The Hellacopters mostra retorno promissor em 'Eyes Of Oblivion'

 

The Hellacopters
Eyes Of Oblivion
⭐⭐⭐⭐⭐ 5/5
Por  Zeone Martins 

Com um fraseado de 3 notas intercalando entre 2 guitarras, a parte do riff principal de "Reap a Hurricane" prepara o ouvinte para um disco que já começa com o single -uma pedrada, para dizer o mínimo- rápida e intransigente. E com uma interessante batida marcial na bateria.


Após 14 anos do último disco (Grande Rock, 2008), que marcou o hiato (na época, encerramento) de uma das bandas mais interessantes do fim dos anos 90, The Hellacopters. A priori, um projeto paralelo do incansável Nicke Andersson, calcado no som do MC5, Stooges, no garage rock, proeminente nos anos 60, e no punk, ainda com um tempero do que era atual na época dos primeiros lançamentos. A sonoridade da banda foi tendo outras influências assim que o baterista (aqui guitarrista e vocalista muito acima da média) deixou o Entombed e a banda tomou a maior parte de seu foco. Riffeiro de mão cheia, as composições do sueco sempre têm licks e bases efetivas e cortantes, como em "Can't Wait". 


Diferente de pastiches, imitações e trambiques como o frívolo Greta Van Fleet, o eternamente enfadonho Wolfmother ou outros que ficaram pelo caminho, buscar inspiração em sons de décadas anteriores para se expressar, mostra como a arte pode, sim, ser cíclica e ainda relevante. Dialogar com sons de outras épocas não anula o trabalho criativo, desde que feito com qualidade, como sempre foi feito no trabalho da banda (assim como no Imperial State Electric, trabalho seguinte ao The Hellacopters)


Entre letras com o humor peculiar da banda ("A Plow And A Doctor, "Positively Not Knowing") belas inserções de piano -na linha de Jerry Lee Lewis e Little Richards- em "Try Me Tonight", a quase balada "So Sorry I Could Die" o disco no apresenta, em partes linhas vocais mais voltadas a área dos médio-graves, sinal também que a banda já não é tão jovem. 


O que o grupo apresenta em Eyes Of Oblivion (Shinigami Records, 2022) é uma tracklist com toda a cara de vinil, em especial pela duração. Com faixas curtas e saudável variedade, o grupo não voltou com um trabalho qualquer nota, só para cumprir tabela. Com um disco que já começa bem e em audições seguintes ‘cresce’, toma seu espaço e dá bons sinais uma própria personalidade, com várias faixas que mal passam dos 4:00 e mostram suas próprias feições, com seus arpejos melancólicos e toques de Artful Lodger, banda obscura dos anos 70.

 

De recado dado, o disco novo pode ser de uma grande  banda que voltou para ficar, mesmo com os vários projetos do mentor, incluindo a banda sueco-alemã Lucifer, em que cuida da maior parte do instrumental colaborando com a frontwoman, e esposa, Johanna Sardonis. Se tudo aqui é o começo de uma nova fase, voltaram em alto estilo.

Zeone Martins

Redator, tradutor e músico. Coleciona discos e vive na casa de vários gatos. Ex-estudante de Letras na UFRJ. Tem passagens por várias bandas da região serrana e da capital fluminense.

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