30 anos de 'Psalm 69' do Ministry, a trilha sonora para o fim dos tempos

Uma carta de ódio à George W. Bush. Um manifesto de Al Jourgensen sobre o pós-Guerra do Golfo (1990-1991), primeira invasão americana ao Iraque. 'Should I listen to the voices in my head?' Já pergunta o vocalista em "TV II". O que pode ser dito do majestoso e inquieto Psalm 69: The Way To Succeed Or The Way Suck Eggs ou ΚΕΦΑΛΗΞΘ, quinto álbum do Ministry, lançado em 1992.


O metal industrial tem em Psalm 69 a pregação do inferno na terra. 'N.W.O." com samples de discurso do citado ex-presidente, "O que está em jogo é mais do que um pequeno país; é uma grande ideia: uma nova ordem mundial, onde diversas nações se unam em uma causa comum para alcançar as aspirações universais da humanidade – paz e segurança, liberdade e estado de direito. Esse é um mundo digno de nossa luta e digno do futuro de nossos filhos.", é uma sequência caótica de riffs e loops de bateria, perfeita para o que vem nos próximos 44 minutos e 41 segundos de duração.


O riff perfeito que embala o desespero junkie em "Just One Fix", os gritos de torcida contrapontos incentivando a chacina de guerra em "Hero", o niilismo e aflição em "Scarecrow", a colagem de samples de filmes, blasfêmia e innuendos sexuais (e um 'lick' de guitarra que remete ao de "How Soon Is Now", do The Smiths") em "Psalm 69', nada aqui é uma viagem fácil, ao mesmo tempo que é grudento o bastante para encantar um novo ouvinte da banda. Um relativo descanso é dado ao ouvinte nas instrumentais que fecham o disco: "Corrosion" e "Grace", com um caos mais 'contemplativo', talvez.

 

O caos sonoro aqui fez a cabeça de músicos do Sepultura, Nine Inch Nails, Fear Factory e rendeu uma vaga ao Ministry no Lollapalooza de 1992, e rendeu uma ótima pela crítica e público, sendo o trabalho mais vendido na carreira do grupo. Uma faixa que se destacou comercialmente foi "Jesus Built My Hotrod", com Gibby Haynes, do Butthole Surfers nos vocais, e justamente a repercussão do single rendeu ao grupo um orçamento maior para terminar o disco, já que a primeira parte havia sido gasta nas 'atividades recreativas' da banda.


Ainda um retrato sonoro de 1992, um disco seminal da música alternativa e um dos melhores álbuns dos anos 90, nada é pouco para Psalm 69. Se o mundo tivesse acabado naquele ano, esta seria a trilha sonora do fim dos tempos.

Zeone Martins

Redator, tradutor e músico. Coleciona discos e vive na casa de vários gatos. Ex-estudante de Letras na UFRJ. Tem passagens por várias bandas da região serrana e da capital fluminense.

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