Dream Theater fala sobre expectativa de tocar no Rock in Rio

 
Nesta sexta-feira (2) o Dream Theater finalmente estreia no Rock in Rio. E não só isso. A banda símbolo do chamado metal progressivo tem a tarefa de fechar a noite mais pesada do festival. Em entrevista ao Rock On Board, o tecladista Jordan Rudess falou sobre a ansiedade de poder se apresentar no festival pela primeira vez e da responsabilidade de tocar logo após o Iron Maiden. Confira abaixo o papo na íntegra.

Esta é a primeira vez do Dream Theater no Rock in Rio. Fale sobre a sensação de tocar pela primeira vez num dos maiores festivais de música de nossa história.

É ultrajante. Quer dizer... O Rock in Rio é simplesmente icônico. Estamos ansiosos por isso há muito tempo. Então já estou com as malas arrumadas [a entrevista foi antes da banda embarcar] e sabemos que lá o público é incrível e nós sempre fomos muito bem recebidos no Brasil. Então estamos muito empolgados por estarmos vindo para essa celebração. Acho que todos os sistemas estão funcionando, como eles costumam dizer, e estamos prontos. Acho que vai ser incrível.

Vocês tocam depois do Iron Maiden. Ou seja, vocês fecham a noite. Como é encerrar a noite mais pesada do festival?

Uau, é uma honra! Maiden é tão icônico que só o fato de estar perto deles é emocionante. Então espero que possamos manter todo mundo realmente energizado e acordado depois da explosão com o Maiden. Vamos dar tudo o que temos, e sim, estamos muito empolgados com esse show.

Ainda falando sobre Rock in Rio, nós teremos o Mike Portnoy no Palco Sunset com o seu projeto Metal Allegiance. Como ficou a relação de vocês após a saída dele da banda?

Mike e eu estamos sempre em contato e ainda somos amigos. Inclusive fizemos juntos o novo álbum do Liquid Tension Experiment. Ele me disse que estaria lá e isso é será divertido. A nossa relação é muito boa.

O novo álbum do Dream Theater, A View From The Top Of The World, foi gravado no estúdio da banda, o DTHQ. Como foi essa experiência de poder gravar um disco lá?

É incrível ter o nosso espaço. É muito bom poder visitar outros estúdios, mas há algo em ter seu próprio lugar que é maravilhoso. Principalmente para uma banda como o Dream Theater, que gasta muito tempo e foco em seus álbuns. Queremos eles perfeitos e não paramos enquanto não ficamos confortáveis com o resultado. E ter o nosso lugar tira aquela pressão de que você tem que terminar as coisas rápido. Nesse caso o nosso tempo é um ponto de vista completamente aberto e podemos fazer o que quisermos. Então isso funciona muito bem para uma banda como o Dream Theater que quer gastar esse tempo e energia para garantir que tudo esteja realmente certo e tão bom quanto possível. Então é muito bom ter o nosso estúdio, não apenas para gravar mas também para sair e comermos juntos e também para o nosso equipamento. Então ajuda em muitos termos.

O álbum foi produzido pelo Andy Sneaps. Como foi a participação dele nesse processo?

Ficamos muito empolgados por ter ele participando disso. Ele tem muita história sobre fazer álbuns realmente bons e ele é um guitarrista. Então sabíamos que ele seria um cara legal para fazer isso. E Andy levou muito, muito a sério. Ele estava determinado a se certificar de que estávamos realmente muito felizes. O que significava que ele gastava muito tempo nisso, porque nós somos muito particulares sobre as coisas e ele era tão exigente sobre tudo, para ter certeza de que realmente certo. Então acabei entregando algo que foi realmente ótimo. E tem algo que deve ser dito, é que o nosso engenheiro Jimmy T, também foi muito responsável por gravar o melhor som de todos nós. O melhor teclado, sentir os melhores sons de guitarra, e fazer muito do que chamamos pré-mixagem. Então quando enviamos para o Andy, estava tudo soando muito bom. Então tudo o que ele podia fazer era tornar ainda melhor. Então a combinação de Jimmy T e Andy Sneaps é que foi realmente a mágica de ter este álbum soando desse jeito.

A faixa-título do álbum é a minha favorita desse trabalho. 20 minutos de instrumental épico. Eu imagino que gravar isso e tocá-la ao vivo deve ser um desafio...

Essa é provavelmente a minha faixa favorita também. Antes de tudo, a razão pela qual a amo é que ela parece uma culminação do que é o Dream Theater. Aprendemos muito ao longo dos anos. Sabemos o que funciona sonoramente, sabemos o funciona para os fãs e sabemos o que nos sentimos confortáveis em tocar. Então ela é uma combinação de algo que pode realmente balançar muito e me sinto muito bem com isso. Mas também tem muitos outros elementos divertidos e emocionantes. Como, por exemplo, na minha perspectiva como tecladista, de ter criando todos esses sons orquestrais. Parece quase uma trilha sonora de filme ou algo assim, com grandes sons orquestrais. E criar esse tipo de ambiente é minha responsabilidade. Então usei alguns dos melhores softwares de empresas como spitfire, ou hdo ou cinesamples para criar esses sons enormes. Então você sabe que é muito divertido colocá-los no contexto de um Dream Theater heavy rock. E esse tipo de pensamento é o que faz parte do que eu acho realmente tremendo e muito bom. E o que também gosto nesse álbum e nessa música é que eu trabalhei muito duro para conseguir os melhores sons de teclado, como o de órgão clássico de hard rock, como o de John Lord (Deep Purple), por exemplo. E eu tenho que dizer que cada álbum do Dream Theater é outra chance de aprender e fazer mais sobre o tipo de som que estamos procurando. Então posso dizer que "A View From The Top Of The World" é um bom exemplo de onde estamos agora. E é muito divertido tocá-la ao vivo.

O Dream Theater foi indicado duas vezes ao Grammy e acabou vencendo agora com "The Alien". Qual é a importância desse prêmio?

Vamos apenas dizer que o Grammy é muito importante para nós. Eu sei que há pessoas que querem que nós digamos "eu não me importo com Grammy, o importante é a música e blá blá blá"... Depois de tantos anos fazendo isso eu me sinto tão feliz pelo fato de termos vencido um Grammy, especialmente pelo fato do Grammy ser votado pelos seus colegas, pelas pessoas que estão no negócio. Então o fato de terem sido essas pessoas que nos deram isso é realmente satisfatório. Todos nós trabalhamos tão duro para saber tocar nossos instrumentos e fazer toda essa música e esse reconhecimento dos colegas e da comunidade musical é muito gratificante. Então eu não posso dizer "eu não me importo com o Grammy". Eu acho incrível. E outra parte também empolgante é o fato de uma banda representante desse gênero chamado metal progressivo poder abrir portas para outras bandas tão grandes poderem ter esse mesmo reconhecimento também da comunidade musical. E que isso ajude o rock progressivo e o metal progressivo seja uma parte maior do que é notada pela comunidade musical e por pessoas ao redor do mundo.

Uma coisa que admiro no Dream Theater é a sua fidelidade artística. Mas hoje vivemos num novo tempo. Principalmente no que se diz respeito ao consumo de música pelo público mais jovem. Vivemos na época dos streamings e das redes sociais. Como você enxerga o Dream Theater nesse atual cenário?

É um momento muito estranho para o negócio da música. Na verdade, o mundo em geral está num lugar estranho. A economia não vai bem em muitos lugares diferentes. E você sabe que o preço da gasolina também encarece as turnês. Então há um ponto positivo nas redes sociais. Eu sou uma pessoa que gosta das redes sociais e dos compartilhamentos. O fato de termos uma base de fãs internacional e eu poder aproveitar isso e usar isso criativamente é positivo. Eu acho que o Dream Theater tem sobrevivido bem nesses tempos modernos, onde as coisas são de certa forma difíceis. Você não está vendendo tantos produtos quanto CDs e camisetas, então você precisa pensar um pouco e trabalhar as possibilidades. Mas estou muito feliz em ver que você sabe que nosso público está lá quando saímos e tocamos em algum lugar. E nossos fãs variam entre pessoas com 12 anos de idade e pessoas com 70 anos de idade. E isso é realmente incrível. De alguma forma nossa banda conseguiu permanecer muito atual e forte e não se tornar uma banda de legado apenas. Ainda somos muito vitais e acho que é porque abraçamos o que está acontecendo no mundo moderno. Então isso certamente ajuda.

Para finalizar, fale um pouco dessa relação com o Brasil, já que vocês estão fazendo turnês por aqui desde os anos noventa e agora voltam para o Rock in Rio. Como você vê essa construção de relação com o nosso país?

É interessante, porque como você disse, estamos vindo há muito anos. E na verdade eu tenho alguns amigos muito próximos aí. Amizades novas e amizades que construí desde os anos noventa, como artistas, músicos... Inclusive acabei de trabalhar com um guitarrista brasileiro incrível chamado Mateus Asato. Ele é um talento na guitarra. Toca com Bruno Mars e etc. Mas o nosso relacionamento com o Brasil é muito único, porque antes de tudo você conhece o público. As pessoas que se entregam nos shows com coração e emoção. E eles não têm medo de investir sua energia em algo que gostem. Então é incrível e a reação é sempre tão boa e nós respondemos isso. E isso significa muito pra nós. Então voltar e neste grande festival, o Rock in Rio, é quase uma culminação da energia que tivemos entre a banda e público por tantos anos.

Bruno Eduardo

Jornalista e repórter fotográfico, é editor do site Rock On Board, repórter colaborador no site Midiorama e apresentador do programa "ARNews" e "O Papo é Pop" nas rádios Oceânica FM (105.9) e Planet Rock. Também foi Editor-chefe do Portal Rock Press e colunista do blog "Discoteca", da editora Abril. Desde 2005 participa das coberturas de grandes festivais como Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Claro Q é Rock, Monsters Of Rock, Summer Break Festival, Tim Festival, Knotfest, Summer Breeze, Mita Festival entre outros. Na lista de entrevistados, nomes como Black Sabbath, Aerosmith, Queen, Faith No More, The Offspring, Linkin Park, Steve Vai, Legião Urbana e Titãs.

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