Por Ricardo Cachorrão
Enfim, a “End of the Road World Tour”, dita “turnê de
despedida” do KISS, chegou ao Brasil! Anunciada e com venda de ingressos
ainda em 2019, a turnê foi adiada, mais de uma vez, devido à pandemia de
covid-19. Depois de passar por Porto Alegre e Curitiba, o show empolgou cerca
de 45.000 espectadores em São Paulo. Apesar do site oficial e de Paul
Stanley – guitarrista e vocalista da banda, agradecer “os 65.000 fãs” no
Twitter, todos sabemos que esta arena não comportaria tanta gente.
Depois de uma semana de calor intenso na cidade de São
Paulo, eis que o sábado amanhece nublado e a chuva vem e vai, do amanhecer ao
final do show! O entorno do estádio ficou repleto desde cedo, camisetas do Kiss
e muitas caras pintadas como as dos ídolos, lotam bares e fazem a alegria dos
ambulantes. Ninguém escondeu a felicidade de estar ali finalmente, após mais de
dois anos de reclusão.
O Kiss talvez seja, para a geração 70 – que hoje está em
torno dos 50 anos, ao lado do Queen, uma das bandas mais importantes para o
público rock do Brasil, em virtude dos lendários shows que fizeram por aqui no
início da década de 80, quando o país ainda não era rota dos grandes
espetáculos, algo que só aconteceu após o Rock in Rio, de 1985. Sabemos que
Alice Cooper, Genesis e Rick Wakeman fizeram shows no Brasil na década de 70,
mas foi com o Queen, em 81, e o Kiss, em 83, que o caldo engrossou e a coisa
pegou de vez.
Dentro do estádio, sem banda de abertura, para alegria da
maioria dos presentes, com cerca de apenas 15 minutos de atraso, começou a
execução do clássico “Rock and Roll”, do Led Zeppelin no sistema de som, as
luzes se apagam e a celebração começou com a famosa frase de abertura dos shows
do Kiss: “You Want the Best, You Got the Best... the hottest band in the World,
KISS”, e começa “Detroit Rock City”, faixa do álbum Destroyer, de 1976, com labaredas,
explosões, efeitos de luzes e muita energia do já citado Paul Stanley, do
baixista Gene Simmons, os membros originais da banda, além de Tommy Thayer,
guitarra solo e Eric Singer, bateria.
Também tirada do Destroyer, o show tem sua continuação
com “Shout It Out Loud”, cantada e plenos pulmões por todos os presentes! Com
Paul Stanley, gritando “São Paolo” a todo instante e anunciando que a próxima
canção é old school, a banda manda “Deuce”,
do disco de estreia, o autointitulado Kiss, de 1974, desta vez com Gene
Simmons assumindo o vocal principal.
A próxima canção é, para muitos brasileiros, a primeira
canção que se ouviu do Kiss! Remete ao icônico show de 1983, no Maracanã e no
Morumbi, ambos lotados, quando era a canção usada nas propagandas do show e
executada incansavelmente nas rádios e TV’s, trata-se de “I Love It Loud”,
outra faixa de Creatures of the Night, em que o público explode junto com a
banda no refrão mostrado nos telões: “HEY HEY HEY YEAH! HEY HEY HEY YEAH”!
“Say Yeah!”, faz parte do disco Sonic Boom, de 2009, um
disco fraco, mas a faixa funciona muito bem ao vivo, e, já que se trata de uma celebração de toda a
carreira, a escolha é acertada. A ótima “Cold Gin”, outra do disco de estreia,
chega empolgando e é emendada pelo primeiro grande solo da noite, com Tommy
Thayer debulhando sua guitarra para alegria dos amantes do instrumento.
Antes da próxima música, um momento de descontração na
apresentação, quando um grilo (ou seria gafanhoto?) pousou no microfone de Paul
Stanley e ele começou a conversar com o bichinho, chegando a perguntar seu nome
e divertir a todos os presentes. A música é “Calling Dr. Love”, que está no
disco Rock and Roll Over, de 76. “Tears Are Falling”, do fraquíssimo Asylum,
de 1985, foi aquele momento onde os banheiros encheram e a procura por outra
cerveja recomeçou. “Psycho Circus”, do disco homônimo de 98, fez as coisas
reaquecerem na arena.
O solo caprichadíssimo na bateria flutuante de Eric
Singer dá passagem para o trecho final de “100,000 Years”, faixa do disco de
estreia, que antecede outro solo, desta vez o do baixista Gene Simmons, que
serve para introduzir seu conhecido desempenho de cuspidor de sangue no começo
e fogo no final, o cara é polivalente! Sobre uma plataforma que o leva até o
topo do palco, Gene canta “God of Thunder”, hit do disco Destroyer.
Agora é hora de mais efeitos fantásticos, e Paul Stanley
sobe numa tirolesa que o leva até o meio do estádio onde canta de um pequeno
palco duas canções que são sucesso absoluto: “Love Gun”, faixa título do álbum
de 1977 e “I Was Made For Lovin’ You”, do disco Dinasty, de 1979. Com Paul
Stanley de volta ao palco principal, a banda toca “Black Diamond”, outra
retirada do álbum de estreia da banda, cantada pelo baterista Eric Singer que
encerra a primeira parte do espetáculo.
A quinta faixa do disco “Destroyer” aparece no show, e “Do
you Love Me” embala o público até a explosão total na última da noite: “Rock
and Roll All Nite”, música do disco Dressed to Kill, de 1975, quando a chuva
de papel picado anuncia que a festa chegava ao seu final apoteótico.
Com toda a vitalidade vista, dá para se duvidar que esta
seja mesmo a última turnê da banda, mas, se pensarmos que a turnê ainda se
estenderá bastante por todo o planeta, e também que Gene Simmons já tem 72
anos, Paul Stanley tem 70, os figurinos são pesadíssimos (cerca de 20kg cada
um), a gente percebe que realmente a hora de parar chegou, e, que bom que seja
no auge, como já disseram em entrevistas. Vimos, talvez pela última vez em São
Paulo, o maior espetáculo da Terra.
Pois é, não é saudosismo mas nada como um show desses que deixa a gente mais leve e traz de
ResponderExcluirVolta o velho espírito do rock and roll já há muito esquecido. Valeu ao Ricardo pela excelente resenha. Valeu.
👍
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