sim! Muito bom você falar sobre essa canção. É engraçado que hoje estivemos fazendo essas entrevistas com jornalistas brasileiros, e eu me lembrei do quanto eu amo o Sepultura. E eles foram uma grande parte disso. Eu ouvi alguma performance de estúdio do bom e velho "Refuse And Resist" ou algo assim... Um dos clássicos... E isso me inspirou muito para que essa canção fosse a mais selvagem possível e que nós fôssemos capazes de manter os grooves para manter a cabeça balançando.
 
 
Eu acho que a coisa mais legal desse novo álbum é a capacidade do Avatar de soar fora do metal e ainda soar como Avatar. Estou certo?

Sim, mas é claro, novamente, não somos talentosos o suficiente para não soar como Avatar. Estamos presos a fazer música como nós mesmos, então nem nos preocupamos com isso. É como se você ouvisse uma disco music das antigas ou ouvisse algo como a velha Soul Music ou death metal técnico. E vamos aumentar a influência para todo o lugar. Posso gritar melodias sobre um riff de death metal apenas para que você saiba que tudo é permitido no tipo de som que gostamos. Acho que gostamos de sentir os riffs e seguir em cima das nossas intuições. É tipo o que fazia o Black Sabbath. O Sabbath podia ser uma banda banger direta como em "Childen Of The Grave", ou um ultra hit de dois minutos como em "Paranoid". Então, vamos seguir com isso...

Um exemplo dessa variedade sonora é a música "Train". Gostei muito dos vocais! Suaves, gritados, sussurrados...

Obrigado! Realmente. Gosto muito de trabalhar essas camadas de voz nas músicas. Acho que cada canção pede um jeito de cantar diferente, e com isso vou tentando tornar cada faixa atrativa da melhor maneira possível.

Inclusive tem uma participação da Lzzy Hale em "Violence No Matter"... Fale um pouco desse resultado...

Foi ótimo! Eu gostei muito, principalmente por ela participar da mensagem da canção. Porque geralmente não somos tão políticos, mas também é esse o objetivo da música. É como se fosse uma grande mesa redonda com todas as ideias e queremos que esse ambiente democrático desafiador avance coletivamente com as melhores ideias. Por exemplo, eu não sou uma pessoa conservadora, de maneira alguma, mas eu quero os caras conservadores na minha mesa. Eu preciso que o mundo ideal seja grande e eu quero provar que estou errado, e às vezes provar que estou certo e tudo isso. Mas o fascismo está apenas dando um grande despejo em tudo o que todo mundo está tentando alcançar e trabalhar. E essa música é basicamente sobre isso. Tim escreveu todos aqueles riffs que eu adorei. Fiz vocais e achei que precisávamos encontrar alguém para cantar e Liz foi perfeita. Ela é uma das maiores vozes do nosso tempo e tem o bônus de ser uma mulher que represente isso tão bem.

Algo que eu preciso destacar é o trabalho que vocês fazem nos clipes. Eu tinha achado que vocês tinham chegado ao ápice em "The Dirt I'm Buried In", mas vocês se superaram em "Chimp Mosh Pit". Ficou realmente incrível! Você participa das ideias criativas dos vídeos?

Sim. Geralmente fazemos reuniões entre eu, John e o diretor, discutindo ideias e, às vezes, eu tenho quase toda a ideia para o vídeo, ou um deles tem quase toda a ideia ou algo assim. É difícil dizer quem inventou o quê depois de um tempo. Só sei que há alguns vídeos que eu escrevi... Mas que não posso chamar de roteiro, porque não é uma estrutura tão técnica a ponto de eu definir como roteiro, entende? Mas é algo que nós sentamos, conversamos, trabalhamos com as ideias juntos. E isso é algo que gosto de fazer. Eu amo desenvolver ideias! Ideias são uma droga para mim. Eu sou movido por querer apenas inventar. Então eu gosto quando há outra pessoa fazendo a parte chata de cuidar das coisas de gravação, trazer as luzes e outras coisas... Aliás, isso é mais o John. Gostamos dessa coisa de coletivo, onde não é tão importante de qual membro do Avatar as coisas vêm e isso também se reflete na composição das nossas músicas.
 
 
Continuando nesse tema... Como você vê a importância do trabalho visual da banda nesses novos tempos?

Bem, tornou-se muito importante para nós. E obviamente, agora com as mídias sociais, mais do que nunca. Não apenas videoclipes, mas todas as coisas que postamos hoje em dia. Tornou muito importante para nós porque agora é algo que esperamos de nós mesmos e outras pessoas também. Resumindo, isso é algo que queremos fazer desde que começamos a trabalhar com a banda. Olhamos a banda como juma expressão artística, não apenas as músicas. Por exemplo, as calças que você veste no palco também é show business. Para mim é uma forma de arte a forma que você visualiza o banda no palco, ou em vídeo, ou em fotos. Tudo isso também é uma forma de arte. Não é apenas marketing para nós! Então está tudo conectado. Este é o trabalho que queremos ter... Por isso adoramos fazer os vídeos tanto quanto amamos fazer os álbuns.

No último ano vocês tocaram com o Iron Maiden no Brasil. Como foi isso?

Ah, foi incrível! Sinceramente, desde que começamos a banda, essa foi a primeira vez que ficamos nervosos antes de subir no palco. Principalmente por causa do que o Maiden significa para nós. No estúdio que ensaiávamos tinha um cartaz Rock in Rio. Aliás, não sei se existe algum estúdio para bandas de metal na Europa que não tenha o pôster do Rock in Rio na parede. Então ir para a América do Sul pela primeira vez e tocar com o Iron Maiden foi algo altamente emocionante para nós. Porque depois que assistimos ao show deles, apenas nos lembramos de todos os bons momentos que tivemos como banda, onde ouvíamos Iron Maiden juntos. E lembramos como eles influenciaram nossa maneira de compor. Somos uma banda com dois guitarristas principais e, você pode rastrear isso para muitas bandas diferentes, mas, no nosso caso, acho que o Iron Maiden é provavelmente o número um na lista quando pensamos em "por que nós decidimos ter duas guitarras em uma banda". Eles nos influenciaram a ter uma abordagem significativamente diferente na maneira de fazer música. Então ir com o Iron Maiden a qualquer país pela primeira já é uma grande felicidade. Eu cheguei a dizer em outra entrevista, que se tivéssemos ido ao Brasil pela primeira vez e tocado para 65 pessoas em São Paulo ficaríamos muito felizes e com muita sorte de ter alguém aparecendo por lá. Porque nós seríamos uma novidade para o país. Agora, tocar em São Paulo para 65 mil pessoas... é uma posição muito privilegiada de começar a construir um relacionamento com uma nova nação, em um novo continente para nós, que nem todo mundo tem essa oportunidade. E é claro que foi incrível e muito divertido também. Fomos turistas no mundo do Iron Maiden, porque eles foram muito generosos com a gente. Foi tipo: "Hey, você pode ficar onde quiser no palco", ou "toquem o quanto tempo que precisarem", ou apenas saber que o Nico McBrain estava assistindo o nosso show no canto do palco, foram coisas marcantes para nós. Então foi muito especial em todos os sentidos imagináveis, ​​e posso dizer que não fomos apenas aceitos, mas bem-vindos pelo público! E isso é tudo o que importa. Foi impressionante como o público gritava antes do nosso show: "Iron maiden, Iron maiden, Iron maiden", e  conseguimos nos superar nos nossos 30 minutos de apresentação. Saímos do palco com a sensação de que funcionou e de que não poderia ter corrido melhor.

E existe alguma conversa para vocês voltarem ao Brasil?

Para tocar no Brasil? Estamos realmente trabalhando nisso de alguma forma. É muito cedo para eu fazer uma promessa real, mas agora é principalmente sobre nossos agentes. Alguém precisa atender o telefone no Brasil e aí podemos tornar isso real. Mas do jeito que planejamos, sim, vai acontecer e não queremos esperar muito. Nos divertimos muito aí e queremos voltar o mais rápido possível!

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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